R e v i s t a d a E S P M –
maio
/
junho
de
2009
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Diversidade
linguística
culturas humanas. Essa elaboração
sob forma simbólica da experiên-
cia contribui para que recriem o
mundode acordo com suas neces-
sidades e valores. Com isso têm a
possibilidade de representar emo-
dificaroambiente, compartilhando
experiências comuns adaptadas ao
seu modo de vida, promovendo
expressões diferenciadas de cul-
tura. Na medida em que inexiste
uma racionalidadeúnica, tampou-
co uma única forma de pensar e
viver, infere-se a inexistência de
sistemas linguísticos ecumênicos
(SANTOS, 2002, p.109). Levando
emcontaque tantoaculturaquan-
toa língua têm raízes, significados
e características próprios, há uma
espécie de circularidade entre as
duas e por issomesmo são quali-
tativamente comparáveis.
Enquanto instrumentoque permite
a comunicação entreos homens, a
línguaéparte intrínsecadahistória
dos povos, traduz seu inconscien-
te, códigos sociais e referências
coletivas. Então, cada uma delas
é um universo, cuja estrutura de
pensamento é única. Suas associa-
ções, metáforas, modalidades de
pensamento, vocabulário, sistema
fonéticoegramatical sãopeculiares
e funcionam conjuntamente para
formar uma estrutura arquitetôni-
ca (MOSELEY, 2009). Razão pela
qual a preservação da
diversidade
cultural
depende diretamente da
diversidade linguística
. Guillaume
Vuilletet (2005, p.28-29) destaca
a importância da língua e da di-
versidade linguística chamando
atenção para aspectos culturais,
científicos, econômicosepolíticos.
Para oAutor,
Apráticada línguaganhacentralida-
de entre nações que compreendem
a língua como parte integrante do
patrimônio nacional, exercendo
influência comparável ao seu territó-
rio ou a sua história. Nesta direção,
“défendre la langue nationale, c’est
défendre l’indépendance nationale”
– ideia já expressa em versos tanto
por Fernando Pessoa (
Aminha pátria
é a língua portuguesa
) quanto por
CaetanoVeloso (Língua).
Opapelda línguanavidaeconômica
de um povo se manifesta particu-
larmente nas atividades ligadas ao
comércio, à gestão e às profissões
subordinadasao setorde serviçouma
vez que as relações de trocas são
precedidaspornegociaçõese trâmites
que envolvem tanto a comunicação
oral quanto a escrita.
Opensamentocientífico,por suavez,
é fortemente influenciadopelasestru-
turas linguísticas,assimsendo, “traiter
de questions scientifiques dans une
langue étrangère conduit dans une
certainemesureàadopter lesattitudes
de pensée et les démarches intellec-
tuelles de la civilisation dont elle est
expression” (p.29). Referindo-se às
ciências sociais, Anthony Giddens
(1996,p.127)afirmaqueseoscientis-
tassociaisdominassemvárias línguas,
os resultados das investigações reali-
zadasseelevariamsobremaneirauma
vezque “odomíniodeoutras línguas
abre o espírito do estudioso a outros
modosdeorganizaroconhecimento.”
Adiversidade linguística tem implica-
çõesmuitoamplasporqueenvolve re-
ferênciasculturaisnamedidaemque
tanto a Filosofia quanto a prática do
Direito, os princípios e as estruturas
sociais, os valores políticos e até os
modelos econômicos são suportados
pela língua.
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Pelo fato de serem produtos do am-
biente social, as línguas são territoria-
lizadas, expressamavisãodemundo
ea identidadedosatoresque formam
determinado grupo social. Mas com
a intensificaçãodo comércio e o ad-
ventodaexpansão territorial ocorrea
emergência de dois eventos aparen-
temente contraditórios: por um lado
ocorre desagregação e por outro o
enriquecimento linguístico (SANTOS,
2002, p.109).
Apesardeos linguistasassegurarem
que todas elas seequivalem, social-
mente as línguas são desiguais na
medida em que o valor atribuído
a cada uma delas varia (PRADO,
2004, p.67). Para Jean-Louis Calvet
(1999, apud PRADO, 2004, p.67),
seriadifícilavaliara importânciadas
diversas línguas existentes e mais
difícil ainda hierarquizá-las. Con-
tudo, o uso recorrente de algumas
expressõescontribuipara forjaruma
espécie de classificação possível –
línguas minoritárias, pequenas lín-
guas, línguasmenos faladas, línguas
veiculares, grandes línguas, línguas
regionais, línguas internacionais
,
entreoutras–mas taisclassificações,
adverteoAutor, “estãomais ligadas
à ideologia e às relações de força
do que à ciência” (CALVET, 1999,
apud PRADO, 2004, p.66) – ideia
que vai ao encontro da teoria da
legitimidade cultural, proposta por
Pierre Bourdieu (2007).
Partindo do princípio de que o
domínio dos códigos de linguagem
viabilizaacomunicaçãoeampliaa
compreensãoentre indivíduosdedi-
ferentes culturas, aprender diversas
línguas equivalea reduzir asbarrei-
rasprovocadaspelas singularidades
culturais eampliar os horizontes de
visão. Então, quais seriam os crité-
riosqueas famíliasutilizariamquan-
do podem escolher a(s) língua(s)
queosfilhos irãoaprender ouquais
seriamoscritériosconsideradospe-
los países cujos governos decidem