Revista de Jornalismo ESPM - 28

40 JULHO | DEZEMBRO 2021 andpeopleof color). “Achoqueéocontrário: não sei, usar suaprópria identidade para tentar entender aquilo que está cobrindo só pode, emmuitos casos, aprofundar suacapacidade de cobrir [omaterial] comempatia e correção.” Muitas vezes, essa é a única maneira de chegar aos fatos – como quando a repórter Suki Kim se fez passar por professora emuma instituiçãodeensinodeelitenaCoreiado Norte. O risco era grande: emgeral, americanos nascidos na Coreia do Sul, como Kim, são severamente punidos quando flagrados em atividades subversivas. Kim levou três anos só para conseguir o posto, na Universidade de Ciência e Tecnologia de Pyongyang, onde passou seis meses documentando meticulosamente a experiência para um livro, Without You, There Is No Us: UndercoverAmong the Sons ofNorth Korea’s Elite (2014). No final, ela saiu com uma visão da Coreia do Norte que talvez seja totalmente singular — diferentemente da atividade de jornalistas de meios como CNN e Associated Press, que só têmacesso a amostras do que é a vida ali encenadas e aprovadas pelo regime, o dela foi um relato vívido, em primeira mão, sem retoques “É difícil explicar, mas só porque você está sob disfarce não significa queestámentindo”, disseKim. “Quer dizer, você precisa fingir ou usar algumartifíciopara receber umconvite para um mundo fechado e que temuma razão para ser fechado, em geral por ser corruptoe injusto.”Uma vez sob esse disfarce, acrescentou, é importante usá-lo com cuidado – para fazerbemseutrabalhoenquanto desempenha esse papel. Afinal, isso significa uma gestão prudente de fontes. “Para realmente viver aquela vida e colocá-la em palavras, é preciso entrar de coração nisso”, disse. “Só assim você consegue se proteger e proteger os outros.” Gravar ou não… Eis a questão! Emcertos casos, amelhor narrativa surge quando se resiste a categorizações, quando o jornalista se deixa conduzir pelas fontes para ver até onde pode chegar. JohnWilson não é umjornalista, exatamente falando, embora aquilo que o How To faz possa ser visto como a cobertura do mundano e, aqui e ali, do absurdo – quando faz poesia de cenas do cotidiano e de humor visual (o par de sapatos semdonoesperandoometrô chegar; o sujeito arrastando na calçadaumar condicionadopelo cabo). Emdezembro passado,Wilson participou como convidado de umprograma de variedades no YouTube, o OfficeHours Live, apresentado pelo comediante surrealista TimHeidecker. Wilson, 34, entrou por Zoom, de sua casa no Queens. Vestia uma camiseta branca, óculos de armação redonda e uma barbinha curta. Tinha a cabeça raspada edescoberta; quando em campo, às vezes ele usa um boné que diz PRESS. Duranteumtempo, a entrevista se limitou ao esperado: dois apresentadores admirando o trabalho um do outro, falandode amigos emcomum domeioartístico, comentandoas origens e a popularidade do How To (segundo a revista Vanity Fair, foi o melhor programa da TV americana em2020). Até que umprodutor sentado logo atrás de Heidecker fez a seguinte pergunta: “E como você é capaz de mostrar toda essa gente?” Quem já viu o How To sabe que “essa gente” pode se referir a uma de duas categorias: a primeira é a de indivíduos filmados ao acaso nas ruas deNova York, onde a produção se baseia: é a pessoa semcamisa, ou de rosto fechado, ou que simplesmente não está no melhor dos dias. “Se você não estiver dizendo nada ruimsobreapessoaousugerindoque esteja fazendo algo que não está, em geral não dá problema usar sua imagem”, explicaWilson. Há, depois, a categoria de personagens que têm a ver com o enredo de um episódio, em geral figuras tragicômicas que, tudo indica, querem falar à câmera ainda que o melhor, em seu caso, fosse não fazê-lo. Esse último grupo não se explica apenas pelo fato de que no estado Em1977, para investigardenúnciasdecorrupçãonagestãomunicipal, o jornal ChicagoSun-Times abriuumbar, oMirageTavern.No lugar, repleto decâmerasocultas, quematendiaos frequentadoreseramjornalistas QUEM | QUANDO | COMO | ONDE | POR QUÊ E O QUE ESTÁ POR VIR. . .

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