Revista de Jornalismo ESPM - 28

24 JULHO | DEZEMBRO 2021 demia”. Comoeleconsegueequemé seupúblicodizumpoucosobrequem os Estados Unidos querem que seus jornalistas sejam. Antigamente, o arquétipo do jornalista era fácil de evocar: uma pessoa obstinada, supostamente objetivaeembuscadaverdade,meio fora de forma, intensamente ciosa de seu dever cívico—semnuncadeixar esse zelo transparecer. Hoje, no entanto, já não é essa a concepção que se faz do jornalista — que, dependendo do seu ponto de vista, pode ser um“inimigo do povo”, algum ideólogo alarmista defendendo ummodo de vida elitistaouoporta-estandartedeuma culturamonolítica, opressoraeclaramente nostálgica centrada emâncoras e escribas brancos. Logo, talvez não surpreenda que, apesar ou por causa da falta de experiência no jornalismo, DeFranco, um homem branco, se deu bem no meio noticioso e optou por evitar o rótulo de “jornalista”. Seuperfil noTwitterdiz algo como: “Meu trabalho é falar do que acontece e tentar tornar a notícia digerível”. Antes de virar um astro do YouTube,DeFranco,quenasceunoBronx, largou a faculdade e foi passar um tempo na Flórida, fazendo do carro a casa. Até ali, tinha tido uma vida familiaratribulada.Viviadebicos.Em velhas postagens em um blog (hoje disponíveis só no Internet Archive), pareciameiotoscoetinhaaquelamescladerevoltaerebeldiada juventude. De lá para cá, ganhoumais traquejo, embora tenhadeixadoclaropara seu público que quer ser visto, antes de mais nada, como um indivíduo, não como ummembro de uma profissão cujos índicesdeconfiançadespencaram nas últimas décadas. O Gallup, que há muitomede a fé decrescente do público americano na imprensa, revelouem2020quesócercade40% tinha “muita”ou“considerável” confiança na mídia; o Edelman Trust Barometer de2021 indicouquedade oitopontosnaconfiançanamídia tradicional em escala global. Nos Estados Unidos, entre os republicanos, a confiançana imprensa é amais baixa de todos os tempos. A vida como ela é! Opúblico jovemconsome jornalismo de um modo radicalmente distinto do de seus pais; segundo o Reuters Institute, o consumidor de notícias da Geração Z (de 18 a 24 anos) tem uma relaçãodébil comgrandesmarcas damídia tradicional e odobroda probabilidadedo restantedapopulaçãoadultadeusarplataformas sociais para se manter informado. Alguns dos canaisdenotíciasmaispopulares doYouTube são produzidos não por grandes organizações demídia, mas por estrelas independentes do YouTube (OtobongUdofia, umjovemde 19anos, assiste aoDeFrancohá anos: “Acho que o que gosto dele é ele ser informal”, disse. “Nãoé comoemum canal típico de notícias, com todo mundo de terno e gravata.” Udofia segue com DeFranco em parte por hábito: “Acho que é como a GeraçãoXe esses talk-shows noturnos”). DeFranconãoestáfazendocosplay comopapelde jornalista; elesabeque as pessoas o buscampor dizer o que pensa. Sob certo aspecto, ele segue o moldeclássicodocomentarista (WalterWinchell,RachelMaddow),dando a notícia de uma perspectiva conhecida. O que o torna um exemplar da nova geração, no entanto, é o tempo quepassa serevelandoparaopúblico em termos bem intimistas. Durante umsegmentosobreumapolêmicana internet envolvendo Lizzo e a “culturadadieta”, porexemplo, eleparou oassuntopara falar sobreseupróprio ganhodepeso. “Estoucomquase 120 quilos agora. E, mesmo sendo uma pessoa grandalhonha, mereço amor do mesmo jeito.” Emumpróximovídeo, postadoem outrocanal seu, voltadoàvidapessoal (“DefrancoDoes”),elefaloudoestrago que a pandemia causou na sua saúde mental. “Comecei a desenvolver um transtornoalimentar,acomercompulsivamenteedepoisvomitar”, revelouo jornalista-influenciador,contandoque tinha começadohavia pouco a tomar uma dose baixa de Lexapro. Contou ainda como a mãe batia nele quando criança e falouda recente reconciliaO Gallup, que há muito mede a fé decrescente do público americano na imprensa, revelou que em 2020 só cerca de 40% tinha “muita” ou “considerável” confiança na mídia QUEM | QUANDO | COMO | ONDE | POR QUÊ E O QUE ESTÁ POR VIR. . .

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