Background Image
Table of Contents Table of Contents
Previous Page  55 / 136 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 55 / 136 Next Page
Page Background

janeiro/fevereirode2014|

RevistadaESPM

55

a emissora apresentou o filme

Nosso

Lar

, baseado no livro espírita homô-

nimo de Chico Xavier. Assim, a Glo-

bo faz sua própria bricolagem reli-

giosa, atendendo a diferentes nichos

de mercado. O discurso religioso

do festival e da novela reverbera na

constituição de valores individuais e

coletivos, no imaginário e cotidiano

popular brasileiro.

Revista da ESPM

— Como o senhor

define nossa sociedade?

Eduardo

— É uma pergunta difícil,

por sua amplitude e complexidade.

Uma das características marcantes

do “perfil religioso” da sociedade

brasileira é a mobilidade e a bricola-

gem. Outra é a intolerância à diver-

sidade, com destaque, entre outras,

à intolerância religiosa, que, por sua

vez, costuma ser imbricada a outros

marcadores, como nível econômico,

identidade de gênero e orientação

sexual. As expressões religiosas

brasileiras têm como característica

potente a intolerância ao diferente.

E, obviamente, a discriminação do

diferente não é prerrogativa apenas

dos religiosos. Faltam, como valores

praticados, o respeito às diversas

formas de diversidade em relação a

marcadores sociais, o amor ao próxi-

mo e o seu acolhimento sem querer

modificar-lhe no que ele não deseja

ser modificado.

Revista da ESPM

— Qual deveria

ser o papel da religião na vida das

famílias brasileiras?

Eduardo

— Analisar qual deveria ser

o papel da religião na vida das famí-

lias requer que se pense o que cada

uma das religiões tem, idealmente,

como credo, em quais valores são

baseadas. Umvalor comumamuitas é

o amor, o acolhimento. Se pensarmos

nesses como bases das instituições

religiosas, o papel ideal das religiões

deveria ser o de ensinar o amor, o

respeito à diversidade e acolher in-

distintamente, abrir a porta aos que

batem e convidar os que estão seden-

tos e famintos a se sentarem à mesa

e banquetearem. No caso da igreja

cristã, quem estaria ao lado de Jesus

hoje? Travestis, bêbados, garotas de

programa, anões, albinos, mendi-

gos, cegos, michês, lésbicas e gays,

amputados, paraplégicos, adictos, in-

digentes... Ou seja, de acordo com os

preceitos em que creem evangélicos

e católicos, Jesus acolheria a todos

os interessados em sua Boa Nova,

com todo o aconchego do universo.

Infelizmente, o que mais observo são

igrejas que dificultam ou impossibi-

litam, de formas diversas, o acesso

e inclusão igualitária. Se tais igrejas

são representantes de Cristo na Terra,

por que não costumamagir segundo o

Evangelho? Respeitar, acolher e amar

deveria ser a função, não somente de

católicos e evangélicos, mas, ideal-

mente, de todas as pessoas, indepen-

dentemente de seus credos religiosos.

Revista da ESPM

— A Igreja Católi-

ca Apostólica Romana ainda é a mais

influente no Brasil, mas tem perdido

fiéis a cada ano. Esse movimento de

queda tende a ser revertido nos próxi-

mos anos?

Eduardo

— Creio que a Igreja Cató-

lica Apostólica Romana retomará o

crescimento por meio de Francisco,

um papa identificado com o povo, al-

guém que deve reforçar a fé católica

graças a seu carisma e facilidade de

se comunicar e se apresentar midia-

ticamente. As igrejas evangélicas

pentecostais e neopentecostais,

especialmente as Assembleias de

Deus, a IURD (Igreja Universal do

Reino de Deus), a IIGD (Igreja Inter-

nacional da Graça de Deus) e a IMPD

(Igreja Mundial do Poder de Deus),

continuam em destaque. E com

algo em comum: o uso da teologia

do domínio, na qual o que importa

é conquistar espaços na política e

na mídia, procurando influenciar a

sociedade de todas as formas pos-

síveis, até por meio da educação.

Atualmente, a situação das igrejas

brasileiras pode ser caracterizada

pelo esforço de se conquistar uma

fatia do mercado religioso e, por ve-

zes, do mercado secular, já que estes

têm se imbricado cada vez mais. Isto

se dá pela oferta e atendimento a

demandas específicas de adeptos e

fiéis consumidores.

Revista da ESPM

— Quais são os

principais desafios a serem enfrenta-

dos pelas igrejas, atualmente, para

ampliar sua participação no Brasil?

Infelizmente, o quemais observo são igrejas

que dificultamo acesso e a inclusão igualitária.

Se tais igrejas são representantes de Cristo na

Terra, por que não costumamagir como ele agiu?