Background Image
Table of Contents Table of Contents
Previous Page  37 / 176 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 37 / 176 Next Page
Page Background

setembro/outubrode2014|

RevistadaESPM

37

do que poderíamos entender num

primeiro momento como o mundo

das artes e do entretenimento. Eu

vejo a criatividade de uma maneira

mais ampla e inerente à forma de

como o ser humano pensa. Ela não

pertence, especificamente, a essa

ou àquela atividade.

Arnaldo

— Portanto, a expansão da

economia criativa não depende, neces-

sariamente, das novas tecnologias?

Howkins

— Algumas tecnologias

sempre serão necessárias, mas esse

não é o demarcador. Muitas vezes,

são as mais básicas. Para um concer-

to de música, ter energia, iluminação

e amplificadores certamente ajudará

a atingir um público maior. Mas não

é a tecnologia digital o que importa.

Sem dúvida, novos meios digitais e a

mobilidade estão contribuindo para

a disseminação da ideia de criativi-

dade entre as pessoas. Esse é o fator

mais positivo.

Arna ldo

— Alguns profissionais

acreditam que criatividade e admi-

nistração são incompatíveis, uma vez

que a primeira está baseada em valo-

res intangíveis, materializados pela

propriedade intelectual. Já a segunda

tem relação direta com uma econo-

mia tangível, formada por produtos

físicos, equipamentos e plataformas.

Como é possível associar esses dois

conceitos para a prática da economia

criativa?

Howkins

— Eu não saberia dizer se

as pessoas estão se tornando mais

criativas, mas aquelas que são mais

criativas vêm obtendo mais des-

taque. No geral, também estamos

exercitando nossa criatividade com

mais competência. Seja no desenvol-

vimento de produtos, nas negocia-

ções de compra e assim por diante.

Ao mesmo tempo, eu acredito que os

profissionais de negócios estão mais

abertos à iniciativa dos criativos.

Eles já têm consciência da importân-

cia dessa atitude para a manutenção

da competitividade e crescimento

dos negócios. Esse embate de criati-

vos

versus

“terno e gravata”, digamos

assim, está ficando cada vez menos

comumno universo corporativo.

Arnaldo

— Como a tecnologia influen-

cia nesse processo?

Howkins

— Um fato interessante que

vem ocorrendo nos últimos dez anos

é o surgimento de novos profissio-

nais digitais, como os desenvolvedo-

res de aplicativos, que mudam essa

correlação. Por natureza, são pesso-

as extremamente lógicas, mas com

alto perfil criativo. É um tipo total-

mente novo de criativo, ou de gestor

criativo, como podemos definir.

Arnaldo

— De acordo com seus estu-

dos, em 2007, a economia criativa mo-

vimentava algo próximo a US$ 4 tri-

lhões, com uma taxa de crescimento de

6% ao ano. No Brasil, o valor estimado

na época foi de US$ 200 bilhões. Como

a crise de 2008 afetou essa indústria?

Howkins

— A crise econômica nos

Estados Unidos e no resto do Oci-

dente levou a um corte de investi-

mentos, sobretudo na publicidade,

onde a redução foi drástica. Ao mes-

mo tempo, a mídia on-line cresceu

muito rápido, o que contribuiu para

as perdas na TV e outros meios

tradicionais. Outro caso foram em-

presas de design, que sofreram uma

perda importante de receita. Houve,

sem dúvida, uma queda após 2008 e

2009, com um crescimento pequeno

desde então. Mas a China, por sua

vez, continuou crescendo bastante,

em áreas como arquitetura, por

exemplo. E em países como a Co-

reia, Rússia e Índia a economia cria-

tiva também avançou. O fato é que

há muitas vertentes acontecendo ao

mesmo tempo.

Arnaldo

— Qual crescimento o senhor

projeta para a economia criativa nos

próximos anos?

Howkins

— Na verdade, estou re-

vendo esse modelo de avaliação

econômica nas minhas pesquisas. É

muito difícil estabelecer um marco

divisório claro do que é a economia

criativa no conceito de Produto In-

terno Bruto (PIB) e outras formas de

avaliação quantitativa. Poesia, por

exemplo, é uma das atividades mais

criativas que existem, mas não tem

representatividade econômica. Na

prática, o que existe são pessoas fa-

zendo um trabalho criativo e outras,

não. Uma visão geral aqui no Reino

Unido é sair desse formato de valo-

ração econômica e medir a intensi-

Muitas companhias já perceberamque dependemde

processosmais criativos. Por outro lado, hámilhões de

pessoas que não encontramas circunstâncias sociais

ou profissionais, para estimular sua criatividade