especial | religiões
Revista da ESPM
| janeiro/fevereirode 2014
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Oqueasreligiõespodem
fazerporummundomelhor?
Dos dezmandamentos cristãos à lei de causa e efeito do budismo. Embarque conosco emuma
viagempelomundo da fé e descubra como as principais religiões estão adaptando – ou não –
seus valores e princípios às novas regras ditadas pela sociedademoderna
Por Anna Gabriela Araujo
C
om explicações cada vez mais detalhadas
sobre a vida emsociedade, o funcionamento
da mente humana e a origem da Terra e do
universo,aciênciavemdesvendandoantigos
mitosefincandosuabandeiraemteoriasantesexploradas
apenas pelas religiões. Recentemente,mais umabarreira
entre o céu e a terra foi derrubada pelos cientistas que
conseguiram reproduzir em laboratório a partícula de
Deus. Pela teoriaqueexplicacomoaspartículasadquirem
massa, o belga François Englert e o britânico Peter Higgs
ganharamoprêmioNobel deFísica em2013.Mas qual éo
impacto que esse tipo de descoberta temna preservação
dosvaloresdeumasociedadeecomoessemovimentoestá
alterando os princípios religiososmais rígidos?
Em
O livro das religiões
(Editora Cia. das Letras), Victor
Hellern, Henry Notaker e Jostein Gaarder mostramque,
embora as religiões semantenhamvivas, áreas cada vez
maioresdavidasocialeculturaltêmsaídodesuainfluência.
“Alémdeosprincípios religiosos teremperdido influência
na vida social, também os conceitos éticos ensinados
pelas religiões não afetammais as questões sociais. Este
processoé conhecidocomosecularização”, asseguramos
autores. “Tais atos têmefeitos diversos sobre as pessoas.
Alguns mantêm sua crença religiosa, mas traçam uma
linhadivisóriaentrea religiãoeaciência. Outros rejeitam
a religião e se tornam ateus ou agnósticos. E há ainda
aqueles que incorporama consciência científica à sua fé
religiosa. Será que somos menos religiosos hoje do que
éramos cinquenta anos atrás?”, questionamos autores.
Para Mario René Schweriner, líder da área de
humanidades edireitodaESPM, a respostaé sim. “Muitas
pessoas chegaram à conclusão de que não precisam de
uma religião, e sim de espiritualidade. Eu, por exemplo,
não tenho religiãoporque todas representamumcontode
fadas. Sou adepto da espiritualidade e sigo umprovérbio
que diz: ‘Reze como se tudo dependesse deDeus. Mas aja
como se tudo dependesse de ti’.”
Dados do InstitutoBrasileirodeGeografia eEstatística
(IBGE) comprovamos efeitos dessemovimento. OCenso
de 2010 aponta uma redução acentuada de poder da
IgrejaCatólicanoBrasil, que teve uma retraçãode 22%no
númerodefiéisnas últimas duas décadas. Ainda assim, o
paísmanteve o posto demaior nação católica domundo,
com 123 milhões de fiéis, o que corresponde a 64,6% da
população brasileira (
ver tabela na página 60
).
Nestareportagemespecial,a
RevistadaESPM
foiacampo
para avaliar qual é o papel da religião na sociedade do
século21ecomoosprincípiosevalores religiosos influem
no comportamento da sociedade brasileira.
AntonioMiguelKaterFilho,diretorexecutivodoInstituto
BrasileirodeMarketingCatólico, foi umdosentrevistados
e falou sobre o posicionamento atual da Igreja Católica.
PresentenahistóriadoBrasil,desdeoseudescobrimento,o
catolicismocontribuiuparaa formaçãocultural, artística,
social e administrativadopaís e agora está tendode rever
seus conceitos para continuar existindo. “Hoje, a grande
maioriados católicosnãoconsegueenumerarmetadedos
dezmandamentos. Comovocêpode seguir eacreditar em
algoquedesconhece?”,questionaoprofissionalquehámais
de 30 anos atuano segmento. “A Igrejaprecisa reaprender
a pregar os valores cristãos, que devem ser ajustados ao
perfil das famíliasmodernas”, assegura Kater Filho.
Arecomendaçãodoespecialistaemmarketingcatólico
valedeliçãoparatodasasigrejas,quesofremcomoaumento
daconcorrênciageradapor novosmovimentos religiosos.
“Eles afirmamque são universais e aplicáveis a todos, se