março/abrilde2014|
RevistadaESPM
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Arnaldo –
Como está a evolução
logística no comércio eletrônico, que é
um segmento de negócios com forte pre-
sença de pequenas e médias empresas?
Elas não têm capacidade de gerenciar
grandes estoques. Ainda enfrentamos
muitos problemas?
Pedro –
As grandes empresas con-
seguem trabalhar com um inventá-
rio maior e evitar a quebra no abas-
tecimento, embora isso represente
um custo elevado. Mas muitas não
têm essa capacidade e ficam vul-
neráveis à modelagem da entrega,
que no comércio eletrônico exige
prazos muito curtos, de até 72 horas.
O grande desafio do setor como um
todo é capilarizar as entregas, com
custos e prazos razoáveis.
Arnaldo –
Estamos muito longe desse
grau de eficiência?
Pedro –
É um mercado crescente,
com muitas oportunidades. Todo
empreendedor que pensa em ex-
pandir precisa estar atento ao co-
mércio eletrônico. As grandes em-
presas estão investindo muito em
tecnologia, mas no geral é um mer-
cado em que a logística pode fazer
muita diferença ainda. Ela tem um
impacto estratégico muito grande.
Arnaldo –
A Amazon, maior varejista
on-line domundo, tem como umde seus
maiores diferenciais a capacidade logís-
tica e há tempos estuda sua entrada no
Brasil. O senhor acredita que eles estão
tendo dificuldade para implementar
seus processos aqui?
Pedro –
A questão logística é um
dos motivos de tanta postergação
para entrar no mercado brasileiro.
Assim como outras grandes empre-
sas, ela terá de tropicalizar os seus
processos. Não vai ter jeito. O desa-
fio é se adaptar aos gargalos logísti-
cos, sobretudo em grandes cidades,
como São Paulo e Rio de Janeiro.
Arnaldo –
Falando em grandes cen-
tros, outro problema grave na logística
é a segurança. No ano passado o roubo
de cargas atingiu R$ 1 bilhão, sendo
R$ 500 milhões somente no Estado de
São Paulo. Como a questão está sendo
equacionada pelo segmento?
Pedro –
Há sinais de melhora. Tem
havido uma grande mobilização,
sobretudo de entidades como a
NTC&Logística (Associação Nacio-
nal de Transporte de Carga e Logísti-
ca) em parceria com governos. Estão
sendo tomadas medidas preventi-
vas, mas temos um longo caminho a
percorrer, porque a indústria do rou-
bo de carga está muito bem estru-
turada, e carecemos de inteligência
para desmobilizar essas quadrilhas.
Arnaldo –
O efeito colateral do rou-
bo de carga é o alto investimento em
tecnologia por parte das empresas de
transporte. Esse é um dos segmentos
commaior avanço logístico hoje?
Pedro –
Com certeza, em especial
na área de rastreamento, que vem
se desenvolvendo muito.
Arnaldo –
Voltando à questão da mul-
timodalidade, há várias iniciativas em
curso de novas regulamentações e con-
cessões ligadas à infraestrutura de trans-
portes. Onde o senhor acredita que essas
soluções devam surgir mais rápido?
Pedro –
É um contexto. A Abralog
ajudou a criar uma frente nacional
pela multimodalidade, com outras
entidades importantes do mercado,
para impulsionar essas iniciativas.
A multimodalidade é a solução que
queremos para hoje e para o futuro
da logística no Brasil. O governo
vem anunciando investimentos
robustos em várias áreas, mas ainda
falta a execução.
Arnaldo –
O fato, porém, é que cada
área tem problemas muito específicos,
como portos, estradas e ferrovias.
Pedro –
Mas a questão é que não con-
seguimos enxergar o transporte como
um todo. Cada parte vê o seu proble-
ma, e não há um princípio de integra-
ção. O setor de transportes precisa
mudar essa postura. O sistema ferro-
viário depende do rodoviário e assim
por diante. Basta ver o exemplo das
hidrovias, que são uma solução barata
se combinada com outros modais.
Mas é um recurso que exploramos
pouco, mesmo o país tendo uma bacia
hidrográfica fantástica. Os modais
precisam se falar mais e contar como
governo na liderança desse processo.
OBrasil está competindo por recursos compaíses
como Peru ouColômbia. Não deveria ser assim,
já que somos umpaís com200milhões de habitantes
e comumporte econômicomuitomaior