Revista de Jornalismo ESPM - 28

58 JULHO | DEZEMBRO 2021 desafiosdosnossos tempos. “Osmais jovens cresceramcomodigital ecom as redes sociais, enemqueremsaber de outras formas, é uma questão de conveniência, de controle, de acessar a informação como e onde querem. Algo muito interessante são os nativos digitais, os sub-25, paramuitos dos quais as redes sociais são a principal fonte de notícias, seja o Instagram, mais emais o TikTok ou outras plataformasmais jovens. Éali que eles passam o tempo e as organizações jornalísticas precisampensar em como alcançar essas pessoas usando algumas dessas plataformas novas”, salientouNicNewman, pesquisador-sêniordoInstitutoReuters, ligado àUniversidade deOxford, na Inglaterra. Ele coordenahá anos um levantamentomundial sobre amídia – que, em sua edição mais recente, ouviu 92.155 pessoas em 46 países. Ao analisar os resultados da pesquisa, Maurício Moura destacou outro aspecto interessante (que diz muitosobrenosso tempo, como também veremos logo mais): a busca das pessoas por opinião. “As pessoas gostam de compartilhar mais conteúdo que tem opinião, gostam de conversar com amigos e colegas sobre o tema, gostam de participar nos grupos. Talvez esta seja uma das maiores contribuições das plataformas, dar voz à opinião de todo mundo”, disse. Se, por umlado, esta amplificação de vozes proprocionada pela tecnologia contribuiu para democratizar a criaçãode conteúdo e adisseminação de informação, por outro, provocou uma avalanche de traumas, desafios e problemas. Quatro (38%) em cada dez pessoas, por exemplo, preferemnotícias acompanhadas de opinião que reforcem o seu ponto de vista – o chamado “efeito bolha”. Outros 24%preferemuma informação que permita mudar sua visão do fato. “Esta é a antítese da razão de existência do jornalismo”, falou Andiara Pertelle. “A razão de existência do jornalismo é trazer o dado puro, mesmo que tenha opinião dos dois lados, para a população ter aí a sua formação de opinião a respeito. Não estou buscando alguma coisa que fala o que eu quero ouvir, estou buscando fatos para formar minha opinião. Este dado falamuitoda cultura deste momento. E eu acho ele extremamente perigoso.” A preocupação da executiva do grupo RBS ganha mais relevância quando se leva em conta a facilidade de acessoproporcionada pelos novosmeios, quepotencializouadisseminação de conteúdo. Segundo a pesquisa do Ideia Big Data, 74%dos entrevistados admitiram que compartilham notícias recebidas pelas redes sociais, pela imprensa ou por meiodeconhecidos–15%fazemisto “sempre”, 18%“muitas vezes” e41% “algumas vezes”. Emrelaçãoaos serviços demensagem, 90%afirmaram que compartilham conteúdo – 16% “sempre”, 21%“muitas vezes” e 53% “algumas vezes”. Diante de tais dados, surge uma questãobásica: que tipode conteúdo está sendo compartilhado? Líder de ummovimento empresarial contra a desinformação, Luiz Chinanreconhecequeopúblico tem dificuldade de entender conceitos clássicos da comunicação. “As pessoas não sabem o que é um veículo de comunicação, não conseguem entender a diferença entre notícia, propaganda, publicidade e opinião, têmmuita dificuldade de separar os veículos que seguemprotocolos rígidos jornalísticos daqueles que não seguem, então tudo isso precisa ser ensinado”, diz. Conforme o levantamento, 94% dos entrevistados afirmaram que checam as mensagens recebidas. Para Maurício Moura, o dado carrega algum tipo de “autodefesa” ou “autopromoção”. Até porque, como observa Luiz Chinan, ou as pessoas não sabemexatamente oque e como “Muitos não sabem o que é um veículo de comunicação e não conseguem entender a diferença entre notícia, propaganda, publicidade e opinião... Então tudo isso precisa ser ensinado” ENQUANTO ISSO NO BRASIL...

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