Revista de Jornalismo ESPM - 28

64 JULHO | DEZEMBRO 2021 oprocessodetransformaçãodigital pelo qual inúmeras indústrias e serviços passaram nas últimas décadas foi tão impactante que diversas dúvidas sobre o futuro, naturalmente, surgiram. Efoi assimno jornalismo.A mudançadaplataformadeproduçãoe consumo,dofísicoparaodigital, levou ao fechamentode redações, descontinuidade de títulos tradicionais emuitas demissões. Domesmomodo, inúmeros outros veículos surgiram, mais segmentados,compropostasinovadoras,demandandomuitosprofissionais das áreas criativas e de sistemas, mas tambémmuitosjornalistasparasuprir ademandadeconteúdocomqualidade. Aquestãocentralquemoviaemove ojornalismocontinuasendoamesma,o desejoeanecessidadequenóshumanos temosdeinformação;queremoseprecisamosestar informadosparatermos melhorescondiçõesdesobrevivência, paranosprotegermos,paratomarmos melhores decisões, nos entretermos e para evoluirmos como seres sociais. A curiosidade é um grande estimulador do jornalismo tanto na produção, quantonoconsumo.Noconsumomidiático, para dar conta da curiosidade, a essência é a capacidade de atração do conteúdo.Antes eraumbomtexto, de tema relevante, com uma excepcionalmanchete;hoje, tudoissocontinua valendo, mas também pode ser uma imagemespetacular, umsignosonoro que desperta a atenção e o interesse; com a sobreposição de linguagens, a permeabilidade e o transbordamento das mídias, as possibilidades são ilimitadas. Na produção, a curiosidade, é o motor propulsor da pesquisa que deve sempre embasar uma boamatéria, um excepcional conteúdo – tanto apesquisateórica, emdadossecundários,quantoapesquisaempírica, ajoia do jornalismo. Diante do excesso de informaçõesdisponíveis,ojornalistaé aomesmo tempo produtor e curador, organizando,priorizandoedandovisibilidadeaoqueémaisimportante,atuandonaseparaçãodo“joio”do“trigo”. Claro, para essa função de curadoria, impõe-se competência com experiência destacadas, que se expressam na legitimidade institucionalizada de umveículo oude umamarca pessoal. Também a vigilância do poder público e de toda a sociedade continuasendopartedaatuaçãosocialepolíticadojornalismonaatualidade, redobra-sede importância comanecessáriaeurgenteaçãodecombateàdesinformaçãoeàsfakenews.Oempoderamentodo indivíduo e as diversas possibilidades de expressão disponíveis favorecemacriatividade,mas igualam manifestaçõesopinativasàinformação científica, produzindo narrativas dissimuladas que podem produzir efeitosdestrutivosemdiferentesâmbitos. Ojornalistasemprefuncionoucomo uma espécie de olho hiperbólico que permitia aos leitores acompanhar os grandes momentos do mundo atravésdele,dissolvendoasdistâncias,nos aproximandodosfatos.Ojornalistano campo,captavaeprojetavaparanóssua vivênciaemimagens,palavras, sonoridades,depoimentos,oquetínhamosde maispróximodaubiquidade.Estafunção-olhocontinuasendofundamental namediaçãodoindivíduocomoglobo, ampliando seus horizontes, possibilitandoacesso, formandoopinião,agora commuitaspossibilidadesexpressivas na simultaneidade dos tempos e erosão dos espaços. CREDENCIAL CLOTILDE PEREZ E DORINHO BASTOS Como será o amanhã? Outravertentequesemantémespecialmente relevantenosdias atuais éa funçãocomunitáriadojornalismo.Em seucaráterpúblico,cabeaojornalismo o apoio ao cidadão, quer por meio da disponibilizaçãodeinformaçõesúteis, querpormeiodedenúnciaseacompanhamento da busca de soluções. Em um país de tantos desníveis sociais, o jornalismo comunitário se reveste de cidadania, ainda a ser alcançada por milhões emnosso país. Neste breve percurso sobre as funçõesdo jornalismoantes ehoje, podemos vislumbrar o amanhã desta profissão na certeza da sua total relevância. Precisaremos de mais e mais jornalistas. Como consumo de informaçãodiversificado, transmidiáticoepersonalizado, novosdesafios se impõem aos jornalistas, o que poderá ser solucionado pela oferta de uma formação mais abrangente sobre as possibilidadesdepesquisanasmaisdiversasregionalidadescientíficas–fundamentode sua atuação, mas também acerca das infinitas potencialidades de expressão dos conteúdos, transbordando as margens do texto, seguindo as lógicas digitais, dasmúltiplas linguagens e do novo paradigma algorítmico. ■ clotilde perez é professora titular da ECA-USP dorinho bastos é arquiteto, cartunista e professor dos cursos de graduação e pósgraduação da ECA-USP, da FIA/Fundação Instituto de Administração, do INPG e da Sustentare/Escola de Negócios

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