março
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abril
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
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OBrasil e a
Crise
um ciclo de forte crescimento das
exportações, decorrente da desva-
lorização da moeda frente ao dólar
americano. Este ciclo de expansão
das exportações teve ummotor forte,
baseadoemcompetitividade legítima,
quedurouatéofinalde2008.
Mais tarde, algumas empresas bra-
sileiras, por meio de investimentos
diretos, mostraram sua capacidade
de competir de igual para igual no
mercado internacional.Aindaháum
movimento estrutural que favoreceo
investimentobrasileironoexterior.As
companhiasbrasileiras estãoemple-
no processo de internacionalização.
Tipicamente, esteprocessoapresenta
uma forte inércia. Um dos motivos
está relacionadoàsprediçõesdeuma
dasprincipais teorias sobrea interna-
cionalizaçãodeempresas,achamada
escoladeUppsala.Nestavisão,aem-
presa se internacionaliza em passos
incrementais, buscando primeiro os
mercadosmais próximos, demesma
língua ou demesma cultura. Em se-
guida, a empresa vai se aventurando
em novos mercados com crescente
diferença em relação ao original.
Como várias empresas brasileiras
estão no começo, ou nomeio deste
processo,éprovávelquenovospassos
serão dados e que os investimentos
diretosnoexteriorsesustentemainda
pormuitos anos. Um fator adicional
é que, com a crise, podem aparecer
muitaspechinchasnomercado inter-
nacional,quepodemseraproveitadas
porempresasbrasileirasemcondição
ainda relativamente favorável.
No meio do caminho, ainda havia
uma pedra: a transição política.
Nas eleições de 2002, a vitória do
candidato de esquerda causou preo-
cupação e trouxe uma nova crise de
expectativas. Entretanto, as propostas
do candidato logo cederam lugar ao
realismodanova administração, que
não somente manteve os pilares da
política econômica anterior como
aprofundou alguns pontos, como o
níveldesuperávitprimário.Oaspecto
mais positivo desta mudança é que
elaprovouaconsolidaçãodo regime
depolíticaeconômica inauguradono
período que vai do fim de 1998 ao
começode1999.
Este novo regime é, demaneira ge-
ral, baseadono tripé: naáreafiscal,
superávitprimário;naáreacambial,
câmbio flutuante; e, na áreamone-
tária, metas para inflação. Ainda
que haja preocupações quanto ao
regimefiscal emmeioàcrise, existe
umapercepçãogeneralizadadeque
os três regimes tendem a semanter
intocados, consolidando uma polí-
tica econômica que já passou por
três administrações.
Emparticular, o regimefiscal baseado
em
superávits
primáriofoiumapolítica
iniciada no Programa de Estabilidade
Fiscal,deoutubrode1998,comouma
das respostas aos desdobramentos da
crise russasobreoBrasil.Ela trouxeao
paíscondiçõesrelativamenteboaspara
lidar com a crise atual. Alguns avan-
ços institucionais foram coadjuvantes
fundamentais deste feito: entre elas,
reformasnosistemaprevidenciárioem
1996, 1999 e 2003, alémde uma re-
formaadministrativa.Adicionalmente,
aLeideResponsabilidadeFiscalcontri-
buiucomgrandepartenoajustefiscal
dos governosdeestados emunicípios
brasileiros. E hoje, o endividamento
subnacional nomercado é pequeno:
juntos, os governos locais e estaduais
produzem um superávit primário da
ordemde1%doPIBporano.
Será,outravez?
Acrisede2008,oficializadaem15de
setembro, vem atingindo a economia
brasileiradediferentesformas.Ocená-
riopós-crisetrazumasucessãodecho-
quesdedemandaedeoferta,geraum
grande rearranjodepreços relativos e
acabaalterandoaposiçãodosdiversos
ramosdosmelhoresnegócios.
Apesar da crise, o cenário ainda é
de crescimento, mesmo que a uma
taxa menor, que alguns acreditam
ser próxima de zero. Os ganhos de
competitividadedosanosnoventassão
parteimportantedamanutençãodeum
pequeno crescimento do Brasil, em
meioaumadesaceleraçãoquase sem
precedentesnaeconomiamundial.
Oprincipaldesafiobrasileiroemmeioà
crisevemdascontaspúblicas.Adesace-
leraçãoteráimplicaçõesnadatriviaisso-
î
M. Dueñas