entrevista | Pedro Francisco Moreira
Revista da ESPM
|março/abril de 2014
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iniciativa privada e especialistas. Só
assim direcionaremos as soluções
de logística de que o país precisa.
Arnaldo –
E do que mais o Brasil pre-
cisa em termos logísticos?
Pedro –
Nós precisamos resolver
o desequilíbrio da matriz de trans-
portes, que ainda é muito centrali-
zada em rodovias. Nós não temos
a multimodalidade, que é um tema
fundamental: o uso de vários tipos
de transporte de produtos. Os
hubs
logísticos são amplamente utiliza-
dos na Europa, nos Estados Unidos,
e precisamos trazer isso para cá.
Podemos usar a ferrovia combinada
com a rodovia, a hidrovia com o
aéreo, e assim por diante. Preci-
samos equacionar o problema da
infraestrutura. É necessário investir
pesado nisso. Há também a questão
dos marcos regulatórios, que preci-
samser aperfeiçoados. E, realmente,
executar esses projetos todos que já
foram apresentados.
Arnaldo –
Como o senhor acha que
as empresas estão se virando com
toda a precariedade da infraestrutura
brasileira?
Pedro –
Apesar dos pesares, as
indústrias e os executivos têm feito
a sua parte. Os gargalos logísticos,
como vimos na crise de escoamen-
to da safra, a fila nos portos, têm
sido enfrentados pelas empresas. A
criatividade das organizações brasi-
leiras é algo que deve ser mais valo-
rizado. Com todos os problemas, nós
vemos alguns segmentos logísticos
crescendo de 10% a 15% ao ano.
Arnaldo –
Que segmentos da logísti-
ca estão crescendo mais?
Pedro –
Toda a parte de serviços
está avançando bastante. Há ope-
radores logísticos que terceirizam
parte da atividade da indústria,
como transporte, armazenagem e
processamento de produtos, que
estão crescendo até 20% ao ano,
mesmo com uma alta do PIB de
apenas 2%. Isso acontece porque as
indústrias estão buscando terceiri-
zar suas atividades para seremmais
competitivas e alcançar novos mer-
cados. No lugar de construir uma
nova planta de produção ou um cen-
tro de distribuição, às vezes é mais
estratégico fazer parcerias com um
operador logístico eficiente, sobre-
tudo em regiões como o Nordeste e
o Centro-Oeste.
Arnaldo –
Se o Brasil tivesse uma in-
fraestrutura logística eficiente, quanto
isso poderia acarretar em redução de
custos para as empresas?
Pedro –
O custo da logística varia
de 12,5% a 13,5% do PIB. Se tivés-
semos uma infraestrutura melhor,
daria para baixar esse valor em até
três pontos percentuais, para algo
em torno de 10%. Gosto de citar uma
pesquisa do Banco Mundial que
diz o seguinte: no Brasil, por haver
essa deficiência em infraestrutura,
alguns segmentos precisam ter de
duas a três vezes mais estoques que
uma empresa americana. É a única
maneira de evitar o desbalancea-
mento de matéria-prima e oferta ao
consumidor. Ou seja, é preciso ter
um inventário muito maior, para
compensar um problema de trans-
porte, uma greve em porto ou a
restrição de circulação de veículos
nas grandes cidades que venham
a atrapalhar a venda. Esse é só um
exemplo de como se pode melhorar
bastante a competividade com a me-
lhoria de infraestrutura.
Arnaldo –
O conceito
just in time
na
indústria já é bem antigo, mas o Brasil
continua muito atrasado por causa des-
sas deficiências estruturais?
Pedro –
Ter estoque baixo é um
risco. Temos um bom exemplo de
just in time
, que é a indústria auto-
mobilística. Mas ela se diferencia
por conseguir agrupar todos os for-
necedores ao seu redor, como é o
caso de cidades como São Bernardo
(SP), Curitiba (PR) e Camaçari (BA).
A indústria criou um modelo para
poder trabalhar com estoque mais
reduzido. Mas em outros setores
isso é mais complicado de ser feito,
e as empresas ficam sob o risco dos
fatores imprevisíveis. Por exemplo:
chove em São Paulo, as marginais
param. É um risco trabalhar em
just
in time
. Obviamente, com uma es-
trutura melhor, usando outros mo-
dais, há condição de planejar melhor
e reduzir esses custos.
A criatividade das organizações brasileiras é
algo que deve sermais valorizado. Com todos
os problemas, nós vemos alguns segmentos
logísticos crescendo de 10%a 15%ao ano