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setembro/outubrode2014|

RevistadaESPM

41

porações de mídia, como Sony e

Viacom, mas continuaram funcio-

nando como unidades totalmente

independentes. Por isso eles nunca

têm surpresas quanto ao futuro do

seu negócio.

Arnaldo

— As novas ferramentas

de distribuição on-line, como Ne-

tflix, podem influenciar de maneira

decisiva o modelo dessa indústria

centenária?

Howkins

— Isso já está acontecen-

do. Empresas como a Sony já estão

olhando para a Netflix de outra

maneira. Assim como ocorreu com

a HBO, a Netflix, aparentemente,

se mostra mais aberta em apostar

em histórias menos convencionais

e entrar em temas controversos,

como homossexualismo, que natu-

ralmente seriam rejeitados pelos

estúdios tradicionais. A TV tem se

mostrado um canal mais ágil e atra-

ente aos melhores roteiristas para

produzir conteúdos inovadores,

com a vantagem de oferecer custos

de produção muito menores. Eu

acredito que a Netflix virá no futuro

com uma entrega muito agressiva

e, sem nenhuma dúvida, será muito

bem-sucedida.

Arnaldo

— Parece indiscutível a pri-

mazia dos Estados Unidos na economia

criativa global. Que diferenças o senhor

identifica em relação aos europeus?

Howkins

— A Europa funciona mui-

to mais com uma visão de políticas

e financiamento público em relação

ao mercado das artes. Esse modelo

garantiu o predomínio cultural

europeu por séculos. Mas, a partir

do século 20, as principais con-

tribuições na literatura, música,

arquitetura e tecnologia vieram,

sem qualquer dúvida, dos Estados

Unidos. E isso vai persistir por mui-

to tempo ainda.

Arnaldo

— A China pode mudar esse

cenário?

Howkins

— Em mais umas duas

ou três décadas, a China poderá

ser igualmente criativa, com um

modelo de entretenimento muito

orientado aos negócios, a exemplo

do americano. Em sua própria cul-

tura, certamente eles serão domi-

nantes, mas para se aproximar do

mercado dos Estados Unidos e ter

abrangência global será muito mais

difícil. Porque eles não têm a mesma

experiência de convívio com outras

culturas para entrar no universo

delas. Isso tem muita influência na

produção de mídia, design e arqui-

tetura e vai levar muito mais tempo

para mudar.

Arnaldo

— No Brasil, o excesso de

burocracia e um sistema de impostos

caótico são os principais empecilhos

para o sucesso de novos empreendi-

mentos. Isso ajudaria a explicar por

que o país é tão mal avaliado na parte

criativa dos negócios?

Howkins

— Os grupos dominantes

na política e na sociedade estão

muito felizes com o jeito como

as coisas são hoje no país. Eles

realmente não querem qualquer

mudança. Para fortalecer uma eco-

nomia criativa, é preciso ter escala,

o que não acontece no Brasil. O

acesso a financiamento é muito

limitado e o mercado, de uma ma-

neira geral, é bem injusto. Isso faz

com que empreendedores inovado-

res não consigam chegar ao con-

sumidor final e popularizar seus

produtos. O Brasil esbarra ainda na

enorme burocracia e na dificuldade

de atrair grandes talentos, o que

não ocorre em países onde a eco-

nomia é mais aberta. Portanto, são

inúmeros os obstáculos.

Arnaldo

— Há luz no fim do túnel?

Howk i ns

— Sempre que vou ao

Brasil, eu ouço as pessoas dizerem:

“As coisas estão mudando, elas vão

mudar”. Eu espero que isso ocorra,

e o mais rápido possível. Porque o

brasileiro tem um estilo e identida-

de cultural muito forte. É um povo

com energia, vontade de realizar e

possui talentos que são extrema-

mente valiosos para a economia

criativa, de uma maneira geral.

Arnaldo

— A Coreia, ao contrário do

Brasil, fez uma verdadeira revolução

econômica a partir da educação nos

últimos 30 anos. Contudo, a base

dessa mudança foi construída sobre

um sistema de ensino extremamente

Os novos líderes corporativos globais virão

da China. Ali estão surgindo empresas

impressionantes, como Alibaba [comércio

eletrônico] – que já é maior que o Facebook