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janeiro/fevereirode2014|

RevistadaESPM

11

Asraízesdoatraso

Por Alexandre Teixeira

Foto: Divulgação

O

que Sérgio Buarque de Holanda nos ensina sobre um país que resiste

à meritocracia, se apega ao protecionismo e despreza a produtivida-

de? Para o sociólogo José Pastore, a chave para entender o presente

polarizado — e um futuro preocupante — está no “espírito da apropria-

ção”, um legado infeliz do Brasil Colônia.

Cientista social formado pela Universidade de São Paulo, com Ph.D. em socio-

logia pela Universidade de Wisconsin, Pastore é professor titular da Faculdade

de Economia e Administração da USP desde 1977. Do cruzamento entre o soci-

ólogo e o economista, nasceu um especialista em relações do trabalho e desen-

volvimento institucional. Consultor da área de recursos humanos, ele tem 35

livros e mais de 200 artigos técnicos publicados sobre o mundo do trabalho, que

lhe valeram uma cadeira na Academia Paulista de Letras. É também articulista

do jornal

O Estado de S.Paulo

.

Foi dessa tribuna que, recentemente, Pastore disparou críticas às lideranças

sindicais brasileiras por uma oposição,muitas vezes violenta, a sistemasmeritocrá-

ticos que propõem remuneração especial aos profissionais que entregammelhores

resultados — sobretudo em categorias de alto impacto social, como professores da

rede pública de ensino. Em entrevista à

Revista da ESPM

, o sociólogo deixa claro

que seu inconformismo é menos direcionado aos sindicalistas em si do que a uma

sociedade que se intimida diante deles e não leva adiante as reformas que podem

relocar o país na rota dos ganhos de produtividade e, consequentemente, da compe-

titividade internacional. “O Brasil insiste em detonar todos os planos de remunera-

ção que são atrelados ao desempenho das pessoas”, afirma ele.

Para analisar esse impasse, Pastore lança mão da história: “Temos uma cultura

tradicionalmente baseada na crença de que as únicas proteções que funcionam

são aquelas garantidas pelo Estado”, detalha o professor, projetando riscos futu-

ros. “Se nós não mudarmos os estímulos, para instigar mais criatividade e produ-

tividade, o Brasil não temmuita chance, não”, avalia o economista.