Revista de Jornalismo ESPM - 28

30 JULHO | DEZEMBRO 2021 por savannah jacobson na última década, emmeio ao declínio do jornal físico e à ascensão do clickbait, muitos jornalistas andaram se fazendo a mesma pergunta: como levar as pessoas a ver nosso trabalho? A interação com o público se converteu em um aspecto fundamental, embora ainda subestimado, emmuitos meios. É, também, onde parte das iniciativas mais criativas do setor vem ocorrendo. Lá em 2014, quando quis fazer uma reportagem sobre hábitos de sono, a emissora de rádio pública nova-iorquina WNYC criou um aplicativo que fazia 20 perguntas a ouvintes sobre a quantidade e a qualidade de seu sono; mais de 2.600 responderam. Quando, em 2017, a ProPublica abriu uma sucursal para cobrir o Illinois, a redação fez uma parceria com um teatro comunitário para fazer oficinas e travar contato com moradores de diferentes regiões do estado. Em 2019, o Radio Ambulante, um podcast voltado à América Latina, criou Clubes de Escucha (“clubes de escuta”) para reunir o público em pessoa para ouvir e conversar sobre o programa. Em 2020, uma sondagem do Pew Research Center revelou que 53% dos adultos americanos recebiam notícias via mídias sociais “com frequência” ou “às vezes”. Não surpreende, portanto, que cada vez mais jornalistas estejam rumando para plataformas digitais —não só para ir aonde o público está, mas para tentar conter a propagação do falatório conspiratório. Essas iniciativas não servem só para ampliar ou chegar a um público. Também tornam o jornalismo melhor. Anos atrás, um relatório da CJR constatou que, “embora decisões de muitos jornalistas sejam tomadas Entrega especial Nestes novos tempos do jornalismo, a notícia irá aonde o povo está com o leitor em mente”, esses jornalistas tendem a enxergar o consumidor de seu trabalho como uma “abstração imaginada, desfocada, surgida de suposições arraigadas, de mitos das redações e de inferências imperfeitas”. É possível que, em certos veículos, essas velhas noções ainda prevaleçam. Hoje, no entanto, um grande número de jornalistas já tem uma interação com o público que é dinâmica, responsiva e capaz de levar a informação aonde ela deveria chegar. Serviços de mensgens De noitinha, NigelMugamu, umjornalistanoZimbábue, usaoWhatsApp para distribuir um “e-paper” com as notícias do dia. Com seumeio de comunicação, o 263Chat (uma alusão ao código de discagem internacional do país), Mugamu pretende promover um diálogo cívico progressivo e, como disse ao Jamlab – umprojeto de jornalismo focado na inovação na mídia africana –, aplacar “a sede de informação e conhecimento de gente de baixa renda que não tem condições de comprar um jornal todo dia”. EmNova York, omeioDocumented usa o WhatsApp para manter assinantes que falamespanhol a par das últimas sobre o tema da imigração. EmDetroit, quemmanda uma mensagemcomo texto “Detroit” ao número 73224 recebe, da Outlier Media, informações sobre questões de moradia – e, ultimamente, Covid-19. Esses modos de comunicação servem para recordar que a função do jornalismo é, no fundo, informar o público – e que talvez não haja melhor linha direta com o leitor do que mandar breves linhas pelo celular. QUEM | QUANDO | COMO | ONDE | POR QUÊ E O QUE ESTÁ POR VIR. . .

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