Revista de Jornalismo ESPM

REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 7 convincentes quando se lança ao problema um olhar semiótico. Há uma diferença que deve ser estabelecida entre fake news e desinformação, dela resultando que ambas são complementares e não excludentes. Trata-se, portanto, de uma diferença que vai alémdamera predileção, por quaisquer razões, pelo uso de uma ou de outra Quando falamos em fake news, estamos falando do tipo de notícia em si que, traindo o que deveria ser notícia, reverte-a em falsidade. “Falsa” funciona, portanto, como um atributo negativo de notícia. Desinformação, por seu lado, apresenta um sentido distinto. Tanto é assim que se pode também dizer que as fake news são feitas para desinformar, quer dizer, a desinformação é o efeito produzido nos intérpretes quando afetados por fake news. Que ambas as palavras são complementares fica aí revelado. Tanto é que, quando os tipos de fake news e tipos de desinformação levantados pelos estudiosos são confrontados, eles coincidem, o que nos leva à conclusão de que criar oposições semânticas insustentáveis entre fake news e desinformação cria tropeços desnecessários que só atravancam o caminho da batalha. Além disso, há ainda um complicador: o que significa informação e seus verbos correlatos – informar e desinformar? Informação, no seu sentido científico original, é compreendida como uma grandeza física que não tem nada a ver com o universo dos significados que costumamos dar às palavras quando nos comunicamos. Por isso, em nossas conversações e discursos, o termo “informação” está carregado de ambiguidades. Se perguntarmos para as pessoas o que elas entendempor informação, as respostas só irão confirmar a vagueza com que é empregada. Ou seja, toma-se a palavra como se estivesse compreendida, mesmo tendo dela uma compreensão opaca. Em que sentido a palavra é tomada? Como sinônimo de saber, deconteúdo, deconhecimento, demensagem, de tema, de assunto? Existemtextos conceituais voltados para a discussão dessa questão, mas este não é o momento para seguir nesse caminho. O problema está colocado como um sinal de alerta relativo à nebulosa semântica que o termo “desinformação” empresta de seu antônimo “informação”. De todo modo, subsiste felizmente uma certa camada de compreensão que permite que ideias sejam trocadas quando a palavra “desinformação” é mencionada e seus efeitos discutidos. Passemos para o segundo tópico. Outra questão que costuma produzir tropeços no caminho do bem entender para melhor agir, é aquela que diz respeito à questão das mídias. Quando a palavra “mídias” é empregada, costumome perguntar, mas de qual mídia se está falando? Caso isso não seja discriminado, entramos, sem escapatória, em um outro nevoeiro semântico. Trazendo a questão para o contexto brasileiro, pois ela apresenta diferenciações geossemânticas bem demarcadas, até os anos 1990, “mídias” não fazia parte do vocabulário dos comunicólogos. SHUTTERSTOCK.COM

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTY1