REVISTA_de_JO_ESPM 20

46 JULHO | DEZEMBRO 2017 O que mudou nos cursos da Columbia Journalism School, considerando essas novas necessidades de conhecimento que o jornalista demanda hoje? Adaptamos e mudamos o nosso currículo: passamos a ensinar mais sobre mídias sociais e distribuição, além de oferecer a oportunidade de o jornalista aprender novas habilidades em ciência de dados e computação aplica- das às redações. Lançamos um curso Master, no qual os alunos passarão o verão todo estudando computação e ciência de dados antes de entrar no programa de jorna- lismo. Também temos programas de pesquisa e inova- ção que procuram engajar os estudantes em tecnologias que oferecemnovas formas de contar uma história. Outra grande mudança foi que dobramos a nossa carga horá- ria de ensino de jornalismo investigativo, pois acredita- mos que, no mundo de hoje, o jornalista precisa saber se destacar e gerar valor indo mais fundo na notícia. Para instigar os alunos nesse sentido, todos os nossos cursos passarama oferecer conteúdo de reportagembásica, mas também todas as técnicas de reportagem investigativa e de jornalismo de dados. Os jornalistas mais antigos terão que voltar à escola? Nomeu entendimento, teremos cada vezmais equipes colaborativas com perfis que se complementam. Existe muito espaço para os jornalistas investigativos à moda antiga exercerem o seu trabalho de apurar, identificar fontes e lidar com situações de risco. A demanda pelas qualidades dos jornalistas experientes não desapareceu. Mas haverá mais colaboração com jornalistas com capa- cidade de trabalhar com dados e novas tecnologias. Significa, então, que os serviços de fact checking, ou che- cagemde fatos, são uma novidade importante para enfren- tar o avanço das fake news ? Fact checking será umtema de debate público a respeito do jornalismo que vai perdurar por algum tempo ainda. As técnicas de fabricação de notícias falsas e de pós-ver- dade por interesses comerciais ou políticos, como vimos nas eleições de 2016 [nos Estados Unidos] ou no Brexit, só devem piorar, de acordo com a maioria dos profissionais do vale do Silício. Estados e outros atores continuarão a investir em técnicas, como inteligência artificial, para parecer humanosmesmo emmensagens totalmente auto- matizadas. Um desafio para todo mundo, mas, principal- mente, para os jovens repórteres, que terão de checar as próprias informações e editar a si mesmos, semmentoria ou suporte de jornalistas mais experientes. Por que isso? Quando comecei, tive a sorte de trabalhar emuma reda- ção estável, que dava oportunidade aos jornalistas mais jovens para se desenvolver e aprender o ofício, sabendo que muitos desses profissionais ficariam ali por mais 20 ou 30 anos. Então, a empresa tirava proveito da experiên- cia que esse profissional adquiria ao longo do tempo. Hoje, você pode ter experiências excitantes, mas não encontrará esse tipo de estabilidade. Jovens profissionais terão que aprender a se virar sozinhos sem uma rede de proteção. Bloggers, vloggers e youtubers alcançamaudiências enor- mes, com as quais os jornalistas convencionais jamais sonharam. A nova geração de jornalistas deve se manter dentro dos seus limites ou fazer parte desse fenômeno? Acho que as duas situações são verdadeiras. A revolu- ção digital derrubou as barreiras de entrada para escri- tores e editores, fazendo algo incrível pela diversidade e criatividade. Você não precisa mais ser um jornalista ou ter uma licença de rádio ou TV para ser ouvido. Mas, para os jornalistas profissionais, as empresas de mídia foram lentas emnotar e adotar essasmudanças. Empara- lelo, criou-se uma grande confusão para identificar quem é ou não é jornalista de fato. Muitos países democráti- cos – e certamente os Estados Unidos – questionam essa legitimidade, porque isso envolve uma série de direitos e privilégios constitucionais que os tribunais de justiça garantiram aos jornalistas, como a preservação de sigilo da fonte ou o direito de divulgar documentos públicos contra a vontade do governo. Esse reconhecimento do papel do jornalista não se perdeu? Ele ocorre dentro do pressuposto de que o jornalista profissional irá reportar a notícia de maneira acurada, justa e imparcial contra umdeterminado atode corrupção, benefício de umpolítico ou desvio de dinheiro destinado à população. Então, quando você pergunta quemé ou não jornalista, você está questionandoque tipode trabalho essa pessoa está fazendo, qual o caráter e a qualidade daquele trabalho e se a coleta de fatos tem visão dirigida ao inte- resse público. Por isso eu vejo que o jornalismo profissio- nal ainda cumpre um papel poderoso. Jornais como The Washington Post e The New York Times passam por um verdadeiro renascimento, pela defesa dos valores éticos nessa nova administração [do presidente Donald Trump] . A liberdade de imprensa e de expressão está sob ataque nos Estados Unidos, com a ascensão de políticos autoritários

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