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janeiro/fevereirode2014|

RevistadaESPM

63

D

e todas as religiões, o catolicismo parece

ser a que mais sente a mudança nos hábitos

e atitudes da sociedade brasileira. Com 123

milhões de seguidores no Brasil, a Igreja Católica

Apostólica Romana está encolhendo. Nos últimos dez

anos perdeu 12,2% de seu público, o que, segundo o

Censo de 2010, do IBGE, representa cerca de 1,7milhão

de fiéis a menos. O levantamentomostra que, em1970,

91,8% dos brasileiros eram católicos, fatia que em 40

anos diminuiu para 64,6%.

P a r a A n t o n i o M i g u e l

Ka t e r F i l ho , não se t r a t a

de um problema rel igioso,

e sim genérico, que aflige a

sociedade como um todo. “A

influência nefasta dosmeios de

comunicação está destruindo

o que a Igreja levou séculos

para construir. O egoísmo e

o hedon ismo represent am

uma espécie de epidemia no

pa ís, cuja popu lação nut re

um ex t remo descaso pe l a

vida. Basta ver a quantidade

de v ít imas que mor rem no

trânsito todos os anos”, avalia

o profissional que há mais de

30 anos ensina técnicas de

market ing em inst itu ições

catól icas. “A f idel idade no

casamento está fora de moda.

Roubar para obter algum tipo de vantagem não é mais

visto como um pecado pela maioria da população, da

mesma forma que alguém que encontra uma carteira

cheia de dinheiro na rua, e a devolve, acaba virando

capa de revista. Hoje, o que deveria ser normal virou

exceção e aquilo que antes era visto como anormal

virou regra.”

Nesse cenário, os valores supremos do catolicismo

parecem andar na contramão. “Realizo encontro de

casais em igrejas católicas desde a década de 1970 e

o que vejo são muitas famílias desestruturadas, sem

referenciais éticos, morais e cristãos. As pessoas

perderam o referencial do que é certo ou errado.

Agora, cabe à Igreja resgatar esses valores e instituí-

los no dia a dia dos fiéis”, explica Kater Filho, citando

como exemplo o trabalho do papa Francisco, que em

dezembro de 2013 foi eleito a personalidade do ano

pela revista

Times

. “Suas atitudes têmmostrado para

o clero que para reaproximar a Igreja de seus fiéis é

preciso descer do presbitério e caminhar no meio da

plateia. A mensagem é clara:

não cabe ao padre julgar o fiel,

e sim dar misericórdia a ele.”

De acordo com o estudioso,

o novo papa é pragmático e

será capaz de provocar uma

mudança tão grande quanto

a g e r a d a p e l o Con c í l i o

Vaticano II, na década de 1960.

Organizado pelo papa João

XXIII, esse grande evento foi

promovido com o objetivo de

modernizar a Igreja e atrair os

cristãos afastados da religião. E

foi assimque, a partir de 1966,

a missa deixou de ser rezada

em latim, sendo adaptada ao

idioma de cada país, com o

padre de frente — e não mais

de costas — para o público. “A

Igreja precisa reaprender a

pregar os valores cristãos para famílias modernas,

que muitas vezes representam apenas um aglomerado

de pessoas que se conhecem, morando sob ummesmo

teto. Essa é a oportunidade que temos de descomplicar

os processos e simplificar o discurso católico, com o

intuito de plantar no coração das pessoas uma semente

de valor que pode mudar o mundo. Afinal, como disse

Madre Teresa de Calcutá, em um encontro promovido

pela ONU, o que falta no mundo não é o pão, e sim o

amor ao próximo”, assegura Kater Filho.

OredescobrimentodoBrasil

Igreja Católica

Apostólica Romana

Início do movimento:

no

mundo, o catolicismo surgiu há

aproximadamente dois mil anos.

No Brasil, está presente desde o

descobrimento do país

Igreja católica em números:

123

milhões de católicos frequentam

as 12 mil paróquias e dioceses

brasileiras

Mensagem:

”Pai, perdoai-os porque

eles não sabem o que fazem”

Católicos