R e v i s t a d a E S P M –
maio
/
junho
de
2009
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A responsabilidade social e o
mercado internacional
soasestãodesempregadas,qualseriao
preço justoasepagarporumproduto?
Não poderiam as micro e pequenas
empresas comportarem algumas res-
postasparaquestões tão intricadas?
É bastante clara a importância das
microepequenasempresasdentroda
economiaregional, federaloumesmo
internacional.Entretanto,sãobastante
divergentesaspolíticase razõespelas
quais incentivos são oferecidos à
manutenção das micro e pequenas
empresas e não necessariamente ao
desenvolvimentoecrescimentodessa
categoriacorporativa.Tomemoscomo
exemplooEstadodoPará,famosopela
suacastanha. Boapartedaprodução
desse bem se origina do trabalho
manual, com evidência de forte
mão de obra extrativista e intensiva.
Famílias pobres colhem e quebram
manualmente, com seusmartelinhos,
as castanhas que são adquiridas por
atravessadores e, posteriormente,
industrializadas e comercializadas.
A necessidade de industrialização é
evidente,porémnãoexistemrecursos
e insumosgovernamentaisnecessários
paraequilibrar trabalhoemãodeobra
local.Consequentemente,prevalecea
utilizaçãodemãodeobramanualem
detrimentoda industrialização,oque
resulta em concentração da renda e
aumentodapobreza.
Naverdade,desdeadécadade1980,
o Brasil tem incentivado a abertura
de pequenos negócios, tendo como
justificativa a base e necessidade
filosófica empreendedora de futuros
empresários. Entretanto, emmuitos
casos,o incentivoàaberturademicro
e pequenas empresas tem sido feito,
sobretudo, para atenuar os possíveis
impactos da falta de estrutura e pla-
nejamento – os quais possibilitariam
aopaís o seuplenodesenvolvimento
sustentado.Apequena rendadasmi-
cro e pequenas empresas acaba por
redistribuir oônus da faltadeprogra-
mas que realmente possibilitariam a
melhora dos números da economia.
Tomemos por base o comércio exte-
riorbrasileiro.Segundodadosoficiais
da Balança Comercial Brasileira, de
2008, publicados peloMinistério do
DesenvolvimentoeComércio(MDIC),
estavam cadastradas 20.408mil em-
presasexportadoras,dasquais50,6%
eram de micro e pequeno porte,
porém representavam 1,9% de todas
asexportaçõesbrasileirasnoperíodo,
em detrimento das grandes empre-
sas, que representavam 21,9% e um
volume de exportações na ordemde
91,9%. Os dados são totalmente ex-
cludentes, secomparadosà realidade
edesempenhodasmicroepequenas
empresasnaEuropa, onde têmuma
participação sólidanocenário inter-
nacional,e tambémpela relaçãodos
consórcios de exportação.
Voltemos ao caso da castanha do
Pará, desta vez sobre outra ótica. O
municípiodeXapuri,Acre, exportará
paraMilão, Itália, o primeiro lote de
castanha orgânica, certificada para a
CooperativaChicoMendes. Segundo
dados daCooperativa, foi exportado,
em dezembro, o primeiro contêiner
com vinte toneladas para abastecer
grandes indústriaseuropeias.Aopera-
ção, seguindoospreceitosdoativista
Chico Mendes, é uma extensão da
política de produtos socialmente
corretos com a garantia de trabalho
justo. Neste caso, foi efetuado o ca-
dastro e fornecido apoio às dezenas
de famílias carentes da região, além
dacapacitação técnica relacionadaà
extração e aomanuseio do produto.
É a iniciativa “privada” (sic) atuando
emumcontextodedesenvolvimento
econômicoe social sustentado.
Osdadosapontamquepartedacrise
internacional afetou também, de
forma pontual, as micro e pequenas
empresas, nos processos produtivos,
mas não, necessariamente, naqueles
commaior valor agregado. Constata-
se,assim,queo faturamentodasmicro
Tomando como exemplo a castanha do Pará, prevalece a utilização
demão de obramanual em detrimentoda industrialização, o que
resulta em concentração da renda e aumentoda pobreza.
s
DiegoSingh