entrevista | Jorge Miguel Samek
Revista da ESPM
| janeiro/fevereirode 2014
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Gracioso
—Desde 2004, a Itaipu desen-
volve, em parceria com a Fiat, um proje-
to que transformou um Palio Weekend
em um veículo elétrico. Embora exista
demanda, ainda é inviável a comercia-
lização desse tipo de automóvel, devido
aos custos elevados de produção. O que
a Itaipu tem feito para levar essa experi-
ência ao mercado?
Samek
— O projeto de desenvolvi-
mento de veículo elétrico de Itai-
pu teve início em agosto de 2004,
com a assinatura de um acordo
de cooperação técnica com a em-
presa de energia suíça, a KWO. A
partir daí, abriu-se a possibilidade
de diversas parcerias com empresas
de diferentes especialidades que pu-
dessem agregar valor ao Programa
VE. Entre elas estão empresas do
setor elétrico, institutos de pesqui-
sa, fábricas de baterias, componen-
tes eletroeletrônicos, motores etc.
A Fiat foi a primeira montadora a
integrar-se ao acordo de cooperação
técnica Itaipu/KWO, desenvolven-
do o primeiro protótipo do Pálio
elétrico. Hoje, cerca de 5% da frota
de Itaipu é composta por veículos
elétricos (carros, um caminhão e
umminiônibus elétrico, um off-road
Agrale Marruá elétrico e até um ôni-
bus elétrico híbrido a etanol). Além
de protótipos de demonstração, a
Itaipu vem desenvolvendo soluções
de infraestrutura para interação do
veículo elétrico com a rede elétrica,
dentro do conceito de Smart Grid.
Temos atuado em conjunto com
as empresas parceiras de forma
coordenada e sinérgica, alinhando
esforços e compartilhando expe-
riências, com o objetivo de tornar
a tecnologia acessível e estimular
novas iniciativas empresariais. Em
poucos anos, com a disseminação
da tecnologia do biogás e o desen-
volvimento de utilitários elétricos,
as propriedades rurais poderão con-
quistar autossuficiência energética,
gerando energia elétrica a partir do
biogás e substituindo combustíveis
fósseis para abastecer os veículos.
Gracioso
— No início de 2013, a Itaipu
divulgou ter planos de desenvolver a
cadeia do carro elétrico no país. Como
estão as negociações para o desenvolvi-
mento desse projeto?
Samek
— A Itaipu é uma empresa
geradora de energia que vem atuando
como um agente catalisador desse
movimento para auxiliar o processo
de desenvolvimento da tecnologia
do veículo elétrico no Brasil e no
Paraguai. Se observarmos o que está
acontecendo no mundo, é fácil cons-
tatar que todas as grandes empresas
automotivas já vêm trabalhando
em projetos de desenvolvimento de
carros híbridos e elétricos. A com-
petição é acirrada. Em vários países,
já existem modelos 100% elétricos
ou híbridos sendo comercializados.
Os governos têm criado incentivos
fiscais para tornar os preços desses
veículos mais competitivos. A Itaipu
deseja que as montadoras fabriquem
mais carros utilizando tecnologia
limpa e que as fábricas de baterias e
eletroeletrônicos produzam os insu-
mos necessários para a montagem
de carros não poluentes no Brasil,
seguindo a tendência internacional.
Gracioso
— Pesquisas indicam que, em-
bora valorize iniciativas sustentáveis, o
consumidor brasileiro não está disposto
a pagar muito mais por um produto
ou serviço “verde”, ou ainda amigo do
meio ambiente. Tomando como base o
impacto gerado pelo uso dos veículos
elétricos na Itaipu, como o senhor avalia
essa questão?
Samek
— Os consumidores estão
cada vez mais conscientes da impor-
tância de fazer escolhas inteligen-
tes, que levem em conta os impactos
dos produtos e serviços no meio
ambiente. Assim como já ocorreu
com produtos tecnologicamente
sofisticados, como o computador e,
mais recentemente, o telefone ce-
lular — que foram tornando-se mais
acessíveis à medida com o aumento
da escala e a redução dos custos
de produção —, o veículo elétrico
também irá tornar-se competitivo. O
veículo elétrico traz como vantagens
a emissão zero de gases que geram
efeito estufa e a economia dos recur-
sos naturais. A mobilidade passa ne-
cessariamente pelo uso crescente de
fontes renováveis de energia. Dessa
forma, a Itaipu incentiva e coopera
no desenvolvimento do veículo elé-
trico de olho nos imensos benefícios
que ele traz para a sociedade.
Para nós, da Itaipu, sustentabilidade não é
uma ferramenta demarketing. Éumnovo
paradigma ainda emconstrução, que exige um
reaprendizado dos indivíduos e das instituições