Ponto de vista
Revista da ESPM
| julho/agostode 2012
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como o sul da França, na semana de junho que antecede o
verão, está cada vez mais lindo.
Já no capítulo premiações, o Cannes Lions, com seus
leões distribuídos para uma quantidade enorme de peças
representantes da propaganda fantasma, scam ou trucha,
estácadavezmenos importante. Assimcomoacompetição
entreagênciaseprofissionais,comingredientesdefalsidade
ideológica, luta de bastidores e conchavos políticos, está
cada vez mais grosseira e constrangedora.
Para tentar entender um pouco por que isso acontece,
convém lembrar uma outra região da França, a Córsega,
e um dos seus maiores representantes: o escritor, poeta,
ensaísta e filósofo Paul Valéry. Para ele, a publicidade se
enquadrava na categoria das Profissões Delirantes. Profis-
sões que dependem de segurança pessoal e da opinião dos
outros, em vez de habilidades comprovadas. Em resumo,
dependemdamais instável de todas as posses: a reputação.
Desesperadas por construir boa reputação, algumas
agências e publicitários do mundo inteiro falseiam suas
realidades em Cannes, obtendo assim seus leões mancos
e desdentados que, na verdade e a curtíssimo prazo, só
prejudicam a reputação delas mesmas, de toda a atividade
e do próprio Cannes Lions.
O fato só não é tão importante porque uma, duas ou três
semanas depois do Cannes Lions, essa parte circense dos
leõesdeCannescainoesquecimentoeasreputaçõesvoltam
às suas realidades, o que nos leva a uma conclusão quase
óbvia,masnecessária: reputaçãoéumvalorflutuanteedeli-
cado, resultado real deuma sériedeoperações complicadas
envolvendo ética, competência, honestidade e eficiência.
Na publicidade, isso tudo só é conquistável a partir
de trabalhos criativos, reais e conhecidos. Aqueles que
recheiam os bate-papos de botecos, dos salões de cabe-
leireiros e das viagens de elevadores. Aqueles que entram
no vocabulário e viram cultura popular. Aqueles que
eventualmente até ganhamprêmios depois de conquistar
amaior glória que uma peça publicitária pode almejar, que
é o reconhecimento do público.
Porque este, sim, é o grande momento desta profissão
delirante: quandoconseguimos amissãoquase impossível
de levar a galera ao delírio.
Washington Olivetto
Chairman daWMcCann
“Para amaioriados clientes, o festival
de nada serve. Até porque onegócio
dos clientes funcionadurante o
ano todo, e comunicaçãobemfeita,
responsável e eficiente deve ser odia
adiadessaprofissão e não apenas
algoque acontece dentrode alguns
auditórios do sul daFrança”