Revista de Jornalismo ESPM - 28

REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 45 mada de “deep learning” — foi flagrado subindo vídeos manipulados na internet. Desde então, o potencial para uma nova escala de sacanagem(soltar umvídeo de umpolítico dizendo algo feio que não disse, por exemplo) ficou evidente. O que distingue o deepfake de outras formas de manipulação digital – tanto algo tosco feito no Photoshop como efeitos especiais sofisticados – é a inteligência artificial. Assimcomoo algoritmode redes sociais, odeepfake estuda a pessoa para imitá-la. Em maio de 2019, um sujeito no Bronx semgrandes conhecimentos técnicos soltou um vídeo da presidente da Câmara dos Deputados americana, Nancy Pelosi. O vídeo, cuja velocidade foi reduzida para que Pelosi parecesse bêbada, viralizou.Ofatode serum“cheapfake” tão tosco, aliadoaopendordoamericano a acreditar emqualquer coisa, gerou pânico–pelo dano que poderia ser causado por alguémque realmente dominasse a técnica do deepfake – sobretudo emumambiente político já polarizado, QAnonizado, onde a realidade de consenso perdia força. As implicações eramnefastas não só para a política, mas para a epistemologia básica. Poucodepois da apariçãodovídeo dePelosi,AdamSchiff, deputadopela Califórnia, convocou uma audiência sobre deepfakes. Meses depois, o Stern Center for Business and Human Rights, da New York University, soltou um relatório sobre desinformação que via no deepfake uma grande ameaça à integridade da eleição presidencial que se avizinhava. Não tardou para o Facebook banir deepfakes não satíricos e aCalifórnia aprovar uma lei como mesmo fim. ADARPA, uma agência do Departamento de Defesa americano, liberoumilhões emverba para o desenvolvimento de tecnologias de detecção de deepfakes e de ferramentas para determinar a identidade e a intenção de seus criadores. Até o final do ano passado, a Sensity, uma firmaespecializadanessadetecção, tinha catalogadomais de 85.000 deepfakes (ante cerca de 7.000 dois anos antes). Duas semanas antes da eleição presidencial, apareceuumdeepfake bemcaprichado.Nãoveiode alguma fazenda de trolls, mas daDeepVoodoo. Batizado de Sassy Justice, foi o primeiroprodutodoestúdio. Com14 minutosdeduração, éprovavelmente omaterialmais longo e sofisticado já produzido só comdeepfakes. Shales se disse contratualmente impedido de contar como foi feito, então vou SHUTTERSTOCK.COM

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