Revista de Jornalismo ESPM - 28

26 JULHO | DEZEMBRO 2021 milhão de seguidores) fala de política com uma pegada de esquerda no Twitch. Ultimamente, até grandes meios de comunicação parecemquerer “humanizar” umpouco seus jornalistas, dando mais transparência ao processo de apuração e ao posicionamento narrativo para, com isso, tentar ganhar confiança – e não perder terreno. Muitos jornalistas interagem com seguidores no Twitter (às vezes boa ideia, emgeral não) ou mostram como é seu trabalho, como fazDavidFahrenthold, do Washington Post, que posta fotos de seublocode anotações àmedidaque vai ticando para quem já ligou e do material coletadoemsuasapurações. O NewYorkTimes temoTimes Insider, quemostracomoéoprocessode decisãoeditorial do jornal. Aopinião deDeFranco, quandooassuntoéesse contato com o público, é franca: “Já deixeimuitagentebrava, e tudobem. Minha esperança é ter estabelecido uma relação comas pessoas emque não há nada de mal nisso: que sou seuamigoouumapessoa comquem você temumarelaçãocordial epodemos falar de coisasmesmo semestar necessariamente de acordo”. Toda essa confiança trouxe dividendosparaDeFranco. Seuspatrocinadores – Squarespace, Get Roman, NordVPN – compram cerca de um minuto de propaganda anunciada pelo próprio DeFranco em seus vídeos.Eapublicidadecomeleparece surtir efeito: depois dedar umanúncio da BetterHelp, um serviço de terapia on-line, um fã tuitou: “Acabei de agendar uma terapia on-line na BetterHelp bc, Philip Defranco recomenda e coloco minha mão no fogo por esse cara”. Alémdamercadoria ligada aoprograma, DeFranco tem uma linha de produtos para o cabelobatizadadeBeautifulBastard. Tem conta no Patreon, é claro, com duas opções de assinatura, por US$ 5 ou US$ 10 ao mês. Embora não se saiba ao certo qual seu patrimônio, em 2019 DeFranco pagou US$ 4,1 milhões por uma casa em Encino, Los Angeles: uma propriedade cercada de palmeiras, oculta de olhares curiosos, com“guesthouse”, piscina e quadra de tênis – e uma sala decinemaque, segundodescriçãoda revista Variety, tem“poltronas reclináveis estofadas em um veludo vermelho particularmente vívido e um forro de fibra ótica feito para imitar um céu estrelado, algo jamais visto emLos Angeles”. Obviamente, o patrimônio de DeFranco não representa, nem de longe, a situação financeiradamaioria dos jornalistas independentes, ou mesmo de muitos deles (ampla, a categoria inclui de tudo: analistas, comentaristas,gentequefazpodcasts, que tem Substack, com um número decente de seguidores no Twitter). Perguntei aMichael Socolow, especialista emhistória damídia naUniversityofMaine, sehavia algumprecedente para a fama de nicho que se vê nas plataformas de hoje. A era de ouro do rádio, talvez? Socolow não comprou a ideia: “A radiodifusão é um meio ‘push’, no qual você leva o que faz a milhões. Já o YouTube, assim como a TV a cabo, seria um meio ‘push’, pois as pessoas precisamir até você.”Emoutras palavras, para se garantir financeiramente no mercado de mídia balcanizado de hoje, conquistar um público fiel é fundamental. DeFrancolevouanosparachegarlá. SuaestreianoYouTube foi emsetembro de 2006. Partiu do zero, criando umacontacomonome“sxephil”com o expresso interesse de discutir o que chamou de “newsie type stuff” – ou seja, qualquer coisa que parecesse notícia. Lá no começo, pedia doações dopúblico,alegandoqueestavaduroe precisava juntar uma soma suficiente parairdecarroatéaFlórida.Emmeadosdoanoseguinte, paratentaratrair mais audiência, postou o vídeo “Big Boobs andYou” como thumbnail dos seios de umamulher. Foi umsucesso. Teve 1,8 milhão de visualizações e tornouDeFranco – “umcomediante libertino do YouTube”, na descrição Pesquisas feitas pelo Edelman Trust Barometer apontam queda de oito pontos na confiança na mídia tradicional em escala global durante o ano de 2021 QUEM | QUANDO | COMO | ONDE | POR QUÊ E O QUE ESTÁ POR VIR. . .

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