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janeiro/fevereirode2014|

RevistadaESPM

51

para capacitar esses desempregados. Até aqui há uma

excelente adequação entre os valores e as decisões da

empresa. Porém a rede acabou comprando produtos

menos lucrativos por conta de uma recessão econômica

no setor. Os lucros caíramconsideravelmente, e os acio-

nistas exigemo cumprimentode umdos valores, o

Lucro

.

Ora, para normalizar os lucros, seria preciso cortar os

programas de

Responsabilidade Social

... Aqui também

não há uma resposta, uma vez que não há valores mais

importantesdoqueoutros.Optar por umdosvalores seria

como dizer que há coresmais importantes do que outras

ougrupos humanosmelhores doque outros. Tantoos tra-

balhadores quanto os clientes vão olhar para a empresa

e questionar: “E agora? Que valor vocês vão respeitar?”.

Nessas situações, as decisões terão de ser bem pen-

sadas e justificadas pela direção do estabelecimento.

Participação revolucionária

Oquemais incomoda a alta cúpula das organizações são

as insubordinações das novas gerações. Afinal, querem

trabalhar quando querem, da forma mais conveniente

possível e no que gostam— semusar uniforme ou roupa

social. Para manter esses funcionários na organização

é preciso ter jogo de cintura e ser bom em negociação.

Eles são os novos representantes da geração digital 2.0,

que não se enquadramnos arcaicos padrões da geração

baby boomer

. Pior, representamos novos consumidores

ativos e exigentes.

Quando esses novos profissionais digitais chegaram

ao mercado de trabalho, legitimados pela expansão da

internet, eles iniciaram os questionamentos das auto-

ridades, hierarquias e planos de carreira. Não demorou

para elesmudarema cultura organizacional de uma ins-

tituição. A nova geração de consumidores e trabalhado-

res não aceita mais ordens sem sentido, horários fixos,

produtos padronizados e metas pelas quais eles não

se motivam em cumprir — cada vez mais as empresas

investememprogramasmotivacionais, semsucesso. As

novas gerações querem conversar, questionar e propor

soluções para tudo: política, educação, produtos, servi-

ços e, para desespero dos velhos gestores, na maneira

como as empresas gerenciamseus recursos financeiros

e humanos. Se as empresas não escutamseus funcioná-

rios, elas podemperdê-los para o concorrente. Com isso,

perdem tambéma capacidade de conseguir entender os

novos públicos consumidores.

Nos últimos três anos, nossa consultoria ética em

diversas organizações constatou o anseio dos traba-

lhadores em participar ativamente das decisões que

os afetam. A figura do chefe seguro de si, experiente

e que bate metas vem perdendo lugar para a figura do

líder que conversa e cativa seus colegas de trabalho. Os

impactos dessasmudanças culturais, e as formas como

as empresas lidam com elas, resultaramno livro

O exe-

cutivo e o martelo

(Editora HSM, 2013), que trata da ética

nos negócios posicionada na contramão dos discursos

dominantes no campo.

Nossa sociedade não aceita mais respostas prontas

para seus problemas, nem o discurso de especialistas

que se propõem a responder. Não aceita mais as demo-

cracias representativas, onde escolhe porta-vozes para

lhe representaremno condomínio ou no Estado. Como

nas redes sociais, as pessoas querem ter o direito de ser

escutadas e de escolherem seu próprio destino. Não

desejammais produtos formatados, como os tradicio-

nais sorvetes de palito, querem produtos singulares,

como as sorveterias que fazem sorvetes personaliza-

dos a pedido dos clientes. Queremmontar seu próprio

hambúrguer, estilizar as roupas que compram, mudar

a cor dos celulares que usam. Os velhos discursos éti-

cos não são mais aceitos pela sua falta de sentido. São

rejeitados emnome de uma anarquia libertária que des-

constrói poderes e autoridades preestabelecidas. Não

aceitamosmais uma “ordempública” alheia aos nossos

interesses. A ética do século 21 quer ser radicalmente

democrática, inclusiva e participativa – mais humana

e menos serviçal. Na prática, isso significa que os valo-

res das organizações que sobreviverem às mudanças

serão cada vez mais negociados.

Arthur Meucci

Mestre em filosofia pela USP e doutorando em educação, arte e história

da cultura pelo Mackenzie. Psicanalista, consultor e editor-chefe do

Espaço Ética, professor de filosofia corporativa e ética do HSM e professor

conferencista da ECA/USP. É coautor do livro

O executivo e o martelo:

reflexões fora da caixa sobre ética nos negócios

(Editora HSM, 2013).

Clóvis de Barros Filho

Doutor em direito pela Universidade de Paris e doutor em comunicação

pela ECA/USP. É conferencista e consultor do Espaço Ética, consultor

de ética da Unesco, professor de filosofia corporativa e ética do HSM,

professor livre-docente da ECA/USP e coautor do livro

O executivo e o

martelo: reflexões fora da caixa sobre ética nos negócio

s