entrevista | JOHN HOWKINS
Revista da ESPM
| setembro/outubrode 2014
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competitivo e individualista, que co-
meça a ser visto como um problema
potencial na economia do país. O
individualismo, por sua vez, ainda é a
principal força que rege a publicida-
de e o consumo do mundo moderno.
O senhor acredita que esses valores
vão mudar?
Howk ins
— A educação cumpre
um papel f undamenta l nas mu-
danças que estamos enfrentando
hoje. O modelo econômico corea-
no, baseado nos grandes conglo-
merados aos moldes do Japão, foi
extremamente bem-sucedido até
agora. De uns cinco anos para cá,
no entanto, eles têm percebido que
essa estrutura está começando a
atingir seu limite de capacidade
de crescimento. Os índices de ino-
vação estão começando a cair e é
muito importante destacar que o
país enfrenta uma onda de proble-
mas sociais. Rejeição à educação,
jovens que não querem mais se
casar e níveis elevados de suicídio.
É uma sociedade em conflito. Por
outro lado, a nova presidente da
Coreia do Sul, Park Geun-hye, tem
se mostrado muito aberta à econo-
mia criativa e quer implementar
reformas em apoio a startups. Hoje
é muito difícil abrir uma nova em-
presa na Coreia. O sistema finan-
ceiro é totalmente fechado e, se
uma empresa enfrenta dificulda-
des, o que sempre pode acontecer
com jovens empreendimentos, os
bancos fecham as portas e o negó-
cio inevitavelmente quebra.
Arnaldo
— O senhor acredita, então,
que a Coreia está no caminho certo?
Howkins
— A presidente Park está
fazendo um trabalho excelente, com
muita atenção ao mercado de ciência
e tecnologia, no qual eles são muito
bons. Infelizmente, a economia criati-
va envolve também uma parcela mui-
to forte de design. Se você observar,
as empresas mais bem-sucedidas não
estão baseadas somente na tecnolo-
gia, mas na forma de como as pessoas
interagem com seu produto. Isso re-
quer uma série de conhecimentos não
só técnicos, mas em cultura, artes e
psicologia. Nesse sentido, não sou oti-
mista que o novo governo conseguirá
irmuitomais longe.
Arnaldo
— De que maneira o senhor
imagina que o conceito da economia
criativa pode contribuir para a constru-
ção de uma sociedade melhor no futuro?
Howkins
— Acho inevitável que a
economia criativa ajudará a fazer
uma sociedade melhor. Porque ela
está baseada no indivíduo e em
suas potencialidades criativas para
ter mais sucesso e qualidade de
vida. Ela não se guia pelos três pi-
lares econômicos clássicos: meios
de produção, trabalho e capital.
A economia criativa pode ter um
impacto decisivo nas sociedades
emergentes, desde que as enor-
mes barreiras que existem nesses
países sejam superadas. Não será
uma mudança da noite para o dia e
depende, sobretudo, do livre acesso
aos mercados.
Arnaldo
— Como o Brasil pode se pre-
parar para ser um ator importante na
economia criativa do futuro?
Howkins
— Sem sombra de dúvida,
com mais investimentos em edu-
cação. Não só em formação básica,
mas em universidades, especial-
mente as escolas de arte, música
e teatro. É preciso mudar a forma
como as pessoas mais criativas en-
contram seu primeiro emprego, dar
mais acesso ao financiamento de jo-
vens empresas e ensinar as pessoas
como gerir de maneira eficiente em
seus negócios. O governo deve in-
vestir no relacionamento com a in-
dústria para expandir os processos
de aprendizados também. Essen-
cialmente, a economia criativa é ba-
seada no conceito de conhecimento,
em um ciclo que nunca termina.
Arnaldo
— Para encerrar, como o se-
nhor se define pessoalmente? Criativo,
talentoso ou apenas um estudioso muito
esforçado?
Howkins
— Sou mais ou menos cria-
tivo, dependendo da ocasião. Acerto
algumas vezes, mas erro bastante, o
que não é um defeito quando se fala
em criatividade. Meu maior talento,
acredito, é saber trabalhar com uma
grande quantidade de pessoas de
perfis muito diferentes. Mas, no
geral, sou mesmo é um trabalhador
esforçado [
risos
].
Os grupos dominantes napolítica e na sociedade estão
felizes como jeito como as coisas sãonopaís. Eles não
queremmudança. Para fortalecer uma economia
criativa é preciso ter escala, oque não acontece noBrasil