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entrevista | Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Filho

Revista da ESPM

| janeiro/fevereirode 2014

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Revista da ESPM

— No livro, o se-

nhor mostra como o discurso das igre-

jas neopentecostais vem angariando

cada vez mais fiéis. Com base em seus

estudos, como você define o movimen-

to evangélico, em geral, no Brasil?

Eduardo

— Meus estudos sobre reli-

giões e religiosidade não se restrin-

gem à Bola de Neve Church (BDN).

A BDN é um estudo de caso que de-

monstra o crescimento e a potência

das igrejas evangélicas, sobretudo

das consideradas neopentecostais,

na sociedade brasileira atual. Há,

contudo, diferenças entre a BDN

e outras igrejas neopentecostais,

como a Igreja Universal do Reino de

Deus (IURD), a Igreja Mundial do

Poder de Deus (IMPD), a Igreja Inter-

nacional da Graça de Deus (IIGD), e a

Associação Vitória em Cristo (Avec).

Mas todas as igrejas neopentecostais

se amparam em teologias como a da

prosperidade, da cura e libertação,

da batalha e do domínio espiritual.

Revista da ESPM

— E qual é o im-

pacto do crescimento das igrejas neo-

pentecostais na sociedade brasileira?

Eduardo

— O Brasil é um país que

se define como laico, mas tem como

uma de suas maiores características

o sentimento religioso da maior par-

te de seu povo. E é inegável a potên-

cia que o discurso religioso tem na

constituição da maioria dos brasilei-

ros, caracterizados pela mobilidade

e costura religiosa, principalmente,

por meio da mídia e da política.

No caso da BDN, a plataforma de

promoção midiática exponencial

não é a tevê, e sim o ciberespaço.

Assim, é uma igreja muito mais “ci-

berespacial” ou “cibernética” que as

demais, comumente chamadas de

“igrejas eletrônicas”. A BDN aponta

para o fenômeno das religiões e da

religiosidade no e do ciberespaço.

É uma igreja de jovens para jovens,

uma igreja alternativa, que tem o

que chamo de discursos derretidos

e congelados, relativos à aparente

flexibilização das leis. É algo como

um “vinho velho em odres novos”.

Há uma casca nova, que envolve um

conteúdo conservador.

Revista da ESPM

— De maneira ge-

ral, qual é a influência da religião nos

valores dos brasileiros?

Eduardo

— Hoje, a religião influen-

cia a mídia, que influencia o público

e assim por diante, em um processo

contínuo. A Rede Globo, por exem-

plo, até pouco tempo atrás, motivada

pela concorrência da Rede Record,

do Edir Macedo, quandomencionava

os evangélicos em sua programação,

geralmente era a partir de umdiscur-

so pejorativo e desdenhoso. Com o

crescimento e a maior participação

política dos evangélicos, a Globo tem

investido numa aproximação com

esse público. O Festival Promessas

é um reflexo disso. Outro exemplo

é a novela

Amor à Vida

, que usou a

personagem de Carolina Kasting, a

Gina, para conquistar a simpatia dos

crentes. Na trama, ela se converte

por meio de oração de aceitação a Je-

sus e ainda recebe um convite de na-

moro de um líder da igreja, seguido

de um beijo de novela.

Amor à Vida

também apresentou um romance en-

tre Thales (interpretado por Ricardo

Tozzi) e sua ex-noiva, já desencarna-

da, Nicole (Mariana Ruy Barbosa).

Em outro capítulo, o personagem

Jacques (Julio Rocha) fala a Pilar (Su-

sana Vieira): “Eu quero entrar em sua

casa, eu quero entrar em sua vida”.

Aparentemente, remete à canção

de Regis Danese que pede a Jesus:

“Entra na minha casa, entra na mi-

nha vida”. Curiosamente, algumas

horas após a exibição deste capítulo,

Uma das característicasmarcantes do “perfil

religioso” do brasileiro é amobilidade e a bricolagem.

Outra, infelizmente, é a intolerância à diversidade

emseusmúltiplosmarcadores sociais

Livro que aBola deNeve Church

tentou censurar apresenta

as estratégias utilizadas pelas

igrejas neopentecostais para

conquistar seguidores

divulgação