Janeiro_2005 - page 91

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J A N E I RO
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F E V E R E I RO
D E
2005–REV I STA DA ESPM
LIVIA
– Faz tempoque aHebeCa-
margo fascina a sua platéia, com
um estilo de vestir, jóias caras...
FG
– Acho que o único problema
real – principalmente para quem
vende produtos de luxo – é que a
desigualdade provoca desajustes,
violência. As pessoas têmmedo de
ostentar luxo na rua.
JR
– Uma pessoa ligada à Ferrari
disse-me que não se vê Ferrari, por
medida de segurança.
FERREIRINHA
–Aviolência talvez
o inibade trafegarcommais freqüên-
cia, mas não de adquirir o carro.
ISMAEL
– São duas coisas dife-
rentes: segurança e ostentação. Se
vejoum jogador de futebol domeu
time com um carro qualquer, digo:
“Ah! Estámal”.Querovermeuarti-
lheiro com um carro de luxo.
JR
– Livia, quando você fala da
questão européia, desse enfoque
moral do luxo, da ostentação. Isso
ocorre desde quando?
LIVIA
– Começou nos Séculos
XVII, XVIII e a discussão estende-
se até hoje.
JR
– Por quê?
LIVIA
–Aorigemestánuma revolu-
çãocomercial.Nósaprendemos,na
historiografia oficial, que a Revolu-
ção Industrial precedeua revolução
de consumo, mas, na verdade, não
foi issooqueocorreu.Historicamen-
te,ocorreuuma revoluçãodoconsu-
mo comercial, precedendo as me-
didas para aumentar a produção.
Mas,moralmente, sempre valoriza-
mos tantoo trabalho,que ficouqua-
se impossível admitir-se a valori-
zação do consumo antes do tra-
balho. E é dessa época essa dis-
cussão. Foi quando começou a
verticalização do consumo do que
hoje se chama, culturalmente, de
supérfluo – eram fitas, veludos,
cintos, rendas, objetos para casa,
louças, talheres.
JR
–Aprópriabuscapelas especia-
rias.
LIVIA
– Exatamente. Foi essa pri-
meira globalização, trazida pela
descoberta da América e caminho
das Índias; omundo entra em con-
tato com uma série de produtos.
Não falamos aqui, mas há outra
coisa relacionada ao luxo, muito
importante, que é a raridade e o
exótico. Essa dimensão é muito
forte, no mercado de luxo.
FG
– Li, outro dia, que umamanga
no Japão vale US$ 30 dólares.
LIVIA
–Quandomorei lá, Prof., vi
ummelão por US$ 100.
JR
– Há um outro item da pauta,
que é a questãodadurabilidadedas
marcas de luxo.Oque é feito – se é
que existe alguma ação deliberada
– para manter as marcas de ponta
no mercado de luxo em evidência,
permanentemente desejáveis?
FG
– Posso acrescentar, como al-
guémque trabalhoucomprodutosde
consumo, que, historicamente, as
marcas tiveram o apoio da propa-
ganda.Masapropaganda foiperden-
do força, pouco a pouco, e hoje,
talvezomais importanteparamanter
uma grande marca de produtos de
consumo viva e competitiva nomer-
cado seja a inovação. Como se faria
isso nesse mercado esotérico dos
produtos de luxo?
JR
– E eu acrescentaria: existe al-
guma marca de luxo que foi deli-
beradamente criada em tempos
recentes?
MAURO
–AThierryMugler éuma
marca relativamente recente.
FERREIRINHA
– Recente, hoje é
só perfume, porque, como vestuá-
rioéquase inexistente.MasnoBra-
sil temos um
case
, umamarca que
está se transformandoem luxo, que
é a H. Stern. A H. Stern não era
uma marca de luxo, mas vem
fazendo seus deveres de casa para
se tornar uma marca longeva e
uma marca de luxo. Temos outro
case
no Brasil que é Trousseau,
uma marca deliberadamente cria-
da para ser luxo. Ela não é apenas
uma continuidade da Trussardi.
Não vejo o segmento de luxo
como inovador e acho que não
poderia ser. Senão seria um para-
doxo, porque uma das caracterís-
ticas mais fortes da segmentação
do luxo é a tradição, a história. De
que forma semantém viva a tradi-
ção, a história de determinado
produto? Aí você faz deliberada-
mente, com supremacia e técni-
ca, todas as correlações, as histó-
rias, os personagens, os reis etc.
“AVUITTONÉMAISPODEROSAQUE
AROLLSROYCEEMTERMOSDEMARCA.”
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