entrevista | Pedro Francisco Moreira
Revista da ESPM
|março/abril de 2014
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Outra questão que prejudicamuito é a
famosa Lei do Operador de Transpor-
te Multimodal (nº 9.611/98), que cria a
figura do OTM. Embora ela tenha sido
aprovada há quase 20 anos, há pro-
blemas fiscais que até hoje não foram
resolvidos, como a incidência repeti-
tiva de ICMS e de seguro de carga, que
inibe a formação desses operadores.
Arnaldo –
O senhor tocou em um pon-
to importante. Qual é o impacto fiscal
na atividade logística hoje no Brasil?
Pedro –
A carga fiscal é muito pe-
sada e isso gera a chamada logística
sobre rodas. Basta ver o passeio de
cargas no Brasil para ganhar benefí-
cios em impostos. Há cidades muito
distantes dos centros de consumo
que atraem empresas para produzir
por questões fiscais, acarretando
um mau aproveitamento da estrutu-
ra dos transportes. O resultado é que
não desenvolvemos uma logística
baseada em planejamento e compe-
tividade. Isso faz parte de uma dis-
cussão maior, que é a reforma fiscal,
que poderia ter um impacto impor-
tante na redução do custo Brasil.
Arnaldo –
O senhor é otimista? Acre-
dita que o país está caminhando no
rumo certo para a solução de tantos
gargalos? A infraestrutura de trans-
portes é um dos temas mais falados no
Brasil desde a abertura democrática,
mas parece ser o que menos anda.
Pedro –
Eu sou muito otimista. Se
o governo seguir à risca os planos
anunciados recentemente, come-
çaremos a ter uma integração mul-
timodal por volta de 2020. Mas nós
precisamos executar. Estive na China
recentemente, e há um abismo de
investimento em relação a nós. São
aeroportos imensos, grandes
hubs
lo-
gísticos. É claro que precisamos fazer
a ressalva da diferença do tamanho
da população. Mas o fato é que na
China os projetos são feitos pensando
lá na frente. O Brasil precisa pensar
a questão da logística como uma
política de Estado e não de governo.
Muda o governo, muda a visão sobre
a logística. A visão de longo prazo, de
20, 30 anos, precisa sermantida.
Arnaldo –
Quanto o Brasil precisa
de investimento para apresentar um
modelo mais eficiente?
Pedro –
Em 1975, o Brasil investiu
1,8% do PIB em infraestrutura. Isso
chegou a cair para 0,2%, 0,3% do PIB.
Nós precisaríamos investir como
a China ou a Índia. Na China, esse
investimento é da ordem de 7%. Na
Índia, 5,6%. Mesmo o Chile, aqui
ao lado, está em 6%. O Brasil, nos
melhores momentos, chegou a 2,1%.
Nós deveríamos investir algo em
torno de 5% ao ano nos próximos
15 anos para chegar a uma situação
ideal e necessária para sustentar o
desenvolvimento do país.
Arnaldo –
Mas o desafio é assegurar
essa capacidade de investimento.
Pedro –
Existe
funding
no mundo
para isso. Basta ver a situação econô-
mica da Europa emesmo dos Estados
Unidos, que vem em um processo de
recuperação lento. Há dinheiro para
investir em países como o Brasil. O
problema é a regra do jogo. O país
precisa assegurar aos investidores
que os critérios não vão mudar. São
investimentos de longo prazo e pre-
cisamos transmitir segurança, senão
esses investidores buscarão outros
mercados. Hoje, o Brasil está compe-
tindo por recursos com países como
Peru ou Colômbia. Não deveria ser
assim, já que somos umpaís com200
milhões de habitantes e com um por-
te econômicomuitomaior.
Arnaldo –
Uma crítica dos empresá-
rios é que nem sempre se trata de mu-
dança nas regras, mas da má qualidade
dos projetos do governo. Isso dificulta o
cálculo de custos e margens de retorno
em grandes obras de infraestrutura.
Como o setor privado pode contribuir
para minimizar esse problema?
Pedro –
Na pressa em avançar com
os programas, o governo apresen-
ta projetos mal planejados, o que
acaba exigindo adendos, revisões,
que criam mais instabilidade para
o investidor. Precisamos pensar em
pré-projetos, trabalhar melhor esse
conceito. É uma tarefa de casa que,
quando você vai para as licitações, já
tem algo mais bem estruturado, que
evita perda de tempo e custos extra-
ordinários. A iniciativa privada pode
trazer mais conhecimento para
ajudar o governo nessa modelagem.
Se o governo seguir à risca os planos
anunciados recentemente, começaremos
a ter uma integraçãomultimodal por volta
de 2020.Mas nós precisamos executar