Vera
Pedrosa
maio
/
junho
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
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}
Ovoto secretoera
consideradoerradopor eles.
~
JRWP – Existe uma Declaração
Universal dos Direitos Humanos
paralela para os países muçul-
manos – acredito que você co-
nheça –é aDeclaraçãodoCairo;
ela estabelece que acima dos
direitos humanos estão a Charia
eoCorão.Quando li sobre isso,
minha primeira reação foi nega-
tiva; depois parei para pensar e
me perguntei por que os islâmi-
cos não têm o direito de pensar
diferente de nós. Em relação aos
povos africanos, por exemplo,
direito individual é um conceito
dedifícil compreensão:paraeles
o verdadeirodireito é coletivo, é
odireitodogrupo, da tribo.
Vera Pedrosa – Certa vez re-
cebi, na Embaixada, os dirigentes
de uma comunidade indígena do
Equador – vieram dizer-me que
o voto secreto era considerado
errado por eles, porque, nas
comunidades, as pessoas têm de
declarar o seu voto e assumir a
responsabilidade pela posição
que assumem.
JRWP –O que também émuito
saudável.Mas gostaria depedir
àManolitaque falasseumpouco
sobre um outro aspecto impor-
tantedonosso tema:aeducação
como fator de aproximação en-
tre os povos.
Manolita – Tenho trabalhado
sobreesses temas aqui na Esco-
la, há três anos. Écomo se fosse
uma cebola, vamos estudando
“por capinhas” na expectativa
de chegar ao núcleo – e acho
que ainda não cheguei lá. Pro-
curamos saber oqueestá acon-
tecendo em termos mundiais,
focandona educação superior.
O que se percebe – dentro de
uma perspectiva panorâmica,
pegando grandes cenários – é
que já aconteceu a internacio-
nalização da educação supe-
rior;os resultados econômicos
são visíveis, algunspaíses assu-
miram lideranças acadêmicas
reconhecidas. Essamobilidade,
em função da valorização de
um perfil mais cosmopolita,
tem gerado divisas. Saindo de
uma perspectiva macro, para
uma perspectiva mais micro, a
partir de histórias de vida (ou
seja, estudantes que deixaram
oBrasil nos seus17, 18, 20anos,
e viveram por um ano ou dois
uma cultura diferente), é uma
revolução na vida deles; eles,
de fato, transformam-se como
indivíduos.Deum lado agente
vêpor umaperspectivabastan-
te mercantil e, por outro, se
vê, de fato, que existe ummo-
vimento cultural importante.
Talvezomais significativo, seja
dentroda própria Europa, com
a União Europeia e todos os
programasque foramdesenvol-
vidos comoobjetivode conhe-
cer a cultura dos diversos paí-
ses, exercitar a língua de cada
um... O projeto é que, com
cada país pertencente à União
Europeia, aspessoasdominem,
pelomenos, duas línguas além
da original. É um embrião de
democratização cultural; que
nãoépor anulaçãomas simpor
enriquecimento.
JRWP – O que você poderia
dizer sobre isso, Vera?
Vera Pedrosa – Acho que
isso é verdade, mesmo na Eu-
ropa, você tem os países peri-
féricos – tipo os países escan-
dinavos – em que o aluno já sai
da escola secundária sabendo
três ou quatro idiomas.
JRWP – Eles foramprecursores?
VeraPedrosa – Foram, porque
falam línguas que ninguém fala –
e são países com cinco milhões
de habitantes, outros com 15,
20, tiveram de aprender. Já nos
países maiores como Inglaterra,
Espanha e França é mais difícil,
acho que há uma resistência
um pouco maior para o aluno
aprender mais de uma língua
estrangeira; foi o que percebi na
França e na Espanha. Na Espanha
há dificuldade até por se tratar
de uma língua muito moderna,
com menos sons vocálicos e
î