Vera
Pedrosa
maio
/
junho
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
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Somosumpaísponderável, temospeso
próprioe issopodeassustar.
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JRWP – É esse “mundomelhor”,
queestamosa focalizarnestaedi-
ção. Na perspectiva dessas suas
viagens – tanta gente que você
conheceu, com culturas diferen-
tes–vocêachaquenessemundo
“melhor”,aspessoasvãosermais
parecidasoumaisdiferentes?
Vera Pedrosa – Acho que
existe uma grande homogenei-
zaçãonomundo, principalmente
cultural. As pessoas passaram a
se vestir igual, ouvir as mesmas
músicas, fazer asmesmas coisas,
osmesmos padrões de consumo.
Você vai a Cuba, vê aqueles me-
ninos vestidos com as mesmas
roupas dos meninos americanos.
Você vê isso no Japão. Existe
essa tendência a uma queda de
individualidades locais, culturais,
regionais – acho que sim – numa
cultura de massa, que não é,
talvez, a cultura mais profunda.
Existem núcleos de resistência,
de manutenção das culturas. Ve-
mos isso na América Latina, nos
países que têm grande presença
indígena, comum longopassado,
culturalmente significativo, que
mantiveram costumes, línguas,
idiomas ainda se expressam nas
suas línguas tradicionais,mantêm
seus ritos religiosos tradicionais,
continuam a vestir-se com seus
trajes típicos. Eu vivi no Equador.
Lá, o indígena que se vestia como
indígena atuava como indígena,
participava dos movimentos in-
dígenas, era indígena; quando ia
para a cidade e passava a vestir
terno gravata ou blue jeans, já
não se considerava índio.
JRWP –Quando entrevistamos
o João Havelange ele comen-
touque o fatode ser brasileiro
contribuiu para o sucesso dele
na FIFA. Você compararia a sua
experiência como diplomata
com a do JoãoHavelange?
Vera Pedrosa – Acho que ser
brasileiro é uma situação vista
com simpatia, de um modo ge-
ral, a não ser, talvez, naAmérica
do Sul, onde há pessoas que se
assustam um pouco diante da
dimensão territorial brasileira.
JRWP – Nos veem um pouco
como imperialistas?
Vera Pedrosa – Aqueles anos
de “Brasil maior do mundo”
deixaram certos resquícios de
temor diante de um vizinho cujo
potencial é, claro,muito grande –
somos umpaís ponderável, temos
um peso próprio na região e no
mundo e isso pode assustar. Fora
isso, acho que somos tratados
com simpatia, mas com maior
oumenos interesse. Quando vivi
na Espanha, não havia imigra-
ção brasileira para a Espanha e
nós éramos extremamente bem
tratados. Hoje já há um pre-
conceito contra os brasileiros,
que não havia; Portugal eu não
conheci, na época; na França,
sempre houve uma simpatia por
brasileiros e, mais recentemente,
uma verdadeira paixão, um amor
pelos brasileiros.
JRWP –Qual será a origem dessa
simpatiados francesespornós?
Vera Pedrosa – Creio que se
deve ao fato de eles estarem na
nossa “certidão de batismo”,
digamos, eles estavam presentes
desde o descobrimento, natural-
mente, e isso dá certo orgulho a
eles. Depois, achoque há, talvez,
alguma afinidade nas maneiras
de ser; houve, também, uma
influência enorme da França na
nossa formação intelectual du-
rante todo o Século XIX e parte
do Século XX e há, ainda, um
}
NaFrança, háumaverdadeira
paixãopelosbrasileiros.
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