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Revista da ESPM – Março/Abril de 2002
Futebol
Mais do que uma Paixão Nacional –
O TEC que mobiliza Milhões
• Suzy Fleury
Quando o juiz apita o início do jogo
e a bola começa a rolar, um grandioso
sistema está em movimento, e aquilo
que parece apenas uma partida de fu-
tebol merece de todos nós – de apaixo-
nados a profissionais do Marketing –
uma atenção especial. A Copa do Mun-
do, considerada o evento mais popular
do planeta, representa um sistema in-
tegrado e vivo que se apóia no “T” da
tecnologia, no “E” do entretenimento e
no “C” da comunicação e que mobiliza,
na 17.ª versão, “2002 – FIFAWorld Cup
Korea/Japan”, 3 milhões de ingressos,
3,5 milhões de expectadores previstos
entre os dois países – 10 cidades da
Coréia e 10 do Japão e uma audiência
televisiva prevista – acumulada nos 62
jogos – em torno de 41 bilhões de
telespectadores (32 bilhões em 94/EUA
e 37 bilhões em 98/França).
Durante os 30 dias do Mundial (de
31 de maio a 30 de junho), 13 mil pes-
soas estarão envolvidas diretamente na
realização, entre atletas, comissões téc-
nicas, representantes da FIFA, voluntá-
rios, pessoal de apoio (médicos, enfer-
meiros, segurança, cozinheiros, moto-
ristas, guias turísticos e intérpretes) e
patrocinadores oficiais (Adidas, Avaya,
Budweiser, Coca-Cola, Fuji Xerox, Fuji
Films, Gillette, Hyundai, JVC, Korea
Telecom, Master Card, McDonalds,
Phillips, Toshiba e Yahoo). Para apoiar
o sistema de informação, 20 mil catálo-
gos sobre a Copa “Welcome to Korea/
Japan” foram confeccionados e distri-
buídos para os profissioais da impren-
sa. O mundial representa um incre-
mento para a economia japonesa, o
que significa 0,1% do PIB anual, se-
gundo estudos e pesquisas realizados
pela Dai-Ichi Life.
A Copa do Mundo é uma forma de
comunicação que influencia diretamen-
te no marketing e que se utiliza da
tecnologia como um instrumento pode-
roso de informação ágil, rápido e preci-
so, que chega a bilhões de pessoas num
dos mais importantes momentos de en-
tretenimento do planeta.
No macro, nos tornamos globais e a
dinâmica do marketing é respeitada nas
três abordagens: a filosofia de negócios,
o marketing estratégico e o marketing de
operacionalização (conjunto de ativida-
des que caracterizam este mega-even-
to). Porém, no micro, ao mesmo tempo
em que participamos deste movimento
globalizado, vivemos uma incompetência
em relação às variáveis locais, ou seja,
a realidade do futebol brasileiro. Isso
acontece em função de algumas situa-
ções. Em primeiro lugar, o futebol brasi-
leiro é representado por uma instituição
– CBF – Confederação Brasileira de Fu-
tebol –, com sérios problemas adminis-
trativos que incluem desde a inabilidade
de planejamento, organização, direção e
controle, até o descrédito em relação aos
procedimentos éticos de alguns dirigen-
tes. Além disso, clubes e marcas consa-
gradas como Flamengo, Santos e Vasco
convivem com o descaso em relação aos
seus consumidores e os milhões de dívi-
das e problemas que se refletem nos re-
sultados e, conseqüentemente, no com-
portamento da torcida.
O “TEC que mobiliza milhões” convi-
ve com um sistema primitivo que se apóia
na paixão e que se protege basicamente
nos interesses particulares de dirigentes
autoritários e despreparados. Não há
esperança, então? A luz da evolução, da
retomada, do exercício de fazer parte
desse sistema globalizado se encontra
num movimento suave e ainda silencio-
so que está na qualidade e talento de
jovens atletas capazes de transformar
sonhos em realidade, na revolução cien-
tífica e competência dos profissionais que
representam as comissões técnicas atra-
vés da preparação física, medicina, psi-
cologia, fisioterapia, fisiologia, nutrição e
assistência social e nas iniciativas que
incluem ações sérias refletidas na filoso-
fia de clubes que reassumem o compro-
misso com o trabalho. E o resultado? No
meio de tantas dificuldades, a final do
Campeonato Brasileiro foi marcada por
duas equipes – Atlético/PR e São Caeta-
no – que se destacaram não só pelos
resultados mas, principalmente, pelo
exemplo dado pelas torcidas – consumi-
dores de um esporte chamado futebol –
e que numa festa resgataram e compar-
tilharam a alegria, o convívio familiar, a
beleza estética dos símbolos e manifes-
tações, a competição que se vive dentro
de campo e o repeito pelo verdadeiro sig-
nificado da conquista. A cena que fica?
Ao sair do estádio, com o título do Brasi-
leiro 2001 – o ônibus do Clube Atlético/
PR, é aplaudido nas ruas de São Caeta-
no. Bobagem? Não. Vivemos um mo-
mento sublime numa partida de futebol,
o momento do reconhecimento do espe-
táculo, o momento único da satisfação
do consumidor.
“Ser um Vencedor é...
Descobrir a força interna capaz de
gerar, alcançar os mais incríveis resulta-
dos. É acreditar quando a maioria sorri.
É sonhar e trabalhar duro na realização
desses sonhos. É persistir, persistir e
persistir mesmo quando as chances pa-
recem impossíveis. É encontrar-se com
as dificuldades transformando-as em de-
safios. É preparar-se para o caminho a
ser percorrido. E é, também, sentir inten-
samente o prazer da vitória.”
• Psicóloga do Atlético-PR, tendo tra-
balhado em grandes clubes, inclusive na
Seleção Brasileira. Mestranda na Univer-
sidade Autônoma de Madrid, pesquisa-
dora e autora do livro “
Competência
Emocional – O Caminho da Vitória para
Equipes de Futebol
”, Ed. Gente.
P
ONTO DE
V
ISTA