R E V I S T A D A E S P M –
janeiro
/
fevereiro
de
2010
62
Guerras
emudanças climáticas
¸
de fatores envolvidos nos fenôme-
nos estudados e a dificuldade de
testá-los isoladamente.Nocasoda
busca pela explicação da origem
dos conflitos armados internacio-
nais nãopoderia ser diferente. Por
essa razão, não é fácil estabelecer
links
diretos decausaeefeitoentre
fenômenos ambientais eaeclosão
desses conflitos. Entretanto, é
possível identificar os fatores que
contribuem para desestabilizar o
sistema e assim medir qual é o
potencial dasmudanças climáticas
de exacerbar ou abrandar esses
fatores incendiários.
Aindaassim, a relaçãoentreclimae
conflitos armados não é totalmente
desconhecidadomundo.Ahistória
tem inúmeros exemplos de como
eventos climáticos influenciaram
guerras e revoluções. O inverno
russo severoe imprevisívelderrotou
três exércitos invasores: Charles XII
da Suécia em 1708, Napoleão em
1812, e Hitler em 1941. Dificul-
dades econômicas causadas pelas
secas em 1788 são vistas como
o gatilho causador da Revolução
Francesa.DuranteaGuerradoGolfo
em 1991, ventos fortes impediram
SaddamHussein de lançar mísseis
Scud contra Israel e a força interna-
cional de coalizão.
Multiplicadorde
ameaças edesafios
A mudança do clima funciona
principalmente como um agente
fomentador ou desencadeador
de processos que aumentam a
tensão e instabilidade no sistema.
Em regiões voláteis, as mudanças
climáticas vão exacerbar os pro-
Estados Falidos
Os Estados falidos e fracos são
uma das grandes causas de insta-
bilidadeeguerrasnomundoatual.
Um Estado falido ou fraco possui
uma série de atributos; o primor-
dial, e mais comum, é a perda
domonopólio do uso legítimo da
força e do controle físico do seu
território. Outras características
englobam desde a incapacidade
de fornecer serviços públicos bá-
sicos até a falta de interação com
a comunidade internacional.
Quando governos não são capa-
zes de garantir a ordem e prestar
os serviços necessários para sua
população, o vácuo que se forma
abre espaço para tumulto, extre-
mismo e terrorismo. A incapa-
cidade do Estado de entregar os
bens públicos básicos, por si só, é
suficientemente problemática. Se
adicionarmos agravantes externos,
como secas, enchentes e perda
de áreas costeiras os problemas
tomam proporções alarmantes. A
falta de capacidade de responder,
seadaptar ou se recuperar fazcom
que os estados instáveis sejam
altamente vulneráveis à explosão
de conflitos armados.
A revista
Foreign Policy
publica
todo ano um
ranking
dos Estados
falidos. O
ranking
analisa 12 indi-
cadores sociais, econômicos, polí-
ticos emilitares além de investigar
a capacidade das principais insti-
tuições públicas encarregadas de
manter a ordem e a segurança. Na
última edição, os 10 primeiros da
lista (figura1), estavam localizados
em regiões altamentevulneráveis a
mudanças climáticas.
blemas existentes e criar novos
desafios, como, por exemplo, o
surgimento de novas epidemias
e diminuição de áreas agrícolas
cultiváveis. Em regiões estáveis,
o influxode refugiados e imigran-
tes vindo de áreas afetadas pode
debilitar desde a teia social até o
fornecimento de alimentos.
Desastres naturais, como tsuna-
mis e furacões, já provaram ter
efeito devastador tanto em países
em desenvolvimento quanto em
países desenvolvidos. O furacão
Katrina em Nova Orleans, nos
EUA, causou destruição e mobi-
lizou as tropas americanas para
atuarem dentro do próprio terri-
tório. Outros desastres naturais
e humanitários, como o tsunami
na Ásia, também demandaram
coordenação e mobilização mi-
litar internacional para ajudar as
vítimas da tragédia. Por exemplo,
duranteo tsunami naÁsia, osmili-
tares americanos enviaram15.000
soldados, 25 navios e 94 aviões.
A essência da ameaça climática
abrange uma dimensão muito
mais complexa do que ameaças
convencionais que Estados estão
acostumados a lidar.Normalmente
as ameaças convencionais envol-
vem uma entidade única, agindo
de maneira específica, em dife-
rentes pontos temporais. Por outro
lado, a mudança do clima tem o
potencial decausar condições crô-
nicas,múltiplas, ocorrendo simul-
taneamente, e globalmente. No
universo da segurança nacional
ou internacional isso é o pior dos
pesadelos. Mas como essa nova
ameaça à segurança nacional e
internacional tem semanifestado?