janeiro
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fevereiro
de
2010 – R E V I S T A D A E S P M
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Heni
Ozi Cukier
Da mesma maneira que problemas
referentes a mudanças climáticas são
normalmente vistos como ambientais,
os assuntos relacionados à eficiência
energéticatambémsãoentendidospela
lógica ambiental. Tudo isso se torna
um grande equívoco quando analisa-
do pelo raciocíniomilitar de defesa e
segurança. Eficiência energética, por
exemplo, já é um tema de segurança
nacional paraos americanos emuitos
outros países do mundo. Acesso a
recursos energéticos confiáveis e eco-
nômicoséabsolutamente fundamental
paraaceleridadeecapacidadeopera-
cionaldeumaforçamilitardequalquer
país. Segurança energética é de vital
importância estratégica no funciona-
mentobásicodeumaestruturamilitar
enaturalmentenãopode sercolocada
de lado. Por exemplo, o fornecimento
decombustíveleasegurançade linhas
de suprimento no campo de batalha
exigemcadavezmaismobilizaçãode
soldadosqueaocontráriopoderiames-
tardedicadosaoperaçõesdecombate.
Um estudo do Exército Americano
mostra que, mais oumenos, metade
das operações de logística no Iraque
são referentes a movimentação de
combustível. Um soldado americano
naprimeiraGuerradoGolfoprecisava
de 15 litros de combustível para seu
suporte.Hoje, cada soldadonoAfega-
nistão e Iraque precisa de 60 litros de
combustível. Um outro estudo similar
descobriuqueapenas1%deganhoem
eficiênciaenergética resultariaemuma
diminuiçãode6.444missões decom-
boio logístico. Essasmissões sãoconsi-
deradas as operações mais perigosas,
aonde morremmais soldados, quase
sempre vítimas de artefatos explosivos
colocados à beira de ruas e estradas.
Obviamente,dadoscomoessesapenas
demonstram uma das facetas de uma
realidadecomplexa.Quandosetratan-
dodeguerra,nadaéexatoesimples,e
sempreexistirãoinferênciascapazesde
retratarseusaspectostrágicos.Ossolda-
dos americanos nãomorrem somente
porqueestãoprotegendocomboiosde
combustível,masmelhoraraeficiência
energéticapode terum impactomuito
positivoemqualqueroperaçãomilitar,
especialmenteconsiderandoatáticade
ataqueadotadapeloinimigo,noIraque.
Em resposta a estudos como esses,
um general americano no Iraque de-
mandouquepainéis solarese turbinas
eólicas fossem instaladas embases do
exércitoparaquecada soldado tivesse
suacotaenergéticasatisfeitapor fontes
renováveis locais, reduzindo a neces-
sidadedecomboiosdecombustíveis.
Uma das vantagens de analisar o de-
safio energético sob a óticamilitar de
segurança nacional e internacional é
poderatrairgrandesaliadoseparceiros
para a guerra pela sustentabilidade.
Não podemos nos esquecer que o
Departamento de Defesa Americano
temum longohistóricode sucessono
desenvolvimento de soluções tecno-
lógicas revolucionárias que transfor-
maram omundo e nossamaneira de
viver. O radar, oGPS e a internet são
algumas das invenções criadas pelos
militares americanos eposteriormente
transferidas paraobenefíciode todaa
sociedade. Portanto, nada melhor do
que ter no time da sustentabilidade
umdosmaiorescentrosde inovaçãoe
recursosdoplaneta.
Orealproblema
Entenderamudançaclimáticasomente
sob a ótica ambiental limita o enten-
dimento da gravidadedos problemas
que temos pela frente. O desafio da
mudança climática não é ambiental!
Sim,osambientalistas foramosprimei-
rosaalertarem sobreoproblema,mas
averdadeéqueaquestãododióxido
decarbono, por exemplo, não funcio-
na como a poluição tradicional. As
adaptaçõesnecessáriaspara lidar com
oproblema vãomuito alémda esfera
ambiental,poisdemandamtransforma-
çõesestruturaisnaeconomia,comércio
enossoestilodevida.Ademais,onível
decoordenaçãointernacionalnecessá-
riopara implementaraçõesglobais, faz
doproblemaumdosmaioresdesafios
depolíticaexternadonosso tempo.
Por essas razões, enquanto o desa-
fio despertar apenas o interesse e
a preocupação dos ambientalistas,
não seremos capazes de promover
as mudanças necessárias capazes de
equilibrar natureza, desenvolvimento
econômico e justiça social. A busca
pelasustentabilidadeéocaminhopara
impedirmos tragédiasmuitosuperiores
aos impactos visíveis no âmbito am-
biental. O problema deve ser visto e
reconhecido nas esferasmais altas de
poder, como a da segurança nacional
einteressesestratégicos.Essaesferaestá
acostumadaalidarcomquestõesdeso-
brevivênciaedestruição,portantonada
maisnaturaldoqueosespecialistasno
assuntoarregaçaremasmangascontra
amaior força de destruição global de
todosos tempos.
HENI OZI CUKIER
Cientista Político, Consultor e Fundador da
CORE – Social Asset Management, empresa
da área de sustentabilidade.Mestre em Inter-
national Peace and Conflict Resolution pela
American University, emWashington D.C.
TrabalhounaONU,noConselhodeSegurança
eoutrasorganizaçõesamericanas. ÉProfessor
deRelações InternacionaisdaESPM.
ES
PM