economia criativa
Revista da ESPM
| setembro/outubrode 2014
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umsistema velho, ineficiente e viciado, peloqual oMinis-
tério da Cultura (MinC) aprova anualmente projetos que
somam R$ 4 bilhões, e apenas 25% desses projetos che-
gamaomercado não pelomérito, mas pelo clientelismo.
O governo deve ter umpapel indutor e não o de fornecer
subsídios a negócios.
Sob a direção dosmaiores segmentos econômicos — a
saber indústria, comércio, serviços, transportes e agri-
cultura —, o sistema “S”, que ainda é dependente de taxas
cobradas sobre salários pagos, ou seja, baseado na onera-
ção da folha de pagamento desses setores, no tocante aos
segmentos das indústrias criativas, age como produtor
cultural e não no fomento de novos empreendimentos,
como seria natural fazer. A produção cultural deveria
caber à iniciativa privada.
Novamente aqui se impõe uma cultura de negócios, e
nãouma culturade subsídios. ExistenoBrasil umgrande
desperdício de recursos. OMinC incentiva, o sistema “S”
incentiva, os governos estaduais incentivam e emmui-
tos casos os próprios governosmunicipais, que não têm
recursos para outras prioridades, também incentivam.
O segundo ponto diz respeito às questões demercado.
Nãoadianta fomentar segmentosculturaiscomincentivos
seessesnãoencontramdemandademercado. Existeuma
enxurrada de recursos para projetos que o mercado não
compra. Essa demanda depende de alguns fatores: quali-
dadedaoferta; qualidadedopúblico—oconsumocultural
no Brasil é limitado a uma parcela ínfima da população;
qualidadedaeducação, quenão formanovospúblicospara
as ofertas culturais; e, comoconsequênciadesseúltimo, a
inexistência de renda para consumir cultura.
Estamos sob a égide perversa de um círculo vicioso
emque a baixa qualidade da educação e a baixa propen-
são para empreendimentos inovadores limitam o nível
de renda, que impede o acesso à cultura de qualidade.
Opaís precisa encontrar umnovo formato para sair do
modelodeconsumodeprodutosmaiscarosparaomodelo
defomentodenovoseambiciososprojetoscapazesdeagre-
gar valor por meio de diferenciais intangíveis, oriundos
da criatividade, da inovação e da capacidade intelectual.
Preferencialmente deve desapegar-se de políticas que
beneficiamzonas francas emodelos que impõemproces-
sos produtivos que, alémde não agregar inovação, limi-
tamo consumo de produtos de alta tecnologia ao impor
custos desnecessários.
Nossapautadeexportações,comoésabido,temreduzido
gradualmenteacomponentedeprocessamento local —cai
a competitividade da indústria e diminui tambéma com-
petitividadede segmentosquedemandaminfraestrutura.
Uma das recomendações é estabelecer comparações
fidedignas com os demais países no sentido de aferir a
componente criativa do nosso PIB. Pela falta de índices
comparativos, um dos dados mais representativos das
indústrias criativas é aquele quemede a participação dos
países na pauta de exportações dos segmentos criativos.
A análise do último dado publicado pela Conferência
das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento
(Unctad, na sigla em inglês) em 2010 mostra a evolução
das exportações de produtos e serviços das chamadas
indústrias criativas entre 2002 e 2008. Vale ressaltar que
em2008oBrasil exportouUS$1,222milhão emprodutos
classificados como indústrias criativas e o crescimento
anual em seis anos foi de apenas 4,9%.
A medição pelo lado das exportações tem o mérito
de aferir a competitividade da indústria e ao mesmo
tempo uniformizar a cesta de produtos e serviços
compreendidos.
É inegável o potencial dessas indústrias, já que, glo-
balmente, essemovimento das exportações representa
hojemenos de 1% do PIBmundial. Muito possivelmente
o consumo interno desses mesmos produtos e servi-
ços representa, também em abrangência mundial, não
mais do que 1%. O crescimento dessas indústrias, con-
tudo, está fortemente atrelado ao potencial de geração
de riquezas internas, sobretudo por meio de produtos e
serviços com forte componente do trabalho intelectual,
que, por sua vez, só se expande com relevantes investi-
mentos em educação.
Adolfo Menezes Melito
Consultor em economia criativa da Fecomercio-SP, fundador e
presidente do Instituto da Economia Criativa, conselheiro e CEO da SOU
Não adianta fomentar segmentos
culturais comincentivos se esses não
encontramdemanda oudesenvolvem
projetos que omercadonão compra