Revista ESPM - maio-jun - Brasil Assombrado. Que caminho seguir. - page 130

Revista da ESPM
|maio/junhode 2013
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Ponto de vista
Luiz Augusto de Castro Neves
OBrasil e suas
relações internacionais
T
radicionalmente a prioridade atribuída pela socie-
dade brasileira, nela incluída os meios políticos e
os atores econômicos, foi baixa, sobretudo após o
desaparecimentodoBarãodoRio-Branco, que consolidou,
pelaviadanegociação, as fronteirasbrasileiras. Comefeito,
ao longo do século 19, havia questões pendentes, muitas
herdadasdaépocacolonial, que levaramaenfrentamentos
e guerras entre as novas nações do continente. Na virada
do século, o Brasil conseguiu consolidar suas fronteiras,
mediante tratados, laudos arbitrais e negociações com os
vizinhos. A partir daí, as questões internacionais adquiri-
ram um papel secundário na política brasileira.
Na verdade, não havia a percepção de objetivos claros a
orientar eventuais posições em relação à agenda interna-
cional da época e o Brasil tampouco dispunha de
hard
ou
soft power
que lhe permitisse uma atuaçãomais vigorosa.
O crescimento da economia brasileira tem levado a
novos desafios e oportunidades. O mundo pós-Guerra
Fria atravessa um período de grandes e velozes transfor-
mações, requerendo novas atitudes de todos os países.
Findo o conflito ideológico que caracterizou a Guerra
Fria, as relações internacionais passaram a ser instáveis
do ponto de vista político, mas levaram a uma extraordi-
nária expansão das relações econômicas, comerciais e
financeiras. Essa expansão gerou uma maior integração
das cadeias produtivas internacionais, o que constitui a
essência da globalização. Fazer parte das novas cadeias
produtivasparece ser ingredienteessencial parapromover
o que Deng Xiaoping, referindo-se à China, denominou de
“a correta inserção no sistema internacional”.
Não há como a economia brasileira fugir desse desafio,
o que implicará mudanças substanciais em matéria de
política industrial. O setor industrial brasileiro decorre de
umapolíticade substituiçãode importações, que tevecomo
pilaresoprotecionismonocomércioexterior,osubsídioaos
investimentosea reservademercado.Nãohavia incentivos
à busca da competitividade; o mercado era garantido. A
contrapartida desse esquema era a de que o Brasil só seria
competitivo internacionalmente em matéria de produtos
de base, agrícolas eminerais — as chamadas
commodities
. A
competitividadeinternacionaldosprodutosmanufaturados
brasileiros era limitada e característica daqueles setores
industriaismaisvinculadosacadeiasprodutivasmundiais,
como é o caso das indústrias aeronáutica e automobilística.
Hoje, assistimos a uma grande movimentação interna-
cional no sentido de definir marcos regulatórios para as
cadeias produtivas. A nova geração de acordos comerciais,
ao contrário das negociações do passado, que visavam a
redução de barreiras tarifárias e não-tarifárias, são ins-
trumentos de normatização, de modo a permitir que os
produtos de um país tenham especificações compatíveis
comseus semelhantes no exterior. AChina e outros países
daÁsia perceberamcomclareza esse desafio e trataramde
abrir suas economias. O resultado, no caso da China, é que
o mundo inteiro está a comprar produtos, cada vez mais
sofisticados,
made in China
e a fatia do país no comércio
mundial passoude2%para15%, enquantooBrasil continua
a ”patinar”, hámaisdemeioséculo, em1,5%.Novas iniciati-
vas,comoaParceriaTranspacífica(acordodelivrecomércio
entre os Estados Unidos e a União Europeia) e a Aliança do
Pacífico (entre Chile, Peru, Colômbia e México), só fazem
reforçar a tendênciadas cadeiasprodutivas internacionais.
E o Brasil? Continuaremos aferrados ao Mercosul, hoje
mais um foro para o exercício de retórica política? Ou
perceberemos que estamos no limiar de uma nova fase
das relações internacionais, comdesafios eoportunidades
exigindomaisdefinições concretas emenos ativismo retó-
rico?As relações internacionais constituemumtema cada
vez mais visível nas prioridades da sociedade brasileira, o
que se traduz no número crescente de atores, públicos e,
sobretudo, privados, nesse campo. No mundo de hoje, o
papel que o Brasil vier a ter será fundamental para fazer
do país uma nação plenamente desenvolvida.
Luiz Augusto de Castro Neves
Presidente do Conselho Curador do
Centro Brasileiro de Relações Internacionais
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