entrevista | Pedro Francisco Moreira
Revista da ESPM
|março/abril de 2014
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Arnaldo –
Como o senhor vê a evo-
lução da logística dentro das organiza-
ções brasileiras?
Pedro –
Em primeiro lugar, é im-
portante conceituar o que é logís-
tica. Hoje, ela representa um papel
fundamental dentro de qualquer
organização. Sua função é planejar,
implementar processos, controlar
de um modo bem eficiente o fluxo
e a estocagem dos produtos. É a lo-
gística quem estabelece os serviços
relacionados e as informações de
produção, desde o ponto de origem,
a matéria-prima e manufatura do
produto, chegando até o ponto de
consumo, ou seja, o supermercado
e o shopping, visando atender às
necessidades do cliente. Essa é uma
definição importante, porque, ape-
sar da evolução da logística ao longo
dos anos, muitas empresas e pro-
fissionais confundem a atividade
com o transporte de mercadorias. É
claro que o transporte é um elemen-
to importante, até porque impacta
bastante em termos de custo. Mas é
preciso destacar essa visão da inte-
gração, do planejamento e também
do gerenciamento das informações,
como o pedido do produto, a neces-
sidade de manufatura em função da
carência de estoque e a entrega den-
tro dos prazos estabelecidos.
Arnaldo –
Esse papel da logística vem
sendo reconhecido estrategicamente?
Pedro –
A logística tem alcançado
um destaque importantíssimo nas
organizações, principalmente nas
multinacionais, pela cultura que
já existe lá fora. Mas há também
muitas empresas locais que, pela
necessidade de competição, come-
çam a dar um peso maior à área.
Isso acontece em nível gerencial,
de diretoria, e, em alguns casos, de
vice-presidência de logística ou da
cadeia de suprimentos. Seu papel
de liderança é crescente na iniciati-
va privada.
Arnaldo –
Ou seja, o executivo de
logística já atingiu pelo menos o nível
de diretoria?
Pedro –
Durante muito tempo ela
estava restrita à esfera das gerên-
cias, mas este cenário está mudan-
do rapidamente. A evolução deste
segmento sofria de um atraso que
estava relacionado ao próprio desen-
volvimento da nação, mas já recupe-
ramos muito desta defasagem. Há 15
ou 20 anos, o conceito de logística
não era muito claro. As empresas
falavam em área de transporte e
de armazenagem; eram atividades
muito básicas, normalmente lidera-
das pelo gerente financeiro, admi-
nistrativo, ou até pelo engenheiro
de manufatura. A logística era um
apêndice dessas funções. Hoje, as
empresas já enxergam a necessi-
dade de fazer com que a logística
participe ativamente na concepção
de produtos, na estratégia de merca-
do, seja na busca por um segmento
de consumo mais fracionado ou,
no caminho inverso, onde existe
demanda por maior escala. A logís-
tica assume uma função estratégica
nessas situações.
Arnaldo –
Em que indústrias o senhor
acredita que a logística está se desen-
volvendo de maneira mais acelerada e
eficiente no Brasil?
Pedro –
Entre os grandes setores,
sem dúvida, o automotivo é desta-
que, até pela evolução de conceitos
de gestão como o
just in time
e o
Kaizen. Mas podemos citar também
os segmentos de eletroeletrônicos,
alimentos e higiene e beleza. Os seg-
mentos de consumo clássico.
Arnaldo –
E dentro da cadeia logísti-
ca, onde as empresas estão dando mais
atenção a esse tema?
Pedro –
Sem dúvida, no planeja-
mento de manufatura. Outro ponto
é a estratégia da distribuição física:
como fazer o produto chegar ao
cliente final, via centros de distri-
buição ou por meio de operadores
logísticos terceirizados. Há uma
preocupação muito grande também
com os aspectos operacionais, por-
que as empresas estão sempre bus-
cando mais eficiência, e a logística
compõe uma parte importante dos
custos. Dependendo do segmento,
o custo logístico pode variar de 8% a
17% do faturamento total, incluindo
aí os custos diretos e indiretos de
mão de obra, armazenagem e movi-
mentação de materiais.
As empresas estão sempre buscandomais eficiência
e a logística compõe uma parte importante dos
custos. Dependendo do segmento, o custo logístico
pode variar de 8%a 17%do faturamento total