Revista de Jornalismo ESPM - 28

14 JULHO | DEZEMBRO 2021 des de verificação de pontos críticos para surtos do vírus, protestos e desastres naturais aos quais, de outra forma, eles não teriam acesso. Pelas mídias sociais temos possibilidade de assistir a vídeos e ver fotos que são úteis, mas também perigosos se não forem verificados corretamente. RevistadeJornalismoESPM– Como você vê aatuaçãodo jornalistanas redes sociais? Elena – Acho que os jornalistas devemparticipar ativamente das redes sociais para fazer perguntas, monitorar as notícias de última hora, encontrar fontes confiáveis, solicitar dicas de notícias e compartilhar seu trabalho. Mas eles precisam lembrar que, quando expressam opiniões pessoais ou criticamoutras figuras públicas com suas próprias palavras (em vez de compartilhar artigos bem divulgados que oferecem fatos para expor delitos), podem torná-los e suas organizações de notícias vulneráveis a ataques. O Twitter, por exemplo, continua sendo uma ferramenta vital para jornalistas, mas, infelizmente, jornalistas podem se tornar alvos de grupos que os acusam de ter uma agenda política. Esses trolls da internet tentamdesacreditar os jornalistas e espalhar desinformação para promover suas próprias agendas. Revista de Jornalismo ESPM – Quais as possibilidades do YouTube e do TikTok para fazer jornalismo? Elena – Percebi durante o auge do movimento Black Lives Matters em 2020 que muitos vídeos de protestos e confrontos entre vizinhos, quenemsempreeramtransmitidos no noticiário da TV, ajudavam a mostrar oqueestavaacontecendonaqueles dias emuma escalamais ampla e tambémcomo o americano médio estava reagindo. Esse é o tipo de percepção útil para os jornalistas identificarem áreas geográficas e populações que podem oferecer uma visão mais ampla e profunda do clima político atual. Muitas agências de notícias se concentraram em grandes cidades como Nova York, Los Angeles, Minneapolis e Atlanta. Mas haviamuitacoisaacontecendoemcidadesmenores em todos os EUA que você realmente só podia ver no TikTok e no YouTube. Revista de Jornalismo ESPM – Grandes investigações jornalísticas, por meio de consórcios de mídias, têm colaborado para mostrar corporações e pessoas envolvidas em fraudes e corrupções. Comente sobre um desses trabalhos. Elena – O surgimento dos chamados “Facebook Papers” é de longe a exposição mais contundente do gigante da mídia social e de seu fundador, Mark Zuckerberg. Esses papéis incluem milhares de documentos internos obtidos por uma ex-funcionária do Facebook, Frances Haugen, e revisados por um consórcio de organizações de notícias. As entrevistas e reportagens adicionais desses repórteres ajudaram a dar ao mundo uma visão detalhada do que esta empresa sabia sobre o impacto do conteúdo enganoso e prejudicial nas sociedades ao redor do mundo. Revista de Jornalismo ESPM – O empreendedorismo é hoje uma possibilidade real para jornalista? Elena– Eu acredito que é possível empreender com o treinamento certo, conhecimento digital, conteúdo forte e repórteres competentes. Um bom exemplo disso é o podcast Radio Ambulante, cofundado por nosso professor Daniel Alarcón e sua esposa Carolina Guerrero, de sua casa em Oakland, Califórnia, em 2012. A ideia deles era produzir histórias longas da América Latina em espanhol. A ideia disparou e, em 2016, a Rádio Pública Nacional passou a ser distribuidora exclusiva da Rádio Ambulante, que já produziu mais de 200 episódios em mais de 20 países e tem mais de oito milhões de downloads por ano. Daniel Alarcón ganhou recentemente uma bolsa de US$ 625.000 da Fundação MacArthur, também conhecida como “Genius Grant”, para inovadores criativos. Acredito que essa conquista inspira outros a seguir seu exemplo. Revista de Jornalismo ESPM – Em relação aos novos modelos de negócios de mídia, o que deve prosperar. Elena – O trabalho colaborativo entre organizações de notícias, sites investigativos sem fins lucrativos e escolas de jornalismo como a Columbia provaram que são modelos promissores na cobertura de notícias locais em particular. Nossos bolsistas de pós-graduação no jornalismo investigativo da Columbia têm conseguido realizar um trabalho impactante com parceiros profissionais, especialmente na área de acesso de eleitores, impacto das mudanças climáticas e condições de trabalho de auxiliares de saúde domiciliar. ■ ENTREVISTA ELENA CABRAL

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