Revista de Jornalismo ESPM - 28

REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 57 Há, pois, esperança. E os números da pesquisa comprovam isto. Praticamente nove (87%) em cada dez brasileiros disseram se interessar por notícia. A maioria (52%) se definiu como “muito interessado” e 35%, “interessado”. Outro dado relevante: 79% consomem notícias ao menos uma vez por dia. Olhados isoladamente, os números soamauspiciosos. Contudo, associados a outros dados desta mesma pesquisa e a comentários de observadores mais atentos, surgem espaçosparacontestações. “Primeiroprecisava jogar para esse público o que ele classifica de notícia”, observa o jornalista e desenvolvedor do projeto da Agência Estado no grupo O EstadodeS.Paulo, RodrigoMesquita. “O público fala de jornais como fala de Instagram, comparamcomFacebook, se confiam mais, se confiam menos... Nenhuma dessas estruturas sãogeradoras de informação, eles carregam informação. E a informação vem muito mais em função do interesse comercial que aplataforma tem em você do que de uma visão jornalística, uma visão de mundo, são coisas incomparáveis.” Interessenãosócomercial, político também, comomostraramrecentes escândalos mundo afora. Essa distinção entre informação produzida por profissionais, que seguem critérios rígidos de confiabilidade das fontes, mensuração da informação, etc., daquela oferecida por aventureiros digitais (e aqui não vai nenhuma crítica generalizada a youtubers e influencers, e sim aos que sabidamente usam as plataformas para desinformar) ficou ainda mais evidenciada na pandemia. O que coloca, talvez, umdos principais e credibilidade ficam em segundo plano, oqueajudaaexplicar emparte os problemas trazidos por esta escolha, como veremos adiante. Se, afinal, o meio é a mensagem, como teorizou o filósofo canadense MarshallMcLuhan, oqueestesdados relevam sobre nossa sociedade? “O nível de integração mental é muito maior do que a gente imagina. O cara assiste à TV tradicional no celular, no computador. Eestá cada vez mais difícil separar isto na cabeça das pessoas. Cada vez mais vai ser uma coisa só. É eu assistindo à TV Cultura no Facebook. E a pergunta é: isto é uma mídia tradicional ou uma mídia digital? Acho que é uma integração. A palavra integração é o forte da pesquisa”, resumiu o CEO do instituto, Maurício Moura, ementrevistaparao já citado documentário. E o que esta integração diz sobre o jornalismo?Quemdá uma pista é o jornalista e sociólogoMuniz Sodré: “Semdúvidanenhuma, aformapapel, o jornal empapel, tende a desaparecer, mas não o jornalismo. O jornalismo émais essencial do que antes. E o jornalismo na forma de intervenção da credibilidade dos eventos do mundo. Então, mais do que nunca, nósprecisamosdo jornalismo. Agora, o jornalismo entendido como John Dillon sugeriu uma vez, como uma grande conversa social. E esta conversa é pedagógica. Pode até ser divertida, mas ela é educativa. Portanto, o desaparecimento da forma papel não é o desaparecimento do jornalismo”. SHUTTERSTOCK.COM

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