janeiro/fevereirode2014|
RevistadaESPM
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Gracioso
— Como a questão da susten-
tabilidade no mundo dos negócios está
inserida nos valores éticos, morais e
sociais do Brasil?
Samek
— Hoje, o tema da susten-
tabilidade permeia a agenda da
sociedade civil, dos governos, das
organizações internacionais e do
mundo corporativo. Ocupa, por-
tanto, o centro dos debates sobre
desenvolvimento, respondendo,
em grande medida, às preocupa-
ções suscitadas pelos fenômenos
desafiantes do aquecimento global
e das mudanças climáticas. A co-
munidade científica internacional
chegou a um consenso no que tange
ao reconhecimento de que essas
alterações que colocam em risco a
sustentabilidade da vida em nosso
planeta é consequência direta da
ação humana. Como frear e reverter
esse processo permanecem uma
questão em aberto. O que sabemos
é que precisamos fazer algo e, não
agir, não é uma opção viável. Como
ocorre com todo termo que passa a
ser usado sem parcimônia, susten-
tabilidade virou uma palavra oca,
servida ao gosto do freguês. Na Itai-
pu, temos buscado ressignificar essa
palavra por meio de práticas diárias
baseadas em princípios e valores.
Concretamente, a nossa política de
sustentabilidade está apoiada em
quatro eixos: a busca da excelência
operativa; a produção de energia re-
novável e limpa; o desenvolvimento
de nossa comunidade; e a prática da
sustentabilidade, como princípio e
valor, de dentro para fora. O que pre-
conizamos, em última instância, é
uma mudança de mentalidade, que
se reflita tanto na atuação dentro
da empresa quanto na comunidade,
como cidadãos ativos e engajados.
Para nós, da Itaipu, sustentabi-
lidade não é uma ferramenta de
marketing. É um novo paradigma
ainda em construção, que exige um
reaprendizado dos indivíduos e das
instituições.
Gracioso
— Desde 2001, quando tive-
mos racionamento de energia no Brasil,
o consumo consciente e a redução do
desperdício de eletricidade estão na
agenda nacional. Reduzir o consumo
energético também é prioridade em
inúmeras indústrias. Ao mesmo tempo,
nosso consumo per capita de energia é
baixo pelos padrões internacionais e mi-
lhões de brasileiros não estão ligados no
grid nacional, ou até estão, mas muito
precariamente. O desafio do país é au-
mentar ou diminuir o consumo?
Samek
— A questão energética está
no centro do debate sobre desen-
volvimento sustentável, e o Brasil
é um dos protagonistas, o que fi-
cou sobejamente demonstrado na
Rio+20. Temos de aprender com os
erros cometidos pelos países desen-
volvidos e não repeti-los. É verdade
que o consumo per capita de energia
elétrica no Brasil é baixo, sobretudo
quando comparado com os indica-
dores dos países desenvolvidos. Mas
o consumo residencial vem aumen-
tando, refletindo o aumento de renda
das famílias brasileiras. O Programa
Luz para Todos, que acaba de com-
pletar dez anos, alcançou resultados
expressivos, viabilizando mais de
3,75 milhões de ligações de energia
elétrica e beneficiando diretamente
15 milhões de brasileiros. Ainda não
alcançamos a universalização do
acesso, mas estamos bem perto des-
sa meta. Para garantir o crescimento
sustentável nas próximas décadas,
o Brasil deverá continuar amplian-
do a sua capacidade de geração de
energia elétrica. O Plano Nacional
de Energia 2030 projeta a demanda e
oferta de energia pelos próximos 25
anos. Se quisermos crescimento, o
consumo agregado, tanto residencial
quanto industrial, terá de crescer.
O Brasil precisa realizar pesados
investimentos em geração e trans-
missão — e vem fazendo. Reduzir o
desperdício e promover a eficiência
energética não são medidas antagô-
nicas. Ao contrário, são essenciais
para garantir a soberania energética
do país nas próximas décadas.
Gracioso
— Por ser um empreendimento
binacional, Itaipu demanda um alinha-
mento entre os governos do Brasil e do
Paraguai. Há pouco mais de um ano,
tivemos um risco de desalinhamento,
quando o então presidente paraguaio,
Federico Franco, afirmou que não pre-
tendia mais fornecer energia barata ao
Brasil nem à Argentina, de quem o Para-
guai é sócio na usina de Yacyretá. Como
andamas relações Brasil-Paraguai?
Se quisermos crescimento, o consumo agregado,
tanto residencial quanto industrial, terá de crescer.
OBrasil precisa realizar pesados investimentos em
geração e transmissão – e vem fazendo