OEstadomastodôntico:
opoderdospoderes
No modelo ideal de democracia, o cidadão deveria ser o senhor absoluto de
todos os direitos sobre os governantes e estes, apenas seus servidores. Mas isso
está bemdistante do retrato que os políticos apresentamhoje no mundo inteiro.
A democracia atual é apenas menos ruimque a ditadura
Por Ives Gandra da SilvaMartins
O
EstadomodernoéumEstadomastodôntico.
Sejadesenvolvido, sejaemergente, oEstado
moderno é mais do que a sociedade. Pesa-
lhe mais do que lhe presta serviços. Não
representa o desejo de seu povo, mas simde quemdetém
opoder. Ademocracia que o caracteriza é apenas ademo-
cracia de acesso. Oeleitor é chamado a votar e depois não
temmais participação nas decisões do governo.
Há, por outro lado, por parte de parcela da mídia uma
forte tendência a valorizar os governos socialistas e ades-
valorizar os governos de economia de mercado, até por
força de uma realidade na qual os jornalistas nada têma
perder, de um lado, e a livre concorrência nada tem que
ver coma ideologia propriamente dita, de outro.
Apreferência ideológica pela esquerda demuitos inte-
lectuais é, de rigor, uma preferência psicológica, farta-
mente enraizada numa inveja subconsciente, ou seja, de
não se ter omesmo sucessoque outros têm, emfunçãoda
falta de criatividade e inveja da criatividade dos outros,
ou seja, aqueles que têmpermitido o progresso da socie-
dade. Deseja-se retirar recursos de quem soube ganhar,
trabalhando, justificando tal “ideal” como rótulode “dis-
tributivismo”. É mais fácil, portanto, ser de esquerda do
que de direita, quando os que invejamos bem-sucedidos
não conseguem ter omesmo nível de sucesso.
A tendência, por outro lado, dos governos de esquerda
de controlaremamídia decorre do desconforto de terem
suasmazelas expostas pelo jornalismo investigativo.
É de lembrar, entretanto, que a corrupção, o cliente-
lismoea ineficiênciadosgovernosdeesquerda têmmenor
repercussãoqueomesmo triste fenômeno, quandoocorre
nos governos de direita. Oepisódio domensalão foi uma
exceção, graças ao equilíbrio de poderes que aConstitui-
ção garantiu. Simone de Beauvoir, no seu livro
Os man-
darins
(EditoraNova Fronteira, 2002), mostrava como na
França do pós-guerra tudo justificava o ataque à direita,
mesmo quando nãomerecia, e tudo justificava esconder
os defeitos da esquerda, mesmo quando valeria a pena
divulgá-los por uma questão de equilíbrio e de justiça.
Raramente, vimos os governos de esquerda colocarem
em prática os teoremas “redistributivistas”. Quase sem-
pre a única distribuição que praticam tem como benefi-
ciários seus adeptos e correligionários, que se enquistam
nos governos após a conquista do poder. Como disse Rui
Falcão, inteligente e perspicaz líder da esquerda no Bra-
sil, “não há administração pura”, e as administrações de
esquerda sãomais impuras do que as administrações de
direita emenos eficientes.
Por outro lado, nas economias demercado, nemsem-
pre se tem uma visão clara dos objetivos. Entretanto,
elas costumamser mais bem-sucedidas que os regimes
de esquerda. Essas economias demercado também são
mais geradoras de emprego e desenvolvimento, lem-
brando que os países que obtiverammaior sucesso eco-
nômico não são socialistas. Por outro lado, os governos
socialistas que assumiram economia de mercado nos
moldes de governos capitalistas só conseguiram cres-
cer quando deixaram de ser socialistas, praticando as
mesmas técnicas e mecanismos dos governos liberais.
Foi o que ocorreu com a China.
shutterstock