entrevista | Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Filho
Revista da ESPM
| janeiro/fevereirode 2014
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Eduardo
— O principal desafio pro-
vavelmente seja conquistar uma “re-
ligious share of market” e consolidar
e manter sua marca no mercado. É
atentar à concorrência e estar apto
a se reinventar, flanqueando os con-
correntes, como já ensinavam Jack
Trout e Al Ries. Em um contexto de
igrejas que têmbasicamente omesmo
público, é comum que se reproduzam
características que já dão certo emou-
tras igrejas e que se procure inovar em
outros aspectos. E, como lembram os
estudiosos do paradigma americano
da economia religiosa, para nichos
mercadológicos não detectados, a ten-
dência é que surjam igrejas especiali-
zadas nestes. Após o aparecimento de
igrejas que tocam
heavy metal
, como a
CrashChurch, é possível que surja um
grupo evangélico especializado em
um subgênero, como o
doommetal
. Há
igrejas que se denominam inclusivas
LGBT, e é plausível que surja uma co-
munidade evangélica que tenha como
público-alvo os travestis. E daí por
diante: para públicos não atendidos, é
possível que novas agências religiosas
sejamcriadas para acolhê-los.
Revista da ESPM
— Depois de es-
tudar tantos movimentos religiosos, a
que conclusão você chegou?
Eduardo
— Pessoalmente, eu parti-
cipei de diversas religiões. Fui criado
em um colégio de freiras. Frequentei
por quase uma década a Federação
Espírita de São Paulo, fazendo vários
de seus cursos. Conheci a wicca,
bruxaria natural, almas e angola,
candomblé, umbanda e hinduísmo
e transitei por diversas igrejas evan-
gélicas. Abdiquei de um seminário
teológico no exterior, da Calvary
Chapel, que me formaria pastor, para
fazer minha pesquisa de mestrado
sobre a Bola de Neve Church. Aliás, a
Calvary Chapel é outra igreja que tem
os surfistas como principal nicho
mercadológico e que pesquisei, as-
simcomo os Surfistas de Cristo. Hoje,
nada tem um sentido acabado ou
definitivo para mim. Assim como as
expressões religiosas que pesquisei
e que se encontram em processo de
ebulição e derretimento identitário,
assim somos nós, pessoas em contí-
nua (des/re)construção identitária.
Eu pelo menos sou.
EduardoMeinberg: ”Opapel ideal das religiões deveria ser o de ensinar o amor, o
respeito à diversidade e acolher indistintamente, semacusações ou julgamentos”
latinstock
Ao adotar umdiscurso liberal e uma
prancha como altar, a igreja criada
em1999, pelo surfista e apóstolo
Rina, cresceu e hoje conta com200
unidades e 60mil fiéis
Atualmente, a situação das igrejas brasileiras pode
ser caracterizada pelo esforço de se conquistar uma
fatia domercado religioso e, por vezes, domercado
secular, já que estes têmse imbricado cada vezmais