Janeiro_2002 - page 68

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Revista daESPM –Março/Abril de 2002
JR –Umpoder supranacional...
AN – De uma organização queme
parece, hoje, tão vulnerável,
do ponto de vista moral,
quanto a própria CBF
com o Brasil. Ele está
sendo questionado por
comissõesdaUniãoEu-
ropéiadeClubesexata-
mentepor fraudes,entre
elas a falência da ISL.
JR – Na gestão do
Havelange, o futebol
queaFIFAcontrolava
–o futebolnegócio–
passou de milhões
de dólares para
bilhõesdedólares.
AN– Isso temo ladopositivo, porque
a gestão do Havelange realmente
universalizouo futebolprofissional.Ele
fez um bom investimento, ao levar o
futebolparaaÁsia–vamos teratéuma
copa na Ásia. AChina está fazendo
investimentos,atravésdeagênciasde
marketing européias – um tremendo
investimento em futebol. Um grande
negócio que começou a gerar gran-
des negócios. Na eleição do Blatter,
quando o Havelange saiu, o que se
ouvianas rotasdo futebol internacio-
nal é que a cotação do voto de uma
federaçãoeradeummilhãodedóla-
res.Vocêpode imaginaroqueéche-
gar na Concacaf com ummilhão de
dólaresparaseduzirovotodeum re-
presentante?
JR – Mas, isso ocorre até no
ComitêOlímpico.
AN–SeocorrenoComitêOlímpico,
imagine naCopa doMundo...
JR–Eas federaçõesmaispobres
doBrasil?Afinal decontasexiste
uma federação em cada Estado,
no Maranhão, no Piauí, em
Sergipe.
AN – Como lhe disse. Cada uma
delas é uma capitania hereditária
com poder político indisfarçável,
que elege deputados – como ele-
geu o Eurico Miranda no Rio de
Janeiro –, para chegar a formar
umabancadaqueéchamada “Ban-
cada da bola” na Câmara dos De-
putados. Que reduziu a pó uma
comissão parlamentar de inquérito
e uma lei. Então, esses interesses
estãohojede talmaneiraentranha-
doscom interessespolíticos, entra-
nhados nos bastidores do futebol,
que não tenho a menor dúvida de
dizer que o futebol hoje é uma or-
ganização mafiosa de dimensão
internacional.
JR – Isso não está tornando o
futebol pior? Os espetáculos
piores? Tirando gente dos
estádios; fazendo com que a
juventude não se interesse
tanto pelo futebol e pelo es-
porte?
AN – Eu acabei de criar, na minha
coluna, uma entidade chamada
“Mausoléu do Cartola Corrupto”. Já
tenho vários deputados. Os leitores
têm-me enviado e tenho publicado
suas sugestões. Raramente, você
vai ver um cartolaquenão seja cor-
rupto, desde o nível mais modesto.
Noníveldas federações,noníveldas
confederações brasileiras, sul-ame-
ricanas. E não estou exagerando.
“ODiavende
muito,masnãoé
capazdederrubar
umdelegadode
polícia.O
Diário
Carioca
vende
pouco,masécapaz
dederrubarum
ministro.”
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