João
BoaventuraBranco deMatos
maio
/
junho
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
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e declínio de grandes potências que
dominaramcadaumdessesciclos.No
ciclodo Estado-absoluto
, fica clara a
proeminênciadaEuropaContinental.
Nesseperíodo,opodercentralnão se
manteve restrito a uma única cidade,
transitando entre Gênova, Florença,
Lisboa, Madri e Amsterdam, porém
permanecendocircunscritoà ideiade
centralismo político e administrativo
epoder absolutodafiguradomonar-
ca. No
segundo ciclo
, o poder cruza
o Estreito de Calais e se consolida
na Inglaterra, ancorado na ideia da
livre-iniciativa como propulsora do
mercado e da divisão internacional
do trabalho. No
terceiro ciclo
, cruza
oAtlântico e se estabelece na figura
dos EUA como grande fiador de um
conjunto de instituições multilaterais
que passaram a controlar a ordem
mundial dopós-guerra.
Mais recentemente, o descontrole a
quevêmsendosubmetidasessasagên-
cias multilaterais tem convivido com
a ascensão das economias periféricas,
predominantemente as asiáticas ou as
dohemisfério sul,que têmconseguido
seimporcomonovos
players
depesono
jogopolíticointernacional.Dessemodo,
não são irrelevantesnem fantasiosasas
possibilidades de que, em algummo-
mentodo futuro, opoder venhanova-
menteacruzaroceanos,ouhemisférios,
abrindooportunidadesparaoBrasilno
contextodospaísesemergentes.
Nesse sentido, ainda ao examinar a
Figura 1, é possível verificar que esta
transitoriedade esteja mais evidente
à medida que as transformações
apresentadas têm apresentado uma
aceleraçãodeseu tempohistórico,nos
termos de Foucault (2002) oudeHo-
bsbawn (1991),ouaocontráriodeAr-
righi (1997).Oquevemos aqui, além
davertiginosaaceleraçãodaCurvado
SéculoXXdescritaporFoucault,éuma
aceleração constante dos intervalos
de duração dos ciclos anteriormente
examinados.Adelicadezadocontorno
dascurvas,emsuaperspectivahistóri-
cade longuíssimoprazodenunciaque
nãohánesseprocesso transiçõesmar-
cantes ou descontinuadas (Braudel,
1995). A “historiedade evolutiva” de
Foucault,aquipareceseguirseucurso
sobrevagasnumoceanodepossibili-
dades,semqueessasvagasencontrem
suaarrebentaçãoouassumamcontor-
nos mais críticos, cabendo aos fatos
marcantes não o papel de inflexão
ou determinação dessas ondas, mas
sutilmente a função de demarcação
dessescontornos seculares.
Outro ponto a ser considerado é a
dimensão produtiva, representada na
Figura1pelas
setasR1
,
R2
e
R3
.Cada
uma delas representa o desenvolvi-
mento de uma ordem hegemônica
deproduçãoquedominouacenaem
cada um dos ciclos apresentados e,
possivelmente, estimulou a acelera-
çãodo tempoemque sederamessas
transformações. A
R1
representa a
disseminação da indústria têxtil e in-
vençãodamáquinaavapor(1677).A
consolidaçãodestaformadeprodução
valedizer,servecomoo laboratórioda
obradeAdamSmith.
Posteriormente,
R2
simboliza a ascensãodos grandes
inventores e das grandes invenções
comoaeletricidade,química, aço (si-
derurgia), telégrafo, telefone, automó-
veletc.Analogamente,adisseminação
dastécnicasdeadministraçãoracional
inspirariamautorescomoTayloreFayol
atéatingiremograudematuridadeda
grande indústria fordista.
Por fim,
R3
simbolizaumnovoparadigmaproduti-
voaindaemconstrução,representados
poratividades ligadasàmicroeletrôni-
ca, computação, telecomunicações,
internetebiotecnologiaque tanto têm
inspirado autores mais contemporâ-
neoscomoDrucker eRosemberg,ou
outros à frente de seu tempo como
Em algummomento do
futuro, opoder novamente
cruzara oceanos, ou hemisférios,
abrindo oportunidades para oBrasil
no contextodos países emergentes.
s
M. Dueñas
î