setembro/outubrode2014|
RevistadaESPM
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do que poderíamos entender num
primeiro momento como o mundo
das artes e do entretenimento. Eu
vejo a criatividade de uma maneira
mais ampla e inerente à forma de
como o ser humano pensa. Ela não
pertence, especificamente, a essa
ou àquela atividade.
Arnaldo
— Portanto, a expansão da
economia criativa não depende, neces-
sariamente, das novas tecnologias?
Howkins
— Algumas tecnologias
sempre serão necessárias, mas esse
não é o demarcador. Muitas vezes,
são as mais básicas. Para um concer-
to de música, ter energia, iluminação
e amplificadores certamente ajudará
a atingir um público maior. Mas não
é a tecnologia digital o que importa.
Sem dúvida, novos meios digitais e a
mobilidade estão contribuindo para
a disseminação da ideia de criativi-
dade entre as pessoas. Esse é o fator
mais positivo.
Arna ldo
— Alguns profissionais
acreditam que criatividade e admi-
nistração são incompatíveis, uma vez
que a primeira está baseada em valo-
res intangíveis, materializados pela
propriedade intelectual. Já a segunda
tem relação direta com uma econo-
mia tangível, formada por produtos
físicos, equipamentos e plataformas.
Como é possível associar esses dois
conceitos para a prática da economia
criativa?
Howkins
— Eu não saberia dizer se
as pessoas estão se tornando mais
criativas, mas aquelas que são mais
criativas vêm obtendo mais des-
taque. No geral, também estamos
exercitando nossa criatividade com
mais competência. Seja no desenvol-
vimento de produtos, nas negocia-
ções de compra e assim por diante.
Ao mesmo tempo, eu acredito que os
profissionais de negócios estão mais
abertos à iniciativa dos criativos.
Eles já têm consciência da importân-
cia dessa atitude para a manutenção
da competitividade e crescimento
dos negócios. Esse embate de criati-
vos
versus
“terno e gravata”, digamos
assim, está ficando cada vez menos
comumno universo corporativo.
Arnaldo
— Como a tecnologia influen-
cia nesse processo?
Howkins
— Um fato interessante que
vem ocorrendo nos últimos dez anos
é o surgimento de novos profissio-
nais digitais, como os desenvolvedo-
res de aplicativos, que mudam essa
correlação. Por natureza, são pesso-
as extremamente lógicas, mas com
alto perfil criativo. É um tipo total-
mente novo de criativo, ou de gestor
criativo, como podemos definir.
Arnaldo
— De acordo com seus estu-
dos, em 2007, a economia criativa mo-
vimentava algo próximo a US$ 4 tri-
lhões, com uma taxa de crescimento de
6% ao ano. No Brasil, o valor estimado
na época foi de US$ 200 bilhões. Como
a crise de 2008 afetou essa indústria?
Howkins
— A crise econômica nos
Estados Unidos e no resto do Oci-
dente levou a um corte de investi-
mentos, sobretudo na publicidade,
onde a redução foi drástica. Ao mes-
mo tempo, a mídia on-line cresceu
muito rápido, o que contribuiu para
as perdas na TV e outros meios
tradicionais. Outro caso foram em-
presas de design, que sofreram uma
perda importante de receita. Houve,
sem dúvida, uma queda após 2008 e
2009, com um crescimento pequeno
desde então. Mas a China, por sua
vez, continuou crescendo bastante,
em áreas como arquitetura, por
exemplo. E em países como a Co-
reia, Rússia e Índia a economia cria-
tiva também avançou. O fato é que
há muitas vertentes acontecendo ao
mesmo tempo.
Arnaldo
— Qual crescimento o senhor
projeta para a economia criativa nos
próximos anos?
Howkins
— Na verdade, estou re-
vendo esse modelo de avaliação
econômica nas minhas pesquisas. É
muito difícil estabelecer um marco
divisório claro do que é a economia
criativa no conceito de Produto In-
terno Bruto (PIB) e outras formas de
avaliação quantitativa. Poesia, por
exemplo, é uma das atividades mais
criativas que existem, mas não tem
representatividade econômica. Na
prática, o que existe são pessoas fa-
zendo um trabalho criativo e outras,
não. Uma visão geral aqui no Reino
Unido é sair desse formato de valo-
ração econômica e medir a intensi-
Muitas companhias já perceberamque dependemde
processosmais criativos. Por outro lado, hámilhões de
pessoas que não encontramas circunstâncias sociais
ou profissionais, para estimular sua criatividade