Entrevista
R e v i s t a d a E S P M –
maio
/
junho
de
2009
68
JRWP – Vamos falar um pouco da
sua experiência, Vera. Perdoe-me
apergunta“machista”,masquando
vocêingressounacarreira,em1968,
mulheres na diplomacia brasileira
eracoisaaceitacomonormal?
Vera Pedrosa – Não. Havia
uma diferençamuito grande por-
que durante muitos anos antes
de 1968 – quer dizer, houve um
período em que foi admitida a
presença da mulher na carreira,
depois houve umperíodo emque
foi proibida e suspensa.
JRWP –Quando?
Vera Pedrosa –Durou bastan-
temas voltaram a admitirmulhe-
res poucos anos antes da minha
chegada. Naminha turma de trin-
ta e poucos alunos, eram apenas
quatro mulheres. Havia a ideia
da carreira não ser adequada às
mulheres, por conta da questão
do casamento, por exemplo, por-
que a jovem se casaria com um
diplomata ou com outra pessoa
e teria de abandonar a carreira...
JRWP–Usamessadesculpaatéhoje...
Vera Pedrosa – Por outro
lado, 1968 foi um ano difícil
para todos. Era um momento
bastante sombrio – embora não
se expressasse muito claramente
– mas um grande desconforto, a
sensação de perda de liberdade,
de expressão, constrangimento.
Mas devo admitir que como a
carreira diplomática é muito
hierarquizada, não houve uma
convivênciamuito difícil entre o
Itamaraty eo governo.Mas foi um
momento difícil para todos, não
apenas para as mulheres.
JRWP–VocêcomeçounoBrasil?
Vera Pedrosa – Sim. Man-
davam as mulheres para o de-
partamento cultural ou para a
administração – eu fui para o
departamento cultural e depois
para a Secretaria Geral. Depois
passei para aDivisãodeTranspor-
tes eComunicações para tratar de
transportes aéreos.
JRWP – Quando você foi para
o exterior?
Vera Pedrosa – Demorou um
pouco. Em1972, fui paraMadrid.
JRWP–SerfilhadeMarioPedrosa
naquele momento teve alguma
implicação–contraoua favor?
Vera Pedrosa – Entre 1968 e
1970 não, mas a partir de 70 sim,
porque em70houve um episódio
em que se decretou a prisão pre-
ventiva de um grupo de pessoas
e ele foi para o Chile onde se
exilou. A partir desse momento,
minha vida ficou um poucomais
difícil. Mas aprendi muito sobre
a natureza humana. Acho que
posso dizer que sim, houve, ini-
cialmente, dificuldades pelo fato
de ser filha de Mario Pedrosa.
Manolita–Aliás, tenhogrande
curiosidadesobrea influênciaque
eleexerceu, porqueéumafigura
emblemática.Imaginooprivilégio
de ser filha de uma pessoa com
ideias tão renovadoras, em pen-
sar umBrasil – achoque foi uma
geração muito especial porque
pensavaumBrasil comotimismo
e, ao mesmo tempo, com uma
proposta absolutamente nova
deumpaís que sedesligasseum
poucodas visõespreconcebidas.
VeraPedrosa –De fato, ele era
um otimista inabalável. Nunca
abandonou sucessivos projetos;
os envolvimentos partidários
eram descontinuados porque ele
não era uma pessoa disciplinada,
que seguisse cegamente uma li-
nha partidária.Mas sempre acre-
ditou no Brasil, no progresso do
Brasil e num mundo melhor, do
ponto de vista global: quer dizer,
sempre acreditou na capacidade
de superação das dificuldades,
dos conflitos, das rivalidades
por ter uma visão esclarecida e
inteligente do mundo.
}
Mádistribuiçãode rendaéanossa
grande fragilidade.
~