Revista de Jornalismo ESPM - 28

28 JULHO | DEZEMBRO 2021 comoprograma dessa quinta-feira”, tuitou. É bem possível que a grande proposta de valor de DeFranco seja a capacidade de entender a cabeça de seu público – e a disposição a se ajustar a ela. Fazerseutrabalhosemterdeseater a limitações impostaspelos senhores damídia temapeloóbvio,masédifícil ganhar escala. Para a coisa dar certo, talvez seja inevitável contar com o apoiodealguma instituição–oucriar a sua própria organização. Foi o que fez DeFranco. Exemplo de sucesso da carreira solo emnovasmídias, ele nãoconquistousua imensabasedefãs por conta própria. Em2012, quando apresentava o SourceFed, DeFranco tinha uma equipe de nove pessoas e recebia uma verba doGoogle; agora, nos créditosdoThePhilipDeFranco Showaparecemaomenos 13pessoas. Umassessor confirmouque, antesda pandemia, havia 30 funcionários na folha de DeFranco, que hoje inclui a Rogue Rocket, uma produtora fundada por ele em 2017. Nada disso é exatamente segredo paraseus fãs: “Seiquetemumaequipe de apuração, que ele dá os links, dá créditoàs fontes”, comentaAllisonDe Jong, 25 anos, que assiste DeFranco à noite, enquanto come. Mas, ainda assim, o simples fato de ele ter uma equipe acaba comqualquer ilusãode que o YouTube – ou qualquer outra plataforma–éummeiopeloqual um totaldesconhecidopossatercertodestaque agindo sozinho. Omercadode jornalistas/influenciadorespertence, nomomento, aprofissionais–agente com meios para operar a alta capacidade e comtraquejopara administrarocomplexorelacionamentocom poderosíssimasempresasde tecnologia. “DeFranco já fez muita coisa, já atuou emvárias áreas, já usou vários formatos”, comentaWeiss. DeFranco também já falou que é bem possível que o YouTube não seja seu lar para sempre. Em 2016, a pedido dos anunciantes, o YouTube mexeu no sistema de monetização de vídeos, desativando anúncios em canais que não considerava “adequados para anunciantes” ou cujo conteúdo tivesse “violência” ou “linguagem imprópria”, por exemplo. A malha fina, feita por inteligência artificial, era expressamente voltada a discurso de ódio de direita e material sexualmente explícito, mas criadores como DeFranco, que soltam palavrões nos vídeos e falam de temas polêmicos, caíramna rede. Meios de comunicação tradicionais com canais no YouTube não sofreram o mesmo impacto. “Já vi canais sendo bloqueados agora por falar de depressãoecontraobullying”, reclamou ele à Vox. “E também vi canais como aCNNmostrando imagens de um garoto sírio coberto de sangue, depois de ter a casa supostamente bombardeada, ao ladodeumsingelo vídeo de um anunciozinho de tênis. Então, fica a pergunta: ‘Por que eu e não eles?’.” DeFrancoasseguraaindaquealgumas de suas postagens não aparecem mais nas homepages personalizadas da plataforma para cada usuário e classificou asmedidas doYouTube de “uma forma de censura”. Noprimeiromês da onda disciplinadora do YouTube, a receita publicitária deDeFranco caiu 30%. Emum comentário feito à época, oYouTube declarou que não mudara a política oumétodos de fiscalização das normas, mas admitiu que houve “certa confusão”. No fim de 2017, Susan Wojcicki, CEO do YouTube, tratou da polêmica em um longo comunicado, prometendoqueaempresa tentaria “fazermais curadoriamanual” (o YouTube não quis se manifestar para esta reportagem). A natureza da limpa parecia ser um sinal de que o YouTube tinha o desejode fazermoderaçãodevídeos, mas achou melhor não assumir um papel editorial e deixar a questão para anunciantes. “OYouTube adoraria regenerar omodelo de difusão – em outras palavras, de achar uma maneira de canalizar grandes audiências para uma seleção reduzida de vídeos a fim de maximizar seu lucro”, explica Socolow. “Um dos maiores problemas que o YouTube DeFranco, um homem branco, se deu bem no meio noticioso e optou por evitar o rótulo de “jornalista”. Seu perfil no Twitter diz algo como: “Meu trabalho é falar do que acontece e tornar a notícia digerível” Texto publicado na edição impressa da Columbia Journalism Review (spring 2021), disponível emwww.cjr.org QUEM | QUANDO | COMO | ONDE | POR QUÊ E O QUE ESTÁ POR VIR. . .

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