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Revista daESPM – Julho/Agosto de 2002
Empresas e
ResponsabilidadeSocial
• FábioColletti Barbosa
PresidenteABNAMROBANK
Muito tem-se falado recentementesobre
a Responsabilidade Social das empresas.
É cada vez maior o número de Relatórios
Anuais que, além de prestar contas aos
acionistas, insere também um encarte, ou
umcapítulo, relatandoseu trabalhoeapoio
aos mais diferentes projetos sociais. Sem
dúvida, um grande passo.
Por outro lado, ainda ouvimos vozes
que, refletindo o pensar do Nobel de
Economia Milton Friedman, destacam que
Responsabilidade Social não é papel das
empresas.Essa idéia foi resumidaporFried-
manna suaanalógica frase “onegóciodos
negócios são negócios” (“The business of
business is business”).
Não pretendo aqui discutir se isso foi
oudeveserverdade.Pretendodestacarque
nãoapenasnãohá incompatibilidadeentre
a visão de negócios e a visão de
ResponsabilidadeSocial,mas,maisdoque
isso, há sinergia entre eles.
Para ilustrar essa afirmação, note-se
que as empresas que compõem o “índice
de sustentabilidade” (“sustainability index”)
– índice do Dow Jones/EUA –, que
acompanha a
performance
das ações das
empresas com boas práticas corporativas,
têm de forma consistente apresentado
resultados superiores ao restante das
empresas.
Issonãodeveser surpresa.Temosvisto
mundo afora umamovimentação cada vez
maior da sociedade cobrando das
empresas, por exemplo, uma postura de
respeito ao meio ambiente. A crescente
preocupação do consumidor com o meio
ambiente talvez seja um dos aspectos da
ResponsabilidadeSocialmaisbásicosase
observar, e, por si só, já denota uma
mudança de postura na sociedade.
Consumidores de vários países domundo
já evitam produtos de empresas que não
estejam alinhadas com a visão de respeito
aomeioambiente.Adicione-sea issoo fato
de que algumas instituições financeiras de
ponta já levam em consideração aspectos
relacionados ao meio ambiente, nas suas
políticas de concessãode crédito. Ou seja,
asociedadecobraalgomaisdasempresas.
Asempresasdepetróleobemsabemdoque
estamos falando, e as petroquímicas,
empresas de papel, mineradoras,
madeireiras, dentre tantasoutras, também já
têmesseassuntona suapautadodia-a-dia.
O fato é que, seja por convicção ou
apenas por conveniência, é cada vezmaior
onúmerodeempresasque integrao respeito
aomeioambienteemseuplanodenegócios.
Mas a cobrança da sociedade vem-se
expandindo. Não se trata apenas de cobrar
das empresas para que não causem danos
ao ar, ao solo ou à água. Trata-se também
denãocausardanosàcomunidadeemgeral.
Assim,oenvolvimentodo trabalho infantil,por
exemplo, tem sido objeto de crescente
condenação por parte dos consumidores e
do mercado em geral. Da mesma forma, a
discriminação, seja por cor, raça, religião ou
condição física, sãoaspectosque começam
a fazer parteda cartilhado consumidor que,
implacável, tendeamarginalizarasempresas
que a esses gruposmarginalizam.
O leitor deveestar-seperguntandoseos
conceitos acima não são um pouco fora da
realidade brasileira, e talvez façam apenas
parte do distantemundo escandinavo.
Aobservaçãodomercadobrasileironão
confirmaessa idéia, e inclusivenos animaa
dizer o contrário, que nossa sociedade está
cadavezmaisatentaaosaspectossociaise
de cidadania. Conversando com o público
mais jovem é que notamos de forma mais
acentuadaessamudançadeatitude.Cientes
da importânciado respeitoaomeioambiente
e à cidadania, osmais jovens condenam as
empresas que poluem ou que empregam
crianças no seu processo de produção.
Porém, mais importante do que a
cobrança por parte dos jovens é ver esses
jovenspreocupadoscomasuaprópriaatitude
nodia-a-dia.Não jogampapel nas ruascomo
seus pais e avós fizeram; condenam o
consumodeáguapara lavarcalçadas;evitam
odesperdíciodeenergiaelétricaeseengajam
em número crescente em projetos de
voluntariado, dentre outras atitudes que
comprovam a crescente noção de cidadania
que sedesenvolvenonossopaís.
É por isso que estou seguro de que em
qualquermercadoaúnicamaneirade termos
um negócio sustentável é atuando com
ResponsabilidadeSocial.
Por fim, note-se que, ao falar de
Responsabilidade Social, não me refiro
apenas às muito bem-vindas, contribuições
financeiras que as empresas fazem às
instituiçõesdecaridadeeaoapoioaprojetos
sociais e ambientais. A Responsabilidade
Social deve ser vista de uma forma ainda
mais ampla e deve estar presente no dia-a-
diadasempresas, novalor agregadodeseu
produto ou serviço, no seu processo de
produção, no correto pagamento de
impostos, nacomunicação transparentecom
o consumidor, na propaganda honesta, na
maneira de interagir com seus funcionários
(essa,damaior importância, jáqueoexemplo
deve sempre começar dentro de casa) etc..
Não existe espaço para que se trate o
negócio em si como algo independente da
Responsabilidade Social. Na verdade,
Responsabilidade Social tem que estar nos
próprios negócios.
No Banco Real, criamos a Diretoria de
ResponsabilidadeSocial ao final de 2001.A
idéia é que essa diretoria não deverá existir
dentro de 3 ou 4 anos, pois o assunto não
deve ser tratado por uma área específica à
parte dos negócios, e sim, ser parte
integranteeestar totalmente incorporadoem
cadaatitudedodia-a-dia. Podeparecer uto-
pia, mas lembremos que alguns anos atrás
as empresas começaram com departa-
mentos responsáveis pela Qualidade dos
produtos e serviços. Atualmente, tais
departamentos não mais existem, pois a
qualidade temqueestar impregnadaem tudo
que se faz. Assim também será com a
ResponsabilidadeSocial. Chegaremos lá!
Nãohá,pois, contradiçãoentreempresas
e Responsabilidade Social. Ambos devem
caminhar juntos, e só assim cada um deles
será sustentável. Não podemos admitir
conviver coma idéiadequeépossível irmos
bem num país que vai mal! Temos que
mobilizar todas as forças da sociedade, in-
clusive as empresas, na construção de um
amplo modelo sustentável, que traga
perspectivasmelhores para todos nós.
P
ONTODE
V
ISTA