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ponto de vista

Revista da ESPM

| janeiro/fevereirode 2014

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Luiz Ernesto Gemignani

Competição ou

solidariedade

“Estranha é a nossa situação aqui na Terra. Cada um de nós

chega para uma breve visita, sem saber por quê, parece que

às vezes por um propósito divino. Do ponto de vista da vida

cotidiana, porém, existe uma coisa que sabemos de fato: que

estamos aqui pelo bem dos outros”

Albert Einstein

D

e uma visão estritamente mecanicista, do-

minante em boa parte do século 20, em que

as empresas eram comparadas a máquinas

e as pessoas a engrenagens, evoluiu-se nas últimas

décadas para a compreensão de que as organizações

são sistemas vivos, integrantes de sistemas sociais

complexos dos quais dependem e pelos quais são

responsáveis.

Essa visão disseminou-se de forma relativamente

ampla na sociedade, levando, entre muitas outras

iniciativas, à maior transparência das práticas empre-

sariais e à definição de novos e mais amplos critérios

para a aferição do desempenho das empresas.

Essas realizações representaram um significativo

progresso, que se traduziu em mudança para melhor

no comportamento das lideranças, dos investidores

e dos consumidores.

Ainda estamos longe, entretanto, de sermos a so-

ciedade da qual, efetivamente, nos orgulharíamos de

fazer parte. Com o propósito de estabelecermos uma

economia demercado que busca, por meio da liberdade

e da eficiência, o bem-estar de todos, acabamos nos

tornando uma sociedade de consumo, que precifica

tudo, fomenta a natureza predatória do homem, a

competição em todos os seus gestos e, principalmente,

banaliza as virtudes, entre elas a justiça, a generosida-

de, a humildade, o respeito pelo outro e o bom-senso.

Vivemos uma crise de valores, reconhecem todos,

mas nos recusamos a encarar o problema. “Vamos

levando”, como aquele que atravessa a ponte estreita

sem olhar para baixo para não cair.

Parece evidente que o que tem sido feito não é su-

ficiente e que precisamos encontrar novos caminhos

para atuar não apenas sobre o acessório, mas sobre o

principal, considerando o nosso planeta e o bem-estar

de todos os seus habitantes como a razão de ser final

da existência do próprio homem.

Essa mudança, que é do corpo e da alma, é profun-

da, mas não impossível. É equivocada a ideia de que

a biologia evolutiva defina a competição como a razão

da evolução das espécies. Pesquisas recentes reconhe-

ceram que a colaboração sempre esteve presente e foi

fundamental para que a nossa espécie evoluísse. Em

outras palavras, a colaboração, ou, se preferirem, a

solidariedade, é tão parte da natureza humana quanto

a competição.

As empresas, em seu conjunto, são hoje, talvez, a

mais poderosa instituição do planeta. Desse poder

derivam uma grande esperança e a intransferível

responsabilidade de as organizações serem agentes

efetivos de transformação da sociedade.

Transformação que deve começar nelas próprias

pela incorporação, de forma verdadeira e corajosa:

em seus propósitos, do compromisso verdadeiro pela

criação de ummundo melhor; em suas estratégias, do

equilíbrio sábio entre o presente e o futuro, a competi-

ção e a solidariedade, a parte e o todo; em sua cultura

organizacional, da prática efetiva e intransigente dos

valores e virtudes que quer ver presentes na sociedade.

Luiz Ernesto Gemignani

Presidente do conselho de administração da Promon S.A.

divulgação

Acolaboração foi fundamental para

a evoluçãoda espécie. Emoutras

palavras, a solidariedade é tãoparte da

naturezahumanaquanto a competição