Revista de Jornalismo ESPM - 28

REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 41 de Nova York é permitido registrar áudio e vídeo semo consentimento de todos os envolvidos (o chamado “single-party consent”). No piloto do programa, Wilson vai a Cancún conferir a farra chamada “spring break”; lá encontra umrapaz, Chris, que em várias entrevistas parece embriagado e raramente diz uma palavra que, se fosse eu, gostaria de ver preservada para a posteridade. Chris não só assinou todos os termos de consentimento para aparecer no How To, mas se ofereceu para aparecer em primeiro lugar. Wilson estava filmando outra pessoa quando Chris se aproximou e pediu para falar à câmera. Comoqualquer jornalista esperto, Wilson tinha se instalado no lugar certo na hora certa para encontrar o personagem certo — e não parou de gravar. Foi um instinto burilado depois da faculdade, quando foi trabalhar para um detetive particular. “Tinha de assistir horas e horas de vídeo e tentar achar um momento incriminador que fosse emummar denada”, contou. “Aquilomedeixou mais perceptivo, comecei a notar detalhezinhos bizarros em tudo quanto é parte.” Esse trabalho também influenciou seu estilo. Wilson percebeu, por exemplo, que “filmar as pessoas deuma certadistância era muitomais natural”. Oespaço entre ele e o interlocutor cumpre, de certo modo, a mesma função que a identidade falsa de umrepórter sob disfarce ou uma câmera oculta: deixa espaço para verdades que, sem isso, poderiamnãovir à luz (“Quero fazer a antítese daquilo que geralmente se vê em qualquer reality show de TV ou em entrevistas de documentários”, disse ao The Believer recentemente. “É preciso saber manter uma certa distância para deixar que as pessoas se expressem com suas próprias palavras, ainda que seja estranho, pois não dá mais para ter uma noção de quem as pessoas são na mídia que a gente consome.”). Wilson e os produtores do programa aderem a um certo código de ética, embora muita coisa seja decidida caso a caso: “Cada tomada meioque passa por umcálculo complexo”, explicou. “É preciso somar o vídeo e o áudio, juntar tudo, para ver se a piada não é cruel.” De vez em quando, Wilson aceita não usar um determinado material – se os participantes não estiverem muito convencidos. “Nossos personagens acreditam muito na força da sua mensagem”, disse Clark Filio, produtor associado do How To. Essa filosofia pode lançar o How To em direções inesperadas. Um dia, Wilson resolveu fazer hora no estacionamentodoMetLifeStadium antes de um evento de luta livre, o WrestleMania 35. Levou, consigo, uma pergunta pensada de antemão: você acha que oMankind vai voltar? How to with John Wilson é uma mistura de cinema vérité com relato pessoal, que se dedica a explorar situações conhecidas de qualquer estudante de jornalismo sem acesso a fonte famosa e com dedline curto! ILUSTRAÇÕES: TIM MCDONAGH

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