Revista de Jornalismo ESPM - 28

46 JULHO | DEZEMBRO 2021 tentar descrevê-lo. Oprotagonista é FredSassy, umrepórter deTV—um deepfake—no estado americano do Wyoming, que patrulha a cidade de Cheyenne em uma van branca com ummalhetegiganteno teto, expondo golpes contra o consumidor. Zeloso, obstinado e perplexo com a tecnologia, Sassy tem o rosto de Donald Trump, o cabelo branco encaracolado de um Harpo Marx em idade avançada e umguarda-roupa de lenços no pescoço e estampas de zebra. O “episódio” de Sassy Justice a que me refiro é sobre a ameaça representada pela tecnologia do deepfake. “Como seres humanos, usamos os olhos para determinar o que é realidade”, começaFredSassy. “Exceto os cegos. Não sei bemcomo eles fazem.” Via Zoom, Sassy entrevista deepfakes de Michael Caine, Al Gore, o especialista em AI “Lou Xiang” (na verdade, JulieAndrews) e um Jared Kushner ainda menino que a Casa Branca colocou na direção do “Anti-DeepfakeClub” (Sassy: —Isso tudo deve ter umcusto. Oque o contribuinte está pagando? Kushner: —Ele disse que não é verdade. Sassy: —Quem disse? Kushner: — Meu sogrinho, Trump. Ele disse que oHolocaustonunca aconteceu.). Há um deepfake de Chris Wallace, da Fox News, entrevistando um deepfake de Trump, que tem um derrame diante das câmeras e lamenta os próprios pecados. Eumdeepfake deMarkZuckerbergnopapel do“Rei da Diálise” de Cheyenne. Resumindo: o deepfakemais bem feito na internet não é propaganda política, mas um programa jornalístico bizarro satirizando a histeria em torno de deepfakes. O problema é que a premissa do vídeo é minada por uma execução incrivelmenteboa. SassyJusticeéuma forma de entretenimento quase incategorizável e – salvo por um artigo no NewYork Times – foi pouco comentado pela mídia, como se a cultura não soubesse o que fazer com ele. Quando liguei para a prefeitura de Cheyenne, o assessor de imprensa dissequenunca tinhaouvido falardo programa e que teria de se informar. Além do mais, a matéria no New York Times tinha toda a cara de uma armação que levouumjornal sério a promover um estúdio de deepfakes que sequer existe. No artigo, Parker diz que Sassy Justice é o “vídeomais caro do YouTube já feito”, o queme levou a gargalhadas e foi dito, ameu ver, no espírito fraudulento do proO deepfake mais bem feito na internet não é propaganda política, mas um programa jornalístico bizarro satirizando a histeria em torno de deepfakes DeepfakedoscriadoresdeSouthParkzombadaderrotaeleitoral deDonaldTrumpnosEUA REPRODUÇÃO QUEM | QUANDO | COMO | ONDE | POR QUÊ E O QUE ESTÁ POR VIR. . .

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