Vera
Pedrosa
maio
/
junho
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
71
}
O jornalistanão tem liberdade
deexpressão; elaédo jornal.
~
uma realidade diferente, interes-
ses diferentes, são países muito
mais ligados ao hemisfério norte.
Na América do Sul também há
países muito ligados aos Estados
Unidos por conta da importância
do intercâmbio comercial, mais
os países da costa pacífica – a
Colômbia, o Chile e, de certa
forma, o Peru; depois o Equador
– que sempre esteve nessa órbita
também – e que, agora, tem um
presidente que quer se impor de
outras formas.
JRWP – Você é de opinião que
o papel de liderança – ou pelo
menos de maior importância
do Brasil – passa por algum
tipo de posição na América do
Sul ou pode haver um “atalho”
para que o Brasil se torne um
“player” no primeiro time?
Vera Pedrosa – É importante
que comece com a América do
Sul, baseada em interesses co-
muns que são reais e palpáveis,
econômicos, geopolíticos etc.
Evidentemente, o grande proble-
ma doBrasil é oda fissura interna
entre ricos e pobres. Amá distri-
buição de renda é a nossa grande
fragilidade. Comparo essa situa-
ção à de uma mesa com quatro
pernas, onde uma é sólida e as
outras três frágeis; se houver um
peso, um choque exterior, o de-
sequilíbrio se instala. Precisamos
transformar esse país num país
socialmente saudável...
JRWP – Não injusto.
Vera Pedrosa – Há, ainda,
muita cegueira para essa realida-
de nopaís, entre as nossas classes
dominantes, onde também há
uma tendência a pensar “vamos
nos aliar aos fortes lá fora; não
vamos nos aliar aos que são tão
fracos como nós”. O que não
é verdade, porque alguns são
países commuito potencial, cul-
turalmente, às vezes com classes
médias mais bem formadas do
que as nossas. São países im-
portantes, também do ponto de
vista das ligações territoriais e de
transporte. Não devemos deixar
de atuar com esses países e a
política externa brasileira deve
dar-lhes importância.Temosmais
afinidades com esses países do
que com a Itália, por exemplo.
JRWP – Dizer isso aqui em São
Paulo pode ser complicado...
Vera Pedrosa – É complicado
mas é verdade. Não só em São
Paulo,mas em toda parte doBrasil,
todos têmumpéno exterior – você
éWhitaker, eu souHouston...
Manolita – Uma coisa queme
tem chamado a atenção é o que
hoje se chama de BRIC – Brasil,
Rússia, Índia eChina, todos têm
características muito parecidas.
Sãopaísescomproblemassociais
gravíssimos, onde há concen-
tração de renda muito grande;
uma classe ou liderança política
e econômica bastante insensível
e há necessidade de um proces-
so de democratização efetivo,
e não apenas que seduza com
palavras. Dá um certo medo,
que seja esse omodelodo futu-
ro, pois são países que, de fato,
desconsideram a importância
de um processo democrático e
têm projetos econômicos que
produzem resultadosapenaspor
explorar intensivamente grande
parte da própria população. Por
outro lado, me chama atenção
também a política internacional
doatual governo, especialmente
projetosnomundoacadêmico.Em
particularacriaçãodetrêsuniversi-
dades, que têm, por objetivo, um
processo de integração regional.
O projeto é liderado pelo profes-
sor Hélgio Trindade e consiste
(1)
na criação da UNILA em Foz do
Iguaçu – uma escola já existente
–queéumauniversidadebilíngue
onde 50% tanto do professorado
quantodoalunatoédospaísesque
formariam o Mercosul e latino
americanodeummodogeral;
(2)
temosaUniversidadedeReden-
ção, para integrar os povos de
língua portuguesa, umprojeto
muito interessante – apesar de
todas as resistências, porque
î