Marco_2009 - page 114

Case-study
R e v i s t a d a E S P M –
março
/
abril
de
2009
114
breestas.Claramente,oBrasilnão tem
espaçoparausaroaumentodosgastos
públicosparaestimularaeconomia.O
setor público consolidado apresentou
umdéficitde1,5%doPIBnoanopas-
sado, e teria dificuldade em reduzi-lo
aumentando a tributação, não apenas
pelomomento, mas também porque
jáostentamosumacarga tributáriaque
figuraemposiçãodedestaqueentreas
maiores e também entre as piores de
todoomundo.Asdespesas com juros
tendem a se reduzir, mas o efeito da
arrecadação tendea ser forteno saldo
primário,aindamaiscomdespesasem
trajetóriade fortecrescimento.
Apossibilidadedeumaguinadanapo-
líticafiscalé,assim,umimportanterisco
emmeioàcrise.Adívidabrasileiraainda
não completou o primeiro aniversário
nacategoriade“graude investimento”.
Estamosaindanonívelmaisbaixodesta
categoria, e não seria sensato pôr esta
conquistaaperder.Porém,aprobabilida-
dedeumamudança radicalnestaárea,
vistadehoje, ébaixa, oque favorecea
resiliênciadopaís frenteàcrise.
Umpaísmaisforte,
depoisdetudo
Os anos de intervenção estatal,
controle de preços e limitada ex-
posiçãodas empresas nocomércio
externonãoevitaramqueoparque
industrial brasileiro se revelasse
ineficiente.Osanosnoventasassis-
tiramauma reversãodessemodelo,
ainda que de forma confusa.
A abertura comercial da gestão
Collor, na primeira metade da dé-
cada, não foi aproveitada, pois foi
implementada de forma unilateral
e semnegociaçãodecontrapartidas
com os parceiros. Ainda assim,
1.
Seu Alípio viveu a era da hiperinflação
brasileira.Nessaépoca, umúnicodiabrasi-
leiro chegava a apresentar uma inflação se-
melhanteàdeumanodaSuíça.Mais tarde,
seuAlípioviveuas turbulênciasfinanceiras,
já com a inflação controlada,mas com alta
volatilidade ora no câmbio, ora nos juros,
ou em ambos.Oquemudouna vida do Sr.
Alípio entre o momento de instabilidade
de preços, e o momento de instabilidade
financeira? Os desafios oriundos das duas
situações são equivalentes/similares?
2.
Astolfoviveuapenasoperíododas turbu-
lências, e não o da hiperinflação. Recente-
mente,Astolfoestavaprocurandoempregoe
foi contratadoporAlípio.Tendooportunida-
dedeconversareconvivercomseuAlípio,o
queAstolfopoderiaprocurar aprender com
quem viveu os anos oitentas?
3.
O caso argumenta que, em termos ma-
croeconômicos, crisepode ser sinônimode
oportunidade. Entretanto,hápaísesque, em
meio à crise, adotam estratégias populistas
epostergamajustes, saindodacrisepior do
que entraram. Este pode ter sido o caso do
Brasil na ditadura, nos anos setentas, e de
alguns países sul-americanos nacriseatual.
O que oBrasil deveria fazer para sair desta
crise, como nas crises recentes, melhor do
que entrou?
Este case foi preparado pelos profes-
sores
Maria Fernanda Freire de Lima
e
FredericoAraujoTurolla
Para
download
deste case, acesse a
página da Central de Cases ESPM:
questões paradiscussão
contribuiu com o acirramento da
competição interna, juntamente
com oMercosul que se iniciava. A
apreciação cambial artificial que
permaneceu até o início de 1999,
foi fundamental na contenção
dos preços, mas por outro lado,
pressionou a produção doméstica
e dificultou em muito a vida dos
empresários nomercado externo.
As alternativas, à época, eram a fa-
lência, ou a venda do negócio para
grupos internacionais que podiam
operar commaior eficiência, ou o
enfrentamento direto da concorrên-
cia. As que optaram por esta última
alternativa são empresas que, sem
qualquer coincidência, se destacam
hoje no cenário internacional. Foram
capazesde semodernizar eexpandir,
principalmente no mercado interna-
cional.ApenasoReal fortepermitiuo
aumentodaimportaçãodemáquinase
equipamentos,gerandoumverdadeiro
boom
no consumo aparente desses
equipamentosnoparqueprodutivo.
No fim das contas, as crises acaba-
ram contribuindo para as reformas,
principalmente nos anos noventas.
Somos umpaís que saiu fortalecido
das crises que nos sacudiram. Foi
doloroso, mas sobrevivemos e nos
tornamos mais fortes, em meio às
dificuldades e desequilíbrios.
Crise eoportunidade
Uma liçãoparao futuroénatural: a
crise atual deveria servir de pretex-
to para novas reformas que tragam
novos avanços à competitividade
brasileira. Não tem sido esta a pos-
turadas políticas públicas, que têm
sevoltadoparacorreçõespaliativas,
sem atacar os desafios estruturais.
Seria sensatoaproveitaromomento
mais difícil para novos ajustes que
favoreçam a nossa capacidade de
competir. Se tivéssemos de apon-
tar um único ajuste mais urgente,
diríamos que seria no exorbitante
nível da despesa pública. A redu-
ção do dispêndio nos traria um
ótimo “problema” para se ter: o de
escolher qual tributo seria reduzido
e quais setores seriam beneficiados
por um verdadeiro choque positivo
de competitividade.
ES
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